Além da gengivite: feridas na boca podem ser sinal de doenças no corpo
Sabe aquela ferida na boca que não cicatriza de jeito nenhum? É melhor tomar cuidado. Pode ser que este machucado incurável seja mais perigoso que uma simples gengivite e indique uma doença mais grave.
Isso porque muitas doenças sistêmicas, que envolvem vários órgãos, podem dar seus primeiros sinais na boca. O sangramento excessivo da gengiva, sem placas e tártaro, é um sinal clássico de doença sistêmica.
Marcio Lopes, professor de semiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que existem alguns grandes grupos de doenças que se manifestam na boca: doenças autoimunes, decorrentes de alterações no sangue e tumores.
Sangramentos
Um grupo de doenças com impacto na boca é decorrente de alterações no sangue. Doenças que causam redução nas plaquetas do sangue, células associadas à coagulação, também podem proporcionar um maior risco de sangramento na gengiva, como a hepatite.
A anemia, que faz com que a língua perca as papilas gustativas, deixando-a com um aspecto "careca" --lisa e brilhante--, é outra doença que pode ser diagnosticada por manifestações na boca.
Já o refluxo gastroesofágico pode ser diagnosticado pelo desgaste do esmalte da face interna dos dentes, ocasionado pelo retorno do ácido do estômago à boca.
O diagnóstico inicial da leucemia, um tipo de câncer que se origina na medula óssea, pode começar pela boca. “Quando falamos em sangramento em gengiva, com alguma lesão importante, e sem a presença de placas, em um primeiro momento pensamos em leucemia. Quando há um sangramento espontâneo na gengiva, ou quando sangra muito na extração de um dente de leite, tem que se pensar nessa possibilidade. E aí tem que fazer um exame de sangue”, diz Lopes.
Não deixe para depois
“O responsável pelo diagnóstico é o dentista, e dentro da especialidade da odontologia, quem faz o diagnóstico é o estomatologista. Se o indivíduo tem alguma alteração, uma mancha, uma bolha, uma ferida, que não cicatriza em duas semanas, tem que procurar um especialista em diagnóstico, que é o estomatologista”, diz Lopes.
Professor titular da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Unesp (Universidade Estadual Paulista), o estomatologista Glauco Miyahara aponta que cerca de 70% dos pacientes que procuram tratamento para câncer de boca no Centro de Oncologia Bucal da Unesp “já chegam com um estágio evoluído da doença”.
“Eles já chegam com essa ferida há meses e isto é ruim porque o tratamento é mais caro e mais demorado”, diz Miyahara. “O ideal é que depois de 15 dias, procure um dentista, que vai encaminhar para um estomatologista. Se o tratamento tiver início prontamente, a chance de sobrevida é grande”.
O câncer de boca é um exemplo de tumor primário que se manifesta na cavidade bucal do indivíduo. Marcio Lopes afirma, porém, que existem outros casos em que o tumor se manifesta na boca após metástases, quando a doença se espalha pelo corpo. E nesses casos, um exame realizado a partir de um tumor visível pode apontar a presença de outro, oculto.
Lopes lembra que o câncer de mama, de colo de útero e de fígado podem dar metástase na mandíbula. E muitas vezes, é por conta deste tumor secundário que o tumor primário é descoberto.
Doenças autoimunes
Entre as doenças autoimunes cujas manifestações se dão na boca, Lopes cita o lúpus eritematoso (manchas brancas e avermelhadas) e o líquen plano (manchas e pequenas lesões).
No caso do lúpus eritematoso, quando ele é sistêmico, outras áreas do corpo, como rins, pulmões, articulações e cérebro, também podem ser afetadas --o indivíduo que tem lúpus eritematoso cutâneo, porém, tem apenas a pele afetada.
O líquen plano, por sua vez, faz com que apareçam, além de feridas na boca, caroços achatados e arroxeados na pele.
Lopes explica que "nestas doenças autoimunes, o corpo reconhece como estranho e ataca algumas proteínas que estão na pele e na boca”, gerando estas lesões.
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