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Aparelho de aeroporto aumenta em 40% cirurgias em hospital público do Rio

Software organiza agendamento de cirurgias em hospital da Barra da Tijuca - Divulgação/RioSaúde
Software organiza agendamento de cirurgias em hospital da Barra da Tijuca Imagem: Divulgação/RioSaúde

Cristiane Capuchinho

Do UOL, no Rio

24/12/2016 06h00

Realizar uma cirurgia em hospital público não é tarefa fácil. É preciso organizar uma fila de pacientes com necessidades e gravidades diferentes, horários de médicos e disponibilidade de sangue, sala e materiais cirúrgicos. Qualquer coisa que dê errado nesse processo leva ao cancelamento da operação e, claro, ao aumento no tempo de espera do paciente.

No Hospital Municipal Lourenço Jorge, na zona oeste do Rio de Janeiro, o uso de um software de aeroportos aumentou em 40% o número de cirurgias realizadas. A média era de 11,1 cirurgias ao dia até julho, agora, chega a 15,2 por dia, indica a RioSaúde, empresa pública responsável pelo projeto.

O software, conhecido como sequenciador, sistematiza diferentes tipos de informação (pacientes, médicos, materiais e salas disponíveis) e faz uma proposta com a melhor opção de agenda. O plano é recebido então pelos profissionais, em seus celulares, que dão o aval final.

A solução conseguiu reduzir o índice de cirurgias agendadas e canceladas na unidade de 15,1% para 10,1%.

Para chegar a esse novo modelo, pesquisadores da área de engenharia de produção da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) foram chamados a analisar o cotidiano do hospital e seus desafios para aumentar o número de atendimentos.

"Se eu tenho uma demanda maior que a minha capacidade de ofertar, preciso atuar no meu gargalo. Ali, o centro cirúrgico era o gargalo", explica Heitor Mansur Caulliraux, professor da UFRJ.

Uma das coisas revistas foi a divisão de uma sala de operação para cada tipo diferente de clínica (ortopedia, cardiologia...), o que deixava por vezes o centro cirúrgico com horas ociosas para um tipo de operação enquanto havia necessidade de outra cirurgia e faltava espaço.

"Uma das regras que o sequenciador adotou foi a de relaxar os blocos. Ou seja, se sobra espaço entre cirurgias de uma área, a sala vai ser liberada para outra clínica."

Problemas invisíveis

Caulliraux, que já trabalhou com análise e otimização de diversas unidades de saúde, afirma que problemas com pouca visibilidade atrapalham em muito a complexa rotina hospitalar. "São problemas que parecem absurdos, mas estão no sistema."

Como exemplo, ele cita a falta de organização de materiais, a inexistência de um sistema que exponha facilmente onde está o paciente dentro da unidade ou mesmo a necessidade de um profissional para conduzir a maca de uma área para outra do hospital.

"O maqueiro é um ponto crítico do sistema. Se o maqueiro não está lá para empurrar a maca do ambulatório para o centro cirúrgico, você atrasa todo o processo e isso aumenta a fila e desperdiça recursos", ilustra.