Bebê quase perde o olho, mas supera câncer raro com quimioterapia
O pequeno Henzo Gabriel Mariano Silva tinha acabado de completar um ano de idade quando recebeu o diagnóstico de um raro tumor ocular. Por conta do retinoblastoma, chegou bem perto de perder o olho esquerdo. A dois dias da cirurgia de retirada do órgão, os pais souberam da possibilidade de um tratamento e conseguiram manter o olho do filho.
O retinoblastoma é um câncer maligno que se desenvolve na retina, e é mais comum na primeira infância. A cada 14 mil crianças, uma pode ter a doença.
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 400 crianças por ano no Brasil são diagnosticadas com o tumor, que pode ser congênito ou manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Estima-se que 40% dos casos sejam hereditários.
"Já tinha notado a coloração diferente no olho dele sempre que batia o reflexo de uma luz, mas nunca achei que fosse algo grave. Até que minhas tias sugeriram que procurasse um médico", conta Jessica Karla Silva, 25, mãe do Henzo.
A paulistana marcou para o filho uma consulta com o oftalmologista. A situação do pequeno era grave e a recomendação foi procurar o quanto antes um oncologista infantil.
"Fiquei boquiaberta quando o médico disse que ele não enxergava com o olho esquerdo. Ele fazia tudo normalmente", afirma a mãe, que disse que a "palavra carrega o peso da morte."
A confirmação veio atrelada à retirada do olho como solução para o tumor. Com medo de o convênio recém-contratado não aprovasse a cirurgia, decidiu ir atrás de uma segunda opção.
Já com a cirurgia marcada, a mãe entrou em contato com a Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer), e soube da existência de um tratamento.
Há pelo menos 5 anos a quimioterapia intra-arterial é oferecida em hospitais de referência --tais como o Inca e o Tucca. Desde então, segundo o Ministério da Saúde, a preservação do olho das crianças com o câncer passou de 20% para 80%.
Ele é apenas um bebê. Tinha que tomar uma decisão e apostei todas as minhas fichas em uma alternativa que pudesse fazer meu filho voltar a enxergar um dia."
Tratamento bem-sucedido, mas muitos sustos
Henzo foi submetido a uma quimioterapia intra-arterial. "Uma técnica bem menos invasiva, que permite a administração de doses menores dos medicamentos", explica Sidnei Epelman, oncologista pediatra e presidente da Tucca.
Ainda que os efeitos colaterais desse tipo de quimioterapia sejam menores, Henzo e sua família passaram por alguns sustos durante os seis meses de tratamento. A primeira sessão foi a mais tensa. Durante o procedimento, o pequeno teve problemas respiratórios.
Uma pneumonia prolongou sua estadia no hospital. Entre idas e vindas Henzo passou 32 dias internado nessa primeira fase.
Como conta Jéssica, as outras três aplicações foram mais tranquilas, apenas com a perda do cabelo, e um pouco de enjoo.
"Não dá para dizer que ele está 100% recuperado, porque o acompanhamento terá que ser contínuo. Mas até agora não há indícios de que o câncer esteja voltando", conta a mãe, que também comemora a recuperação de 0,3 a 0,7% da visão do olho atingido pelo câncer.
Diagnóstico precoce
Atualmente, cerca de 50% dos casos diagnosticados no país são identificados tardiamente, o que reduz as chances de tratamento e cura do tumor. "É essencial detectar o quanto antes a doença, não só para que o câncer seja curado, mas também para preservar o olho e a visão da criança", ressalta Epelman.
"Num passado não tão distante assim a retirada do olho era a única solução para as crianças com retinoblastoma. Hoje, no entanto, 72% dos pacientes que nos procuraram conseguem curar o câncer sem ter que tirar o olho e, consequentemente, com algum tipo de visão", acrescenta o oncologista, que diz que a cirurgia de remoção só é adotada em casos em que o tumor já está muito avançado.
O principal sintoma do retinoblastoma é a leucocoria --presente em 90% dos casos diagnosticados--, que é caracterizada por um reflexo branco na pupila, conhecido como "olho de gato". Essa mancha esbranquiçada geralmente só é notado sob luz artificial, quando a pupila está dilatada, ou em fotos, quando o flash bate sobre os olhos.
Mas, como explica Epelman, o aparecimento dessas manchas já é um sinal de que a doença está em estágio avançado, o que minimiza as chances de o olho da criança ser salvo. Portanto, o especialista aponta a sensibilidade à luz (fotofobia) e o desvio ocular (estrabismo) como sinais de alerta. "É extremamente importante que, ao perceberem qualquer anormalidade nos olhos do filho, os pais procurem um médico o quanto antes."
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