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Eles não sentem frio! Entenda por que algumas pessoas não sofrem no inverno

Quer um casaquinho, dona Célia? - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Quer um casaquinho, dona Célia? Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

18/06/2016 06h00

Todos os dias, por volta das 7h, Célia Soares, 76, percorre os cerca de 300 metros entre sua casa e a padaria do bairro Sion, zona sul de Belo Horizonte (MG), para comprar pão. Invariavelmente, veste uma camiseta de malha, com manga curta. Nem na última terça-feira (14), quando a capital mineira registrou o dia mais frio dos últimos 16 anos e os termômetros marcaram 8,9ºC, ela decidiu colocar um casaco. 

Não tenho agasalho. Nenhum. Sou assim desde menina, nunca senti frio

Célia Soares, que acha que se acostumou com o frio por ter nascido em Caratinga (MG), onde faz muito frio.

"Durmo só com lençol, no máximo uma colcha de piquet (manta de algodão com desenhos em relevo). Nunca usei cobertor. No verão, que eu detesto, não uso nada para cobrir", conta.

marcelo - Carlos Eduardo Cherem/UOL - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Marcelo é desses que não sentem frio
Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL
Gerente de uma farmácia no bairro São Pedro, na zona sul de Belo Horizonte, Marcelo Rodrigues Costa, 48, também circulou nos últimos dias só de camiseta. Era 22h e ele caminhava sem agasalho. 

“Não sinto mesmo frio. Quando coloco alguma coisa, é no máximo uma blusa de malha. Nem para dormir eu uso cobertor", diz.

"Tem quase uns dez anos que não fico resfriado ou gripado."

Mas não precisa de casaco nem em frio recorde?

"Quando está muito exagerado, uso uma camiseta de malha debaixo da camisa. Mas é só", afirma o taxista Marcos Sebastião Lobos, 52, que nesta semana saiu todos os dias às 5h da manhã para trabalhar, sem agalho. Ele também dispensa o cobertor.

Terezinha - Carlos Eduardo Cherem/UOL - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Ana de Pádua: água quente nem no inverno
Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL
 "Eu sempre brigo nos dias de hidroginástica, falando que a água da piscina está muito quente", diz a professora aposentada Ana de Pádua, 67, que por volta das 6h45 da manhã de um dia de muito frio saiu a pé, usando só calça e camiseta, para ir à academia enfrentar a piscina de 30ºC.

"Não uso agasalho nem cobertor porque transpiro muito. Sinto muito calor", conta. "Desde menina, eu sou assim."

Segundo o meteorologista Luiz Ladeia, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), naquele dia de frio recorde a sensação térmica, que leva em conta a velocidade do vento, foi de -5ºC.

Então, como é que essas pessoas aguentam?

Nem todos os corpos liberam calor da mesma maneira, explica o especialista em fisiologia Samuel Penna Wanner, professor da Escola de Educação Física da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Marcos - Carlos Eduardo Cherem/UOL - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Marcos: no máximo uma camiseta de malha
Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL

Quando a perda de calor é menor, a pessoa sente menos frio e precisa se agasalhar menos. E isso depende da taxa metabólica de repouso, ou seja, do quanto se gasta de energia quando se está parado.

"O frio que a pessoa sente ou não está relacionado à quantidade de calor produzido internamente. Se a pessoa, mesmo parada, produz mais calor, ela vai sentir menos frio", resume Wanner.

Outro fator que amplia as taxas metabólicas de repouso é a ingestão de proteínas.

"Os esquimós são um bom exemplo disso. Eles têm de ingerir muita proteína --peixes, ovos, leite e, principalmente, carne-- para suportarem as baixas temperaturas", diz o professor.

Também contribuem a aclimatização (adaptação ao meio ambiente onde a pessoa vive), a altura e a idade.

"É claro que, se a pessoa mora num país tropical, ela vai sentir mais frio em baixas temperaturas", afirma. "Além disso, as pessoas mais altas sentem menos frio. Crianças sentem mais frio, porque são mais baixas. Já os idosos sentem mais frio, porque têm perda de massa muscular e conservam menos o calor."