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Não é só o cérebro. Veja como o estresse afeta do estômago aos dentes

Foto da atriz Demi Moore, sem um dos dentes - Reprodução
Foto da atriz Demi Moore, sem um dos dentes Imagem: Reprodução

Paula Moura*

Colaboração para o UOL

14/06/2017 08h44

Em entrevista ao programa de Jimmy Fallon, a atriz Demi Moore contou que perdeu dois dentes por sofrer de estresse. Um estudo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mostra que o caso é recorrente, pessoas estressadas têm mais chance de desenvolver doenças periodontais, que atingem os tecidos de fixação dos dentes. 

E não é apenas na boca que o estresse causa sintomas físicos. Há efeitos nos músculos, na cabeça e no sono, além da ansiedade e outras questões comportamentais.

Uma pesquisa recente nos Estados Unidos conduzida pela Universidade de Harvard mostrou que 44% dos adultos empregados afirmam que seu trabalho afeta sua saúde. No Brasil, A International Stress Management Association (ISMA-BR) realizou uma pesquisa com profissionais as áreas de finanças, indústria e saúde de São Paulo e Porto Alegre e revelou que 69% dos participantes disseram que o estresse no trabalho era a maior fonte estressora, afetando qualidade de vida e saúde.

Nessa pesquisa, 89% dos entrevistados responderam ter sintomas físicos de dores musculares, incluindo dor de cabeça, enquanto 72% relatam cansaço e 39% distúrbios do sono.

Os sintomas não param no físico, eles também atingem a saúde emocional: 86% sentem ansiedade, 81%, angústia e 68% apresentam irritação. Entre os sintomas comportamentais, 59% dos entrevistados relataram que usavam álcool ou algum tipo de droga (remédios prescritos, indicados por amigos ou drogas como cocaína e maconha).

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“É como se a pessoa estivesse num nível de pressão tão intolerável que ela precisa se anestesiar um pouco”, explica Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-

Mas o que é exatamente o estresse?

A palavra que se tornou tão comum nos dias atuais ganhou vários significados. “Tem sido confundido com emoções, a pessoa em vez de dizer 'estou brava', 'frustrada', diz 'estou estressada'", comenta a psicóloga.

Ela explica que o estresse não é uma emoção, mas sim qualquer adaptação requerida da pessoa. Por isso, pode ser tanto positiva (quando um desafio estimula) quanto negativa (quando se entende que há ameaça). “O julgamento se o estresse é positivo ou negativo é feito de acordo com nossas experiências”, ressalta.

Se no passado a causa do estresse era a luta de vida ou morte contra animais, hoje os fatores estressantes vão desde expectativas frustradas na família, demandas que consideramos injustas no trabalho, pressão pré-vestibular a assaltos e outros tipos de violência que levam ao estresse traumático. 

A grande diferença é que antigamente nós gastávamos os hormônios na luta contra a fera, e hoje acabamos tendo uma enorme descarga de adrenalina e terminam sentando na sua mesa de trabalho e essa descarga hormonal fica se perpetuando pela corrente.”

Os hormônios do estresse

O principal hormônio que fica no sangue é a adrenalina. Já sabemos que ela pode nos ajudar na motivação, mas o excesso pode deixar sequelas no corpo, assim como o cortisol, outro hormônio liberado pelo corpo para enfrentar situações interpretadas como de perigo. Este último, se é produzido com frequência ou é muito duradouro, pode afetar o sistema imunológico.

Ou seja, o nível de tensão muscular tende a aumentar, a respiração fica mais rápida e superficial, as artérias podem se contrair, algumas pessoas sentem mãos e pés mais frios e suados, a atividade cerebral aumenta, a frequência cardíaca também.

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Esses são os sinais de estresse, o primeiro passo quando acontece uma situação que requere adaptação. Eles são importantes porque ajudam a pessoa a lidar com a situação.

No entanto, se os sinais se mantêm por períodos prolongados, a pessoa pode desenvolver sintomas. “Se a situação causadora de estresse continua e a pessoa não tiver recursos eficientes para lidar, a gente chama de estresse crônico ou doença”, explica Ana Maria.

“Se a gente começa um dia dizendo não lembro a última vez que não tive dor de cabeça, não lembro a última vez que dormi bem, as reações já se tornaram permanentes”, diz.

Efeitos no corpo

O estresse age de sobre todo o corpo, no entanto, algumas áreas são mais vulneráveis aos efeitos da tensão prolongada por muito tempo. 

Cérebro: recebe doses mais altas de substâncias químicas excitatórias. Assim a atividade cerebral aumenta e as pupilas se dilatam para melhorar a visão. 

No entanto, em grandes doses de estresse, a pressão arterial aumenta e pode ocorrer AVC e aneurismas.

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Coração: os batimentos cardíacos aumentam e a pressão arterial sobe

O estresse contínuo causa grandes descargas de adrenalina, que aumentam a coagulação do sangue e contraem os vasos cardíacos. Com isso, cresce a chance de um infarto. 

Aparelho gástrico: o estresse muda o nível de acidez do estômago. Em altas doses, isso significa azia, má digestão, gastrite e até a formação de uma úlcera. 

Músculos: recebem mais sangue e oxigênio e se contraem para melhorar a performance. Contudo, a tensão constante causa dores, principalmente no pescoço, costas e ombros, e um cansaço exagerado.

Boca: Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mostrou que pessoas estressadas têm mais chance de desenvolver doenças periodontais, que atingem os tecidos ao redor dos dentes, responsável por sua fixação. Essas doenças podem causar destruição do tecido ósseo e levar à perda dos dentes. 

O que fazer?

A psicóloga ressalta que cada pessoa tem seu limite de tolerância para o estresse. “Toda vez que passarmos esses limites por períodos frequentes ou prolongados certamente haverá uma sequela”, diz. Um caso frequente de não respeitar os limites é quando o trabalho está sendo prejudicial, mas a pessoa continua para não quer abrir mão do status ou do salário, exemplifica Ana Maria.

Um estilo de vida saudável também ajuda a melhor com as situações.“Não quer dizer que não vai estressar, mas tende a reagir melhor ao estresse”, comenta a psicóloga.

* Com informações da Agência Fapesp