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Exemplo de vários erros: água parada, garrafas e pneus, ambiente propício para criadouros de mosquito - Thinkstock
Exemplo de vários erros: água parada, garrafas e pneus, ambiente propício para criadouros de mosquito Imagem: Thinkstock

Marina Kuzuyabu

Do UOL, em São Paulo

31/01/2014 07h00

O controle da dengue não depende apenas das autoridades públicas, mas da ação de toda a população. Isso se mostra ainda mais relevante nessa época do ano, quando o calor e a umidade – associados a um ciclo mais curto de reprodução do mosquito – favorecem o surgimento de surtos e epidemias por todo o país.  
 
O engajamento de todos é importante porque o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da doença, pode viver de 30 a 40 dias e, nesse período, contaminar por volta de 300 pessoas. Para que isso ocorra, basta que a fêmea do mosquito, que precisa de sangue para botar seus ovos, pique uma pessoa infectada.   

Estima-se que o inseto produza até 450 ovos durante a vida. Esses, como explica a infectologista Stefan Cunha Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, podem “sobreviver” por um ano à espera do contato com a água. Ou seja, mesmo que eles sejam depositados e permaneçam por um ano secos na parede de um vaso, por exemplo, ainda assim podem evoluir para um mosquito adulto depois de receber água da chuva.

O tempo de desenvolvimento até o estágio adulto é outra vantagem evolutiva: bastam sete dias e, ao final desse período, o mosquito já pode se acasalar. “A fêmea ainda pode voar por mais de um quilômetro em busca de coleções de água para a postura dos ovos”, informa o médico.

Exterminação dos criadouros

Como ainda não há vacina contra a dengue, o primeiro passo para combater a doença é cuidar da prevenção. A infectologista  Jane de Oliveira Teixeira, do Hospital Alvorada, conta que muitas pessoas recorrem a repelentes, inseticidas e até a receitas caseiras, sem eficácia comprovada, para matar o mosquito e, consequentemente, barrar sua multiplicação. Porém, o procedimento mais simples, que é a eliminação de todos os reservatórios de água parada, dentro e fora de casa, é esquecido pela população. 

Ela também chama a atenção para o cuidado com os terrenos baldios e para a atuação dos agentes de saúde, que devem ser autorizados a entrar nas casas para fazer as inspeções. “Nada pode ser feito sem ajuda da população”, alerta.

Todas essas medidas juntas podem conter a proliferação do Aedes aegypti. Sua erradicação, contudo, está descartada, segundo Ujvari. Além das características próprias do mosquito, o aumento populacional e a urbanização caótica das cidades tornaram a extinção do inseto impossível.

Como a dengue age  

Ao entrar na corrente sanguínea, graças à picada do mosquito infectado, o vírus se reproduz em alguns tecidos do corpo humano, como a medula óssea (porção do interior dos ossos), o fígado, o baço e os gânglios. A proliferação no interior dos ossos é a possível causa para as dores ósseas e articulares características da doença, segundo o infectologista do Oswaldo Cruz. Já as dores atrás dos olhos e as musculares são resultantes de um processo de inflamação muscular.

A febre e as dores também são efeitos colaterais das citocinas, substâncias produzidas quando doenças virais agudas atacam nosso corpo. “Elas provocam uma reação inflamatória que, se por um lado é necessária para cura, por outro, provoca os sintomas da doença”, afirma Teixeira.

A dengue clássica – uma das formas de apresentação do contágio – também pode causar fraqueza, náuseas, vômitos, diarreia, prurido e vermelhidão no corpo.  “É importante lembrar que podem e devem ser utilizadas medicações para alívio desses sintomas”, esclarece a médica.

No período inicial e em suas formas leves, a infecção pode ser confundida com a febre amarela, a rubéola e outras doenças virais. Como a febre amarela está erradicada em áreas urbanas, o paciente necessariamente precisa ter viajado para áreas onde há transmissão para ter suspeita da doença. No caso da rubéola, o indivíduo pode perceber um aumento dos gânglios, o que não acontece com a dengue.

O atendimento médico, portanto, é necessário.  “O médico irá avaliar a história do paciente, seus antecedentes médicos e vacinais, viagens recentes e possíveis contatos com pessoas doentes, além dos sinais de sintomas para diferenciar essas doenças”, fala Teixeira.

Complicações

A doença não traz graves problemas para o organismo, mas quando evolui para a versão hemorrágica ou quando o paciente desenvolve a Síndrome de Choque da Dengue, o quadro se agrava.

As complicações surgem de inflamações nas paredes dos vasos sanguíneos. “Grosso modo, essas paredes inflamadas criam porosidades que permitem o escape do líquido do sangue ao espaço de fora. Isso acarreta queda na pressão arterial, edemas em pulmão, dores abdominais, insuficiência dos rins, má oxigenação nos tecidos e, quando há rupturas dos vasos inflamados, hemorragias”, explica Ujvari.

O sangue, composto por água, plasma e células, torna-se concentrado em função do escape dos líquidos para fora dos vasos.  “Esse sangue concentrado é ineficiente em suas funções, tanto pela diminuição de volume quanto pela ineficiência em carregar os nutrientes e gases que precisamos para viver”, complementa Teixeira.

Os idosos e crianças pequenas apresentam maior risco de desenvolver as complicações da dengue, como choque (queda acentuada da pressão arterial) e hemorragias.  As gestantes também precisam de mais cuidados, pois a doença nesse grupo pode elevar os riscos de aborto, sangramentos gestacionais e prematuridade.