Topo

Médicos suspendem atendimento em protesto contra planos de saúde em SP

Banner da campanha da Associação Paulista de Medicina contra o abuso dos planos de saúde - Divulgação
Banner da campanha da Associação Paulista de Medicina contra o abuso dos planos de saúde Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

07/04/2014 06h00Atualizada em 07/04/2014 11h14

Os médicos do Estado de São Paulo suspendem a prestação de serviços a planos de saúde nesta segunda-feira (7), Dia Mundial da Saúde, porém, para eles, também o Dia Nacional de Protesto contra os Planos de Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Às 11h, em ato público na APM (Associação Paulista de Medicina), profissionais soltarão 1.000 balões brancos para simbolizar a esperança de mudanças positivas.

Já em "uma ação de cidadania", os médicos aproveitarão a suspensão do atendimento e promoverão campanha de doação sangue. Um dos postos de coleta funcionará das 9h às 14h na sede da AMP.  “Durante 365 dias os planos de saúde tiram o sangue dos médicos e metem a faca nos pacientes. Desta vez, doaremos nosso sangue por uma boa causa: para os nossos pacientes que são vítimas de toda sorte de abusos e negativas de cobertura de algumas operadoras”, diz Florisval Meinão, presidente da AMP.

Segundo ele, os profissionais irão interromper somente o atendimento às consultas eletivas, ou seja, de rotina: “Vamos manter o atendimento de urgência e as cirurgias, pois os pacientes seriam muito prejudicados e não queremos isso. O pronto atendimento também não irá parar”.

Meinão afirma que o objetivo da categoria é dar visibilidade ao protesto da classe médica e alertar a sociedade: “As pessoas pagam caro pelo plano de saúde e depois são tratadas mal e encontram obstáculos quando precisam utilizá-lo. Já nós, os médicos, também recebemos pouco deles também”.

Ele admite que a ANS tentou em alguns momentos disciplinar o setor, mas na prática, isso foi insuficiente: “Não há fiscalizações concretas e as medidas tomadas são muito frágeis”.

Segundo as entidades médicas, não há ideia de números em relação à adesão dos profissionais aos protestos.

Outra solicitação das entidades é por mais investimentos no Sistema Único de Saúde. “É absurdo um país do porte do Brasil ser um dos lanterninhas em destinação de recursos à saúde na América Latina”, afirma o ex-presidente e atual conselheiro do Cremesp, Renato Azevedo Júnior.

Publicidade

Já a campanha publicitária teve início no sábado (5), com inserção de peças na mídia impressa, em portais da internet, e em canais alternativos, como os vagões do Metrô. As mesmas peças serão disponibilizadas pelas entidades para veiculação nos consultórios, hospitais, clínicas e laboratórios.

Segundo a entidade, a campanha atual lembra a estratégia usada 15 anos atrás, quando do lançamento de outra campanha de alerta à população, então com o slogan “Tem Plano de Saúde que enfia e faca em você e tira o sangue dos médicos adequada e mais rápida possível a seus problemas’.

Fisioterapeutas e cirurgiões-dentistas também

Fisioterapeutas e cirurgiões-dentistas também manifestarão seu descontentamento em relação às operadoras junto com as entidades médicas. Nas duas áreas também há muitas reclamações de profissionais contra as interferências das empresas no cotidiano da assistência e a respeito dos baixos honorários.

As entidades afirmam que, para agravar o quadro, as empresas da saúde suplementar atacam o que há de mais sagrado para os médicos: a autonomia na relação com os pacientes.

Elas citam pesquisa de 2012, do Datafolha, que mostra que nove em cada dez profissionais reclamam de interferências dos planos no dia a dia dos consultórios.  “São pressões para reduzir exames e outros procedimentos, reduzir internações, acelerar altas, enfim, uma série de abusos prejudiciais ao correto exercício da medicina e aos pacientes”, afirma o presidente da APM.

Outros Estados

No Pará, está prevista a paralisação por um dia no atendimento ambulatorial, nas áreas pública e privada, mantendo-se apenas os atendimentos de urgência e emergência. Está previsto ainda um encontro no Sindicato dos Médicos para debate sobre a saúde pública e privada no estado.

Em Pernambuco, o Conselho Regional de Medicina oferece um café da manhã à imprensa, ocasião em que a categoria deve expor os planos de saúde que não adotam a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM).

No Rio de Janeiro, a categoria faz uma suspensão relâmpago de atendimentos. Foi anunciado ainda um ato público exigindo melhores condições de trabalho no SUS. No período do protesto, previsto para ocorrer na Cinelândia, haverá paralisação dos serviços eletivos, sendo mantidos os atendimentos de urgência, emergência e oncológicos.

No Acre, será promovido ato público em frente ao Palácio Rio Branco. A proposta é reunir os trabalhadores da saúde e a população em geral para mostrar aos governantes a necessidade de mais investimentos no SUS.

Em Minas Gerais, os médicos da rede pública e da saúde suplementar decidiram aderir ao movimento sem a paralisação de atendimentos. Nesta manhã, haverá eles fazem ato público em frente à Assembleia Legislativa e, na sequencia, uma audiência pública com parlamentares.

SUS
 
Para o setor público, os manifestantes vão pedir reajuste da Tabela SUS e a aprovação do Projeto de Lei de Iniciativa Popular Saúde+10, que determina a aplicação de 10% da receita bruta da União na saúde. Os médicos querem também a criação de uma carreira pública, nos moldes da carreira de juízes, na qual o profissional começa a trabalhar em cidades menores e, conforme evoluem na carreira, vão sendo transferidos para cidades maiores.

No caso da saúde suplementar, a reivindicação é pela recomposição da tabela de pagamento, o fim da intervenção das operadoras na autonomia profissional.

O lado das operadoras

As 31 operadoras de planos de saúde associadas à Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) informaram, por meio de nota, que estão preparadas para garantir o atendimento aos seus beneficiários de planos de saúde. Os dados demonstram que as operadoras valorizam a categoria médica, buscando constantemente recompor os honorários por consulta. Também afirmaram que  "no acumulado dos últimos cinco anos, o reajuste aplicado pelas associadas à FenaSaúde aos honorários foi de 50%, em média – muito acima da inflação do período, que foi de 31%".
 
O texto continua afirmando que os médicos também são remunerados por procedimentos realizados em consultórios e cirurgias. Outro levantamento, este da Federação Internacional de Planos de Saúde (IFHP), revela que a média de honorários médicos paga por consulta, no Brasil, segue a média mundial, sendo superior, inclusive, aos valores adotados em países como França, Espanha e Canadá.
 
"Diante das evidências de reconhecimento da categoria, é preciso, ainda, observar a situação sob a ótica da sustentabilidade. Aos custos com pagamento de honorários médicos somam-se, ainda, outros mais expressivos. Nos últimos cinco anos, as despesas das associadas da FenaSaúde com internações – onde se incorporam as novas tecnologias, órteses e próteses – cresceram mais de 200%. E os efeitos de toda e qualquer incorporação acabam por retornar ao próprio consumidor que, coletivamente, financia o sistema de plano de saúde por meio do pagamento das mensalidades", encerra a nota.

(Com Agência Brasil)