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"Viagra feminino" abre nova era para tratar falta de libido das mulheres

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

19/08/2015 17h13


A agência que regulamenta os alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA - Food and Drugs Administration) aprovou a comercialização da substância flibanserina, chamado de "Viagra feminino”, na terça-feira (18). Produzido pelo grupo Sprout Pharmaceuticals, o medicamento é destinado às mulheres que estão na pré-menopausa e que sofrem de falta de desejo sexual. O medicamento deve ser vendido com o nome "Addyi".

Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex), ligado à USP (Universidade de São Paulo), o lançamento da droga no mercado é muito positivo e abre uma nova era no tratamento da falta de libido. “A chegada de um remédio específico para a disfunção sexual feminina abre uma nova era no tratamento, é mais um recurso para os médicos tratarem o problema”, explica. Entretanto, a prescrição do medicamento vai exigir uma maior capacidade dos médicos em distinguir o que causa o problema, já que vários fatores contribuem para a falta de desejo, como depressão e problemas conjugais. 

Um estudo recente do ProSex mostrou que metade das mulheres apresentam alguma dificuldade sexual persistente. O problema mais comum é a falta de desejo/excitação, que atinge entre 1/3 e 1/4 das mulheres. Em seguida, aparecem a dificuldade de atingir o orgasmo (26,2%), e a dor durante a relação sexual (17,8%).

Abdo ressaltou que para a mulher que tem um bom relacionamento com o parceiro, não está deprimida ou estressada e não sofre de alguma doença que possa interferir na libido, o medicamento chega em boa hora. “Até agora, não existia uma opção terapêutica específica para essas mulheres. A flibanserina chega com esse papel”, afirmou.

"Digo que estou com dor de cabeça"
 
Além disso, a chegada do remédio às farmácias deve deixar o assunto em evidência e as mulheres se sentirão mais à vontade para buscar ajuda. É o caso da bancária J., 35, que apesar de não sentir vontade de ir para a cama com o marido há algum tempo, ainda não levou o caso a um especialista. “Eu acho que a correria do dia a dia e o cuidado com os filhos estão em primeiro lugar. Não tenho nenhum problema de saúde, mas não sinto vontade há algum tempo”, relatou.
 
J. disse que quando o medicamento chegar ao Brasil com certeza vai procurar um médico para saber se ela pode tomá-lo. Enquanto isso, vai inventando desculpas: “Dor de cabeça, cansaço, muita coisa pra fazer. São as desculpas que dou para meu marido”, comentou.
 

"É preciso cautela"

Mas nem todos os médicos veem a chegada do “Viagra Feminino” ao mercado como positiva. “Ainda há muitas ressalvas em relação ao produto, é preciso cautela. Na prática, não é uma droga que vai resolver o problema da sexualidade feminina. Não existe uma pílula da felicidade. Ainda é muito cedo para avaliar os benefícios, inclusive porque ela é uma droga que tem vários efeitos colaterais”, ponderou o ginecologista Neucenir Gallani, diretor da Clínica Symco, em Campinas. Entre os efeitos colaterais estão náuseas, sonolência, queda da pressão arterial e desmaios.

O medicamento, na verdade, foi desenvolvido para ser um antidepressivo. A substância age nos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e serotonina. Durante os primeiros ensaios clínicos, foi detectado um efeito colateral interessante:  a melhora na libido - o que fez a indústria farmacêutica redirecionar o desenvolvimento do produto. Mais ou menos o que aconteceu com o Viagra, inicialmente criado para problemas cardíacos.

Mas a semelhança com a pílula azul dos homens termina aí. “Enquanto o Viagra só funciona para os homens com desejo sexual em dia, agindo na excitação, a flibanserina age provocando e melhorando o desejo da mulher, o que antecede a excitação.