Topo

Existe uma doença que explica namoro entre mãe e filho? Médicos respondem

Getty Images/Stockphoto
Imagem: Getty Images/Stockphoto

Maria Júlia Marques e Bia Souza

Do UOL, em São Paulo

13/08/2016 06h00

A notícia de mãe e filho que se apaixonaram e estão namorando no Novo México (EUA) causou estranheza pelo mundo e uma enxurrada de comentários reprovando o relacionamento nas redes sociais. Monica Mares, 36, não criou seu filho Caleb Peterson, 19, e, quando se conheceram, se apaixonaram. 

Em sua defesa, eles alegam que sofrem de uma condição chamada GSA (Atração Sexual Genética, em sigla em inglês) e que, por isso, o namoro deveria ser aceito. O termo é dado para atração sexual e intensos sentimentos amorosos entre parentes próximos que se encontram (ou reencontram após longo período) como adultos. Mas nem todo mundo considera essa uma alegação válida.

"Cada caso é um caso e deve ser analisado individualmente, o incesto é uma proibição que põe limites sociais e é difícil vê-lo de outra forma", afirma Maria Luísa Valente, do departamento de psicologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista). 

A genética explica?

Não há estudos científicos que comprovem que familiares são geneticamente ligados amorosamente ou que existam genes que podem determinar essa atração. A condição também não consta na lista de síndromes e doenças da Associação de Psiquiatria Americana, usada como base para determinar o que é e o que não é um transtorno psiquiátrico.

"Nunca foi pesquisado a fundo, não há provas de que se trata de que é genético. A biologia por si só não cria uma interação social de amor e carinho, é preciso contato psicológico e comportamental para as relações afetivas acontecerem", afirma Diego Tavares, psiquiatra do Programa de Transtornos Afetivos da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). Ele cita que existe um caso publicado por uma psiquiatra que se apaixonou pelo filho e cunhou o termo Atração Sexual Genética.

Cláudio Cohen, psiquiatra e coordenador do Cearas (Centro de Estudos e Atendimento Relativos ao Abuso Sexual), concorda. "Não se trata de genética, ou só nos interessaríamos por indivíduos da mesma família."

Para o psiquiatra da USP, é mais provável que a razão do relacionamento seja psicológica, e não genética.

O fato de a pessoa não conhecer o pai ou a mãe deixa um impacto psicológico. Durante toda a vida a pessoa pode imaginar como seria a relação, idealizar um parente perfeito, e quando o reencontro acontece por vontade mútua, os sentimentos são fortes e se misturam."

Diego Tavares, psiquiatra da USP

Essa repercussão psicológica é responsável por respostas intensas, que podem ser de raiva, ódio ou amor.

Grande parte da população sente repulsa ao ver um namoro entre mãe e filho, mas Tavares ressalta que nesses casos nem filhos nem pais viveram um com o outro a experiência do papel de parentesco. Aqueles que afirmam sofrer de GSA não têm um amor familiar estruturado por seus parceiros e acabam criando outro sentimento. Não podemos enquadra-los como doentes.

"Quando o pai e a filha se encontram após anos, eles não se veem como família. Ser mãe, pai ou irmão é um papel social, não biológico. Quando pensamos em mãe pensamos em quem educou, e não na progenitora. É como dizem: Mãe é quem cria", diz o psiquiatra.

Incesto é tabu social

A dificuldade em compreender os amantes acontece por o incesto ser socialmente inaceitável. “A proibição do incesto é o que permite que os humanos saiam do comportamento animal e entrem na cultura”, diz Cohen.

Para o médico, o incesto é um crime contra a família, provocando uma confusão de posições familiares. “Não existe estrutura familiar do ponto de vista biológico, mas existe a função de pai e mãe do ponto de vista social e emocional. Quando os papéis se invertem, as funções de carinho e proteção também ficam em desordem”, explica.

Apesar de gerar tanta polêmica, o casal entrou na Justiça para conseguir manter o relacionamento, já que no Novo México o incesto é crime. O casal pode ser condenado a um ano e meio de prisão e a pagar uma multa de cerca de R$ 15 mil por manter o relacionamento.

No Brasil não é permitido que os pais se casem legalmente com os filhos, mesmo com os adotivos. No entanto, se relacionar com um membro da família (pai, mãe, irmão), desde que ambos sejam maiores de idade, não é considerado crime.