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Você gosta de comprar ou é compulsivo? Responda o questionário e descubra

Segundo pesquisas, o problema atinge mais as mulheres: a proporção é de quatro para cada homem - Thinkstock
Segundo pesquisas, o problema atinge mais as mulheres: a proporção é de quatro para cada homem Imagem: Thinkstock

Chris Bueno

do UOL, em São Paulo

12/04/2013 07h00Atualizada em 02/05/2013 13h04

Você está caminhando no shopping center, vê uma camisa linda,  em cinco minutos ela já está na sua sacola. Na loja em frente, um par de sapatos chama sua atenção: pronto, mais um item comprado. Ao fim do passeio, você chega em casa com uma porção de pacotes recheados dos mais variados itens, sentindo um misto de prazer e culpa por ter gastado mais do que devia e ter comprado coisas que você nem sabe se vai usar. Se você se reconheceu nesta cena e este comportamento for frequente, cuidado: você pode ser um comprador compulsivo.

Um bom exemplo de alguém com este problema é a personagem Helô, a delegada interpretada pela atriz Giovanna Antonelli na novela “Salve Jorge”.  Ela chega até a esconder as compras em armários ou embaixo da cama, sem sequer olhar o que trouxe.

Comprar indiscriminadamente não é um ato tão inocente assim; pode até mesmo ser sinal de uma doença chamada oneomania, ou transtorno do comprar compulsivo. Pessoas que perdem o controle frequentemente e acabam até se endividando devido às compras podem sofrer desse problema.

“Alguns autores abordam o comprar compulsivo como um transtorno psicológico, comparável a outros quadros de dependência. Neste caso, a ansiedade desencadeada pela necessidade de compra só é saciada quando efetivamente a aquisição do objeto acontece, mas retorna, pouco tempo depois, acompanhada de sentimentos de vergonha e culpa”, explica Andressa Bellé, professora do Instituto de Psicologia da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos).

  • Divulgação/TV Globo

    Exemplo de alguém com este problema é Helô, a delegada interpretada pela atriz Giovanna Antonelli na novela “Salve Jorge”

A doença ainda é pouco conhecida no Brasil, mas já é bem estudada em outros países – especialmente nos Estados Unidos. Lá, aliás, a estimativa é de que 8% da população tenha o transtorno. No Brasil, o Instituto de Psicologia da USP é um dos mais atualizados no assunto, e publicou alguns estudos que estimam o percentual da população brasileira que sofre deste problema em cerca de 3%. Pode parecer pouco, mas quando se tem mais de 190 milhões de habitantes, esse número se torna bem preocupante.

Apesar de apenas recentemente ser tratado como uma doença, o comprar compulsivo já virou fofoca de celebridades e até um livro que acabou virando filme, “Delírios de consumo de Becky Bloom”, que conta a vida de uma compradora compulsiva que chega a dever mais de dez vezes o seu salário em faturas de cartões de crédito.

Exemplos como o da personagem Helô e de Becky Bloom podem parecer extremos, mas têm paralelos na vida real: Imelda Marcos, esposa do ditador filipino Ferdinando Marcos, chegou a acumular 3.000 sapatos; Jacqueline Kennedy-Onassis, ex-primeira-dama norte-americana, às vezes gastava US$ 50 mil em uma tarde de compras; e o cantor Michael Jackson esvaziava lojas inteiras.

Mas como saber o limite entre o comportamento "normal" e a compulsão? Especialistas garantem que cair em tentação de vez em quando é natural: o que diferencia os compulsivos é que isso acontece frequentemente com eles. “As compras compulsivas geralmente não envolvem uma avaliação mais criteriosa da necessidade do objeto adquirido. Assim, compulsivos costumam adquirir objetos que não irão usar, chegando a comprar, por exemplo, várias cores de um mesmo modelo de sapatos apenas porque não conseguiu controlar um impulso”, explica Bellé.

Vício

Para os compulsivos, a vontade de comprar chega a ser incontrolável: ele se sente impelido a comprar, especialmente se alguma coisa não está bem em sua vida. Se está com problemas no trabalho, brigou com o namorado ou a namorada ou simplesmente está se sentindo meio para baixo, fazer compras se  torna uma válvula de escape que fornece alívio e prazer, assim como o álcool ou as drogas.

Alguns especialistas chegam a apontar que o comportamento dos compradores compulsivos pode se assemelhar, mesmo, ao de usuários de droga ou álcool: o ato dá uma sensação de prazer e bem-estar na hora; depois vem a culpa e, mais tarde, a necessidade de voltar a comprar.

 “Comprar compulsivamente mostra que a pessoa tem uma dependência por adquirir coisas e isso tem um papel importante em sua vida. Porém, é um prazer momentâneo e depois vem o sentimento de culpa”, diz a psicóloga Daniela Carneiro.

Uma pessoa que realmente sofre com o transtorno de comprar compulsivo dificilmente consegue se controlar. Ela pode até dizer que vai ao shopping apenas “olhar as vitrines” – do mesmo modo que um alcoolista diz que vai à uma festa e não vai beber - mas sempre acaba voltando pra casa com uma sacola (ou várias).

Comprar compulsivamente pode parecer inofensivo, mas traz grandes prejuízos para quem tem o transtorno. Os primeiros problemas são os financeiros: os compulsivos acabam contraindo dívidas que chegam a até mesmo dez vezes sua renda mensal. Depois, podem surgir problemas emocionais, como sensação de culpa, e até sociais: alguns compradores compulsivos, quando são impossibilitados de comprar, chegam ao extremo de roubar em lojas, aplicar golpes, passar cheques sem fundo ou até mesmo pedir dinheiro emprestado para quitar suas dívidas.

“O ato, além de altos custos financeiros, gera prejuízos emocionais, que vão do sentimento de culpa ao comprometimento de relações conjugais, sobretudo quando envolve as finanças da família. Identificar esse limite é importante para a decisão de procurar ajuda psicológica”, alerta Bellé.

Perfil 

Segundo pesquisa do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso (AMJO), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a oneomania atinge mais as mulheres: a proporção é de quatro para cada homem com a doença. Os especialistas apontam que provavelmente isso acontece devido a uma questão cultural e não biológica.

Além disso, o comprar compulsivo também está associado a outros transtornos psicológicos. “Quadros de ansiedade, angústia e depressão na maioria das vezes são apresentados pelos compradores compulsivos”, diz Carneiro.

Mas, de acordo com Bellé, não é tão fácil assim identificar o perfil de quem compra compulsivamente. “Não podemos definir um perfil único para os compradores compulsivos, mas características que vulnerabilizam algumas pessoas a desenvolver um quadro psicopatológico. De forma geral toda sociedade precisa aprender que existem formas mais diretas e eficazes para compensar as angústias que não passam pela via do consumo”, afirma.

Tratamento

Os compradores compulsivos devem buscar ajuda para enfrentar o problema. O primeiro passo – e talvez o mais difícil – é se conscientizar de que há realmente um problema. O segundo é buscar auxílio. Além de consultas com psiquiatras ou psicólogos, o comprador compulsivo pode encontrar apoio em grupos de ajuda, que seguem o mesmo esquema dos Alcóolicos Anônimos (AA).

Um dos grupos mais conhecidos é o Devedores Anônimos, de São Paulo. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) tem o Programa de Atendimento de Compradores Patológicos, que também oferece apoio aos compulsivos. “A ajuda especializada vai ajudar a entender as causas mais profundas do problema e, dependendo do comprometimento, pode até prescrever medicamentos que ajudarão no tratamento”, diz Carneiro.

Mas também é altamente recomendável uma mudança de hábitos. Algumas dicas bem interessantes é comprar apenas com dinheiro ou cartão de débito, e esconder (ou mesmo destruir) os cartões de crédito; fazer uma lista e comprar só o que está nela; deixar para o dia seguinte quando se está em dúvida de adquirir ou não ou objeto; evitar situações que possam levar a um deslize, como lojas em promoção; e até mesmo levar um amigo não fanático por compras que possa ajudar a controlar o impulso. “A vida em sociedade expõe o tempo inteiro ao ato de comprar, ninguém ficará protegido disso, a não ser que aprenda a manejar esta dificuldade da melhor forma”, aponta Bellé.