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Alimentação como escape faz mal à saúde, faça o teste e veja se é seu caso

Quando o ser humano sente desprazer, tristeza, medo, ansiedade ou nervosismo, o organismo procura um mecanismo de recompensa para voltar a estar em harmonia - Getty Images
Quando o ser humano sente desprazer, tristeza, medo, ansiedade ou nervosismo, o organismo procura um mecanismo de recompensa para voltar a estar em harmonia Imagem: Getty Images

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

27/12/2013 07h00

De acordo com alguns especialistas, e isto não é nenhuma novidade, descontar as frustrações na alimentação é uma forma particular de lidar com o desequilíbrio emocional. Mas por que algumas pessoas são mais propensas a ter esse comportamento do que outras?

“Quando o ser humano sente desprazer, tristeza, medo, ansiedade ou nervosismo, o organismo procura um mecanismo de recompensa para voltar à harmonia. Uma dessas formas de ‘reparação’ é a compulsão alimentar”, explica o endocrinologista Felipe Henning Gaia Duarte, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM) e consultor do SalomãoZoppi Diagnósticos (SP).

Claro que tudo dependerá das questões individuais e da história de vida de cada um, a maneira como lida com o cotidiano e o ambiente em que está inserido.

“Temos que considerar, antes de tudo, a dinâmica de personalidade. É mais comum observarmos este tipo de comportamento em pessoas com um nível de ansiedade maior. Porém, é perigoso afirmar que todo ansioso tenderá a descontar seus problemas na comida, ou que todos os que vivem tal descontrole são ansiosos”, considera a psicanalista Cynthia Boscovitch, Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottianna (SBPW).

Forma de compensação

Se a ansiedade não é obrigatória nesses casos, não se pode negar que é bastante comum. Pela sua experiência em consultório, Duarte afirma que é uma das características mais presentes nos pacientes. “Quando analisamos o histórico com mais rigor, verificamos que, não raro, a família toda é ansiosa e conserva hábitos alimentares errados. Temos, então, que trabalhar tudo isso”.

De qualquer forma, quando está com os níveis de estresse aumentados, o organismo responde de alguma maneira – e, assim, aparecem alguns sinais, como descontrole alimentar, alteração da libido e modificações no padrão de sono. “Se o indivíduo, a cada desapontamento da vida, usar a comida como válvula de escape, pode ter problemas de saúde. Por isso, é importante estar atento e buscar ajuda necessária para que seja feito um diagnóstico correto e posterior tratamento”, indica Boscovitch.

Círculo vicioso

O risco maior, adverte o endocrinologista, é a obesidade. E, a reboque dela, uma série de outros problemas. “O excesso de peso afeta as articulações e a coluna, deflagra o processo de artrose e provoca desgaste nas juntas, fazendo com que o paciente tenha dores constantes. Na sequência, o organismo, caso apresente uma mínima predisposição, poderá sofrer com hipertensão, diabetes e excesso de gordura no sangue. Se a obesidade causar apneia do sono, virão cansaço crônico, falta de energia, desânimo e sonolência diurna. Por fim, a piora da autoestima abre espaço para episódios de depressão que, por sua vez, agravam a compulsão alimentar. Pode-se formar, aí, um círculo vicioso”, salienta Duarte.

Para a psicanalista, as alterações de saúde – ganho de peso, variações metabólicas, males cardíacos – são apenas parte do problema. “As questões psicológicas, por serem muito mais subjetivas, podem aparecer nas formas mais variadas possíveis. Comer para compensar a tristeza e a frustração nada mais é do que um sintoma relacionado a conteúdos que nem sempre o indivíduo tem consciência. Daí a necessidade de se buscar auxílio terapêutico”.

Em muitos casos, será preciso um acompanhamento multidisciplinar que reúna tratamento psicológico, supervisão nutricional e, às vezes, até medicamentos para se tratar o transtorno.