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Anticoncepcional masculino deve chegar ao mercado em 2017

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

22/04/2015 06h00

A Fundação Parsemus, dos Estados Unidos, deve lançar um método contraceptivo para ser utilizado por homens até 2017. O produto está em fase de testes. Segundo os cientistas, o remédio não tem contraindicações e não modifica a produção de hormônios masculinos.

O mecanismo desenvolvido pela empresa consiste na aplicação de um gel, chamado Vasalgel, nos vasos deferentes, que ficam nos testículos. O gel bloqueia a passagem dos espermatozoides, da mesma forma como aconteceria se o homem fizesse uma vasectomia. A diferença é que a situação pode ser revertida com a aplicação de uma injeção de bicarbonato de sódio no local. O medicamento, que pode funcionar por até por dez anos, tem custo estimado para a comercialização inferior a US$ 400 (cerca de R$ 1.500).

Até o momento, os testes mostraram que o produto é eficaz em animais, mas as experiências em seres humanos ainda não foram realizadas. A Fundação Parsemus é uma organização norte-americana sem fins lucrativos voltada ao desenvolvimento de medicamentos com baixo custo.

"O Vasalgel é uma ação prolongada, contraceptivo não hormonal semelhante à vasectomia, mas com uma vantagem significativa: é provável que seja mais reversível", afirma a Parsemus, em nota.

Segundo Elaine Lissner, diretora da ONG, a expectativa do produto é reduzir substancialmente o número de gestações não programadas. “Homens possuem, hoje, basicamente as mesmas opções anticoncepcionais que tinham há cem anos. Ou usam camisinha, ou fazem vasectomia, que é permanente. O Vasalgel trata-se de uma nova opção, reversível e acessível", afirmou.

Pesquisa

A pesquisa começou em 2010, depois que a Fundação Parsemus adquiriu os direitos sobre um medicamento chamado RISUG, desenvolvido e comercializado na Índia, há cerca de três décadas. Após pequenas modificações no contraceptivo, a empresa realizou teste bem-sucedidos em coelhos por 12 meses.

No ano passado, a Parsemus aplicou o produto em babuínos, que tiveram acesso irrestrito a 15 fêmeas para copular. Seis meses depois, nenhuma ficou grávida. Os experimentos em macacos continuam a ocorrer e, depois de finalizados, a intenção é testar o produto em humanos.

A Parsemus ressalta, no entanto, que, como a produção do contraceptivo não interessa às grandes indústrias farmacêuticas, as pesquisas dependem da doação de apoiadores. Perto de mil pessoas já doaram e mais de 23 mil assinaram uma lista de apoio à pesquisa, segundo a instituição.

Mudança

Segundo a socióloga Denusa Alcades da Unesp (Universidade Estadual Paulista), a chegada de um contraceptivo masculino ao mercado é importante para que haja uma divisão maior da responsabilidade entre homens e mulheres para evitar a concepção indesejada. "Ainda é comum dizerem que a mulher foi a responsável pela gravidez, que o homem não sabia. A responsabilidade cai toda sobre a mulher. Um método masculino ajuda a equilibrar essa situação, tira o peso que está só nas costas femininas", conta.

Já o psicólogo e sexólogo Daniel Denardi, a medida é importante também para os homens, já que, com isso, eles passam a depender apenas de si para evitar a concepção. "Muitos homens já crescem com a preocupação e a responsabilidade em só conceber um filho quando preparados e gostariam de também ter o poder de controlar esta situação. Com essa tecnologia, isso se torna possível, sem depender da mulher", disse.

Para Denardi, o medicamento poderá ajudar, também, homens que não se adaptam ao sexo com preservativo. "Além disso, há casos onde a mulher não pode utilizar contraceptivos hormonais. Em todos os casos, é uma excelente notícia", conclui.