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Após peregrinação, jovem sofre aborto e fica 2 h ao lado do bebê morto

A adolescente ficou mais de duas horas ao lado do bebê morto, preso a ela pelo cordão umbilical - Arquivo pessoal
A adolescente ficou mais de duas horas ao lado do bebê morto, preso a ela pelo cordão umbilical Imagem: Arquivo pessoal

Fabiana Marchezi

Do UOL, em São Paulo

16/04/2014 15h03Atualizada em 16/04/2014 19h56

Uma adolescente de 16 anos sofreu um aborto espontâneo na noite desta terça-feira (15) após enfrentar uma peregrinação por quatro unidades médicas de Valinhos e Vinhedo, no interior de São Paulo. Grávida de cinco meses e com muitas dores, o calvário de Carla Thais Lopes dos Santos para encontrar socorro médico começou por volta das 14 horas e só terminou cerca de cinco horas depois, com o aborto do bebê, que se chamaria Nicolas Henrique.

Segundo a irmã da adolescente, Bruna Letícia Lopes, de 18 anos, a menor passou três vezes pelas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e pelas Santas Casas dos dois municípios até voltar para a UPA de Valinhos, onde sofreu o aborto. Mas, segundo a família, o descaso não terminou por aí.

Espera com bebê morto

A jovem ainda foi encaminhada novamente à Santa Casa de Valinhos e teve de esperar por mais de duas horas em uma maca, ao lado do bebê morto, que ainda estava preso a ela pelo cordão umbilical. A garota só foi atendida depois que a mãe dela chamou a polícia.

“Quando a polícia chegou, eles deram um jeito e foram atender rapidinho. Foi um absurdo, um descaso total. Minha irmã super abalada com a morte do bebê e ainda teve de ficar ao lado dele morto, ainda sujo do parto, esperando por mais de duas horas”, contou Bruna.

A irmã também relatou que o primeiro lugar em que Carla buscou socorro foi a UPA de Valinhos, onde, após uma espera de pelo menos 40 minutos, o médico teria afirmado que as dores seriam de uma infecção de urina e que ela deveria tratar o problema.

Entretanto, a adolescente já tratava a infecção urinária com um médico particular e insistiu que as dores deveriam ter relação com a gravidez, mas o médico negou. Insatisfeitas com o atendimento, a mãe e a irmã da adolescente seguiram com ela até a Santa Casa de Vinhedo para que ela fosse atendida por meio do convênio, mas quando chegou lá soube que não seria atendida porque o hospital não tem maternidade, tampouco obstetra. 

Depois disso, com medo de o bebê nascer no carro, Carla seguiu até a UPA em Vinhedo, onde também não havia ginecologista e nem obstetra de plantão. Foi então que ela teria sido levada de ambulância para a UPA de Valinhos, onde foi orientada a ir até o banheiro para vomitar. Mas quando ela chegou ao sanitário, o bebê foi expelido nas mãos da jovem, já sem vida.

A médica que estava no local teria dito “pode deixar ele cair na privada mesmo”, relatou Bruna. Depois disso, a jovem acabou encaminhada para a Santa Casa de Valinhos, onde até a chegada da polícia ficou m uma maca ao lado do filho morto. Ela continua internada e passa bem. O feto foi encaminhado para análise. “Se tivessem feito os exames e a internado desde o princípio eu acho que meu sobrinho não teria morrido. É muita negligência”, afirmou Bruna

Outro lado

A Secretaria de Saúde de Valinhos informou que instaurou uma sindicância para apurar os fatos relacionados ao atendimento prestado à adolescente na UPA.

Segundo a nota, a paciente deu entrada na unidade às 14h53 de terça-feira, sendo atendida por ginecologista de plantão, que realizou os procedimentos de avaliação necessários para uma gestante que não estava em trabalho de parto.

"Foi verificada a necessidade de se realizar exames de urina. Por razões ainda desconhecidas, a paciente decidiu deixar a Unidade, sem a conclusão do procedimento, considerado fundamental pelo profissional médico para avaliar o tratamento e, até mesmo, eventual transferência para hospital de referência, caso fosse constatada a necessidade de internação", explicou o comunicado.

Ainda segundo a nota, a jovem retornou à UPA de Valinhos somente à noite, enviada pela UPA de Vinhedo, procedimento incomum. "Mesmo assim, a UPA de Valinhos recebeu a paciente e reiniciou o atendimento. Em seguida, a jovem pediu para ir ao sanitário, onde teria ocorrido o aborto espontâneo".

A secretária da Saúde do município, Rita Longo, esclareceu ainda que já solicitou informações da Santa Casa, hospital de referência para onde a paciente foi encaminhada em uma ambulância do SUS. Transferência esta que teve a finalidade de assegurar a segurança e a estabilidade da paciente.

A secretária solicitou informações sobre o atendimento dispensado à paciente nas unidades de Saúde de Vinhedo. Informações consideradas importantes para auxiliar na apuração das circunstâncias deste lamentável episódio.