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Cansou de tomar hormônios? Conheça métodos alternativos à pílula

Carina Heigl, parou de tomar hormônios om medo do risco de câncer de mama - Arquivo pessoal
Carina Heigl, parou de tomar hormônios om medo do risco de câncer de mama Imagem: Arquivo pessoal

Marcelle Souza

Colaboração para o UOL

13/03/2017 04h00

Depois de dez anos usando pílulas anticoncepcionais, a estudante de doutorado da UFRJ Carina Heigl, 26, decidiu em setembro do ano passado deixar os hormônios de lado.

“Em 2012, minha mãe descobriu câncer de mama, e minha tia também teve dois anos antes. Nunca dei muita atenção a esse histórico e à relação com o anticoncepcional até que, no início de 2016, minha mãe começou a me pentelhar. Ela estava indo em uma ginecologista mais alternativa, que disse que eu não podia usar hormônios por conta do meu histórico familiar”, diz a pesquisadora em microbiologia.

Apesar de não haver consenso entre os pesquisadores sobre o aumento do risco de câncer de mama para mulheres que usam pílulas hormonais, Carina resolveu não arriscar e pensou que essa seria uma boa oportunidade para conhecer melhor o seu corpo, submetido aos hormônios desde os 16 anos.

O caminho escolhido pela Carina é o mesmo de um número cada vez maior de mulheres. O debate sobre métodos de contracepção sem hormônios, como camisinha, diafragma e DIU de cobre, voltou aos consultórios médicos e aumenta nas redes sociais. Todos esses métodos estão disponíveis na rede pública de saúde.

Antes da decisão, Carina passou pelo menos dois meses pesquisando em sites especializados e grupos no Facebook, consultou amigas e teve uma boa conversa com a sua ginecologista. Optou por substituir a pílula pela camisinha e, depois, decidiu colocar o DIU (dispositivo intrauterino) de cobre.

Com o DIU, estou sofrendo com as cólicas, coisas que não tinha. Mas, de um modo geral, estou adorando. Perdi uns quilos e fiquei muito mais disposta. A libido também voltou”

Carina conta, no entanto, que também teve alterações na pele, que ficou mais oleosa. "Mas espinhas só aparecem quando estou para menstruar.”

A médica ginecologista e obstetra Halana Faria, que atende no Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, recomenda cuidado no período de troca e uso integrado de mais de um método durante o período de adaptação.

“Quando uma mulher decide ‘largar a pílula’ ela deveria saber que o risco de engravidar na troca de método é grande. Por isso, é importante estar bem adaptada a um novo método antes de trocá-lo. Isso é muito importante em um país onde uma interrupção de gestação indesejada pode colocar em risco a vida de uma mulher”, diz.

Enquanto não se adapta ao diafragma, por exemplo, é indicado o uso de camisinha. Após a colocação do DIU de cobre, é preciso um tempo até que se tenha certeza de que ele está bem colocado.

Diu de cobre - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
O DIU de cobre deve ser colocado por um ginecologista e tem baixa taxa de falha
Imagem: Getty Images/iStockphoto

O DIU de cobre impede espermatozoides

Entre os métodos que não contém hormônios, o DIU de cobre, escolhido por Carina, é um dos mais indicados por ser de longa duração (após inserido pelo médico pode permanecer até dez anos no útero) e ter baixa taxa de falha (entre 0,3% e 0,6%). Os métodos hormonais, como pílula, anel vaginal e adesivos, têm índices que variam entre 0,3% e 3%.

O DIU é um método muito eficaz e não tem restrição de idade. De modo geral, pode ser usado por adolescentes ou mulheres, mesmo as que que não tiveram filhos.”

Rogério Bonassi, ginecologista

dispositivo custa cerca de R$ 150 e deve ser inserido por um médico. O DIU causa uma inflamação no útero, impedindo que o espermatozoide encontre o óvulo. Ele aumenta o fluxo menstrual e as cólicas, mas possibilita que a mulher continue ovulando — o que não acontece com quem usa pílulas anticoncepcionais.

Diaframa, método contraceptivo - Getty Images - Getty Images
Médicos indicam o uso do diafragma com espermicida para aumentar sua eficácia
Imagem: Getty Images

Diafragma cria barreira

O médico Rogério Bonassi, presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), recomenda que as mulheres procurem um ginecologista para escolher o melhor método.  Mas uma relações públicas de 23 anos que preferiu não se identificar diz que teve que pesquisar sozinha as alternativas não hormonais de contracepção. “Nenhum médico jamais me mostrou outro método a não ser hormonal”, diz ela, que no último ano diz ter consultado pelo menos quatro ginecologistas.

No seu caso, o alerta acendeu quando ela teve uma grave crise de enxaqueca, episódio em que sentiu taquicardia e sensação de desmaio. 

“Após o meu relato e lendo os comentários das meninas [em grupos de Facebook], vi que outros sintomas que vinha sentido dois meses antes da crise também estavam relacionados: muita dor e formigamento nas pernas, cansaço, taquicardia, dor de cabeça, moleza, falta de libido”, diz.

A jovem optou então pela camisinha, que pretende usar associada ao diafragma.

diafragma funciona como uma barreira mecânica, que cobre o colo do útero e impede a passagem dos espermatozoides. Ele deve ser colocado antes da relação sexual e não pode ser retirado por no mínimo seis horas após a última ejaculação. Os médicos também recomendam que ele seja utilizado com espermicida, para aumentar a eficácia.

“Esse método é recomendado para mulheres que estejam disponíveis e conscientes dos cuidados exigidos para seu uso”, afirma Faria. 

Sua taxa de falha varia de 2% a 16%, sendo que a menor porcentagem leva em conta o uso perfeito do método. Antes de comprar o diafragma, que custa cerca de R$ 150, é preciso consultar um médico para realizar a medição do colo do útero.

Camisinha contra DSTs

Bem mais conhecido do que o diafragma, o preservativo é o único método que também previne contra as doenças sexualmente transmissíveis. “A camisinha é a base da prevenção e deve ser usada sempre”, afirma Bonassi.

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Imagem: iStock

Quando utilizados corretamente, os preservativos têm baixo índice de falha: 0,4 a 1,6% para os masculinos e 5% para os femininos. Nos dois casos, diz o médico, os problemas mais comuns estão ligados ao manuseio incorreto do produto. “É importante colocar a camisinha antes da penetração, porque fluído que sai antes da ejaculação pode conter espermatozoides”, diz o médico da Febrasgo.

Além dos métodos listados até aqui, que são reversíveis, há os definitivos, indicados para homens e mulheres que não desejam ter filhos: a laqueadura tubária e a vasectomia.

No Brasil, a lei 9.263 define que só podem realizar o procedimento pessoas que com mais de 25 anos ou, pelo menos, dois filhos vivos. 

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Imagem: Reprodução/365nus

Estudando o próprio corpo

Há ainda os métodos de percepção da fertilidade, baseados na interpretação diária de sinais do corpo da mulher durante o ciclo menstrual. Entre os mais conhecidos estão o sintotermal, que associa observação da temperatura basal, das mudanças no muco cervical e da altura do colo uterino; e o método Billings, quando a mulher acompanha variações do muco cervical.

Segundo Faria, esses métodos são diferentes da popular “tabelinha”, que não leva em conta que o período fértil pode variar de um ciclo para o outro. “A tabelinha considera que as mulheres ovulam na metade do ciclo menstrual, o que não é verdade. O ciclo menstrual tem duas fases: uma antes da ovulação e uma depois da ovulação (fase lútea). As mulheres têm fases lúteas de 12 a 16 dias.”

Esses métodos exigem estudo para a correta análise dos sinais e registro diário das mudanças corporais, além de pregarem a abstinência ou uso de outros métodos no período fértil. No sintotermal, por exemplo, é preciso medir a temperatura em repouso todos os dias no mesmo horário. É necessário também descobrir as mudanças de quantidade e viscosidade do muco vaginal ao longo do ciclo. Quando realizado corretamente, sua taxa de falha varia entre 0,6% e 1,8%.