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Por que não precisamos mais fazer jejum de 12 horas para exame de sangue?

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Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

15/02/2017 04h00

O check-up anual costuma ser acompanhado pelo incômodo jejum para fazer a coleta de sangue. Os exames que exigem o maior tempo sem a ingestão de alimentos são os que dosam o nível de colesterol e triglicérides. Até o ano passado, era obrigatório o jejum de 12 horas. Contudo, no início deste ano, foi divulgado um novo consenso médico que flexibiliza o tempo sem comer.

O jejum era exigido para a realização de diversos exames porque a ingestão de alimentos altera o nível de substâncias que a análise pretende mensurar. Ao comermos, a quantidade de açúcar (glicose) e de gordura (lipídios) pode se alterar momentaneamente, por exemplo. 

Estudos recentes, no entanto, indicam que a concentração de gordura no sangue (perfil lipídico) varia pouco entre quem está e não está de jejum. Dessa forma, a ingestão de alimentos não influencia a avaliação do nível de colesterol e triglicérides que podem provocar um infarto ou um acidente vascular cerebral no futuro.

A partir disso, as sociedades brasileiras de Cardiologia, de Endocrinologia e de Patologia Clínica, entre outras, decidiram mudar a orientação sobre os exames de sangue.

Considerando os valores de normalidade, tanto uma condição [fazer jejum] quanto a outra [não fazer] permitem estabelecer o risco cardiovascular."

Nairo Sumita, assessor médico do laboratório Fleury

O médico Gustavo Campana, diretor de análises clínicas do Delboni Medicina Diagnóstica, explica que estudos já haviam demonstrado que o jejum é desnecessário para medir o colesterol.

"Isso porque a maior parte dele é produzida pelo corpo e pouco muda com a alimentação. Recentemente os estudos demonstraram esta vantagem também para os triglicérides”, afirma o médico.

Laboratórios já não pedem jejum 

Os laboratórios não são obrigados a seguir as orientações do novo consenso, cabendo a cada um decidir o que fazer, mas a maior parte dos laboratórios consultados já aderiu.

O Delboni, o Lavoisier e a Alta Excelência Diagnóstica, marcas da empresa Dasa, e o HCor não exigem mais o jejum para os exames de colesterol e de triglicérides desde o início de 2017. De acordo com os laboratórios, o jejum é necessário apenas quando indicado pelo médico.

Alguns laboratórios dizem estar se adaptando ao novo consenso. É o caso do Hermes Pardini, que diz estar em processo de adequação para a realização de exame de triglicérides.

Já o Fleury orienta como desejável a realização do jejum de 12 horas, prevalecendo a orientação do médico. O laboratório, contudo, realiza exames de colesterol e de triglicérides sem a necessidade de jejum quando ele não é indicado.

Os laboratórios informam que a realização ou não do jejum pelo paciente constará no laudo do exame.

Alguns centros de diagnósticos contatados pela reportagem alertaram sobre a importância de entrar em contato com o laboratório para verificar a orientação para cada exame e se certificar se o médico solicitante exige ou não o jejum de 12 horas. Já que o paciente poderá ter de pagar por novo exame se tiver de repeti-lo. 

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Estudos indicam que perfil lipídico varia pouco entre quem está e não está de jejum
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Vantagens de não fazer jejum

Manter a alimentação normal possui vantagens como evitar possíveis complicações relacionadas ao grande período sem ingestão de alimentos. Crianças, idosos e pessoas com diabetes que tomam insulina podem não resistir a 12 horas sem comer e passar mal - com uma crise de hipoglicemia, por exemplo.

De acordo com o novo consenso, como nós passamos a maior parte do dia alimentados, esse estado representa mais eficazmente o risco cardiovascular. 

As novas orientações podem ainda facilitar o agendamento de exames. "Hoje, grande parte do atendimento para a realização de exames ocorre no período da manhã. Com a flexibilização, a tendência é a de redução de filas e tempo de espera", diz Campana.

Fim do jejum de 12 horas para exames de sangue

Band News

Médicos podem exigir pausa de 12 horas

Caso o médico indique o jejum para o exame, a orientação deve ser seguida. "O jejum de 12 horas não foi extinto, algumas pessoas ainda necessitarão fazer [para realizarem a dosagem de lipídeos]. O que existe é a possibilidade de se flexibilizar", diz Nairo.

De acordo com o novo consenso, quando a solicitação médica não traz definido o tempo de jejum, o laudo do exame deve informar ao médico se o paciente estava de jejum ou não e por quanto tempo. Isso permite que o perfil lipídico seja avaliado juntamente com o estado metabólico do paciente. 

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Nível alto de colesterol e triglicérides trazem riscos cardiovasculares, como infarto
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Quando o jejum de 12 horas é necessário?

O jejum de 12 horas deverá ser feito sempre que o médico orientar que ele seja feito. Além disso, o novo consenso estabelece que uma nova medição, a ser feita com jejum prolongado, é necessária quando o nível de triglicérides fora do estado de jejum estiver acima de 440 mg/dL --nível considerado limite para se determinar o risco cardiovascular.

Caso o exame de sangue do paciente apresente níveis de colesterol e triglicérides acima do desejável e ele tenha realizado a coleta sem estar em jejum, existe a possibilidade do resultado ter sido influenciado pela ingestão de calorias. O médico poderá avaliar se novo exame, dessa vez feito com jejum de 12 horas, é necessário.

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Ingestão de álcool e mudanças na quantidade e qualidade da alimentação podem alterar resultado do exame de perfil lipídico
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Quais exames ainda requerem o jejum obrigatoriamente?

O exame que obrigatoriamente requer o jejum mais prolongado passou a ser o de glicose, usado no diagnóstico de diabetes. Para realizá-lo, o paciente deve ficar sem ingerir alimentos por 8 horas. A grande maioria dos outros exames requer jejum entre três e quatro horas.

Ainda assim, segundo Campana, surgiram ao longo dos anos novos exames que permitem o diagnóstico e controle do diabetes, tornando a dosagem de glicose com jejum de 8 horas um exame com indicação mais restrita.