Topo

Morar na cidade afeta sua saúde (para pior); veja como evitar problemas

Pesquisa em SP mostra que 10% da população teve episódios de ansiedade ou depressão nos últimos 12 meses - Moacyr Lopes Junior/Folhapress/Folhapress
Pesquisa em SP mostra que 10% da população teve episódios de ansiedade ou depressão nos últimos 12 meses Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress/Folhapress

Ana Carolina Nunes

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/11/2017 04h00

A maioria da população mundial vive em cidades. A informação estatística não é banal e atinge a saúde de bilhões de pessoas, já que muitas doenças são causadas ou agravadas pelas condições da vida urbana. 

“O processo de urbanização desorganizado e não planejado pode influenciar na propagação de doenças infecciosas”, afirma Aluísio Augusto Cotrim Segurado, professor de moléstias infecciosas, da Faculdade de Medicina da USP.

Muitas pessoas confinadas, em lugares como escritórios, ônibus ou escolas, facilitam a transmissão de viroses, entre elas a gripe. A poluição do ar causada pelo uso intenso de veículos movidos a combustíveis fósseis, além de hábitos como o cigarro, afeta não só os pulmões --tem causado nascimento de bebês menores, e cânceres

Com milhões de pessoas morando juntas, nem sempre com adequada coleta de lixo e saneamento básico, temos lugares propícios para o mosquito Aedes aegypti, e com ele uma coleção de doenças: dengue, zika, chickungunya e febre amarela.

E não é só isso, o estresse das cidades e as rotinas exaustivas contribuem para menos exercícios físicos e mais comidas industrializadas: aumento de diabetes, hipertensão e depressão

A boa notícia é que doenças infecciosas sérias e comuns foram controladas e até eliminadas com o desenvolvimento das vacinas. Além disso, há formas de tentar reduzir o impacto da vida na cidade e se manter saudável.

Cerca de nove milhões de mortes anuais podem ser atribuídas a doenças causadas pela contaminação do ar e da água - Edilson Dantas/Folhapress - Edilson Dantas/Folhapress
Cerca de 12 milhões de mortes anuais podem ser atribuídas a doenças causadas pela contaminação do ar e da água
Imagem: Edilson Dantas/Folhapress

Poluição e doenças

Os veículos, e seus combustíveis fósseis, são as grandes fontes de poluição do ar nas grandes cidades, principalmente em momentos mais secos do ano. 

“As descobertas mais recentes apontam para menor peso de recém-nascidos em áreas mais poluídas, alguns tipos de câncer, mas ainda é muito complexo”, explica Helena Ribeiro, professora do departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP.

A Organização Mundial de Saúde estima que 12 milhões de pessoas morrem de doenças associadas a problemas ambientes no mundo anualmente, seja por contaminação do ar, do solo ou da água.

Em relação à água especificamente, a médica destaca que problemas como diarreias e infecção alimentar diminuíram significativamente nas últimas décadas. O problema é a água descartada, que, mesmo em locais em que há coleta de esgoto, ele é despejado sem tratamento nos rios, causando um sério problema não só a saúde humana como ao ambiente.

Favela - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Imagem: Beto Macário/UOL

O mosquito da falta de saneamento básico

Em 2015, o Brasil e o mundo acompanharam o drama, em particular na região Nordeste, de uma epidemia de zika com consequências graves na saúde dos bebês, seguida por milhares de casos de infecção por chickungunya. Um ano antes o país tinha enfrentado um sério surto de dengue.

As três são doenças infectocontagiosas passadas pelo mosquito Aedes aegypti, que se prolifera em pequenas quantidades de água. 

Em áreas com problemas de abastecimento, as famílias estocam água e podem deixar os potes, barris e baldes abertos, lugar perfeito para criadouros de mosquito. A falta de sistema de coleta de esgoto também causa poças de água onde o Aedes pode procriar. 

O professor do Instituto de Medicina Tropical da USP, Expedido Luna, diz que os profissionais de saúde pública estão em atenção para 2018 com uma possível volta de uma onda dessas viroses causadas pela picada do mosquito.

Estação Brás - Rogério Assis/Folhapress - Rogério Assis/Folhapress
Imagem: Rogério Assis/Folhapress

Estilo de vida para um AVC

O dia que começa cedinho, passa por horas de trânsito ou transporte público lotados, pressão no trabalho, necessidade de mais dinheiro, problemas em casa criam uma rotina estressante na vida da população de cidades urbanas. No meio desse ciclo, comidas industrializadas, doces como recompensa, falta de atividade física. 

Com isso, estamos testemunhando um aumento na incidência de doenças crônicas como a insônia, a obesidade e suas consequências conhecidas: diabetes, doenças cardíacas e AVCs.

Para piorar, viver onde há alta concentração de pessoas e atividades pode impulsionar ou agravar transtornos mentais. O termo pode soar pesado, mas envolve desde alterações de humor a quadros graves de depressão, passando pela ansiedade.

Laura Helena Andrade, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria da USP, é uma das autoras de pesquisa em que foram mapeados os transtornos mentais na região metropolitana de São Paulo. 

O levantamento apontou que 10% da população estudada teve episódio de ansiedade ou depressão nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa. “É uma prevalência alta, e aí a gente pensa ‘o que está acontecendo’?”.

E a resposta passa por questões como privação social, como foi chamado na pesquisa, que seria acesso à infraestrutura urbana básica como transporte, educação ou saúde, a convivência com a violência e, para completar, uma epidemia de cansaço generalizado.

“São muitas demanda, celulares ‘chamando’ o tempo todo, notícias, os esquemas de trabalho, mobilidade complicada e entre outras questões da forte urbanização”, explica. 

9 recomendações para evitar os problemas da vida urbana:

  • Ter mais contato com a natureza;
  • Praticar atividades físicas;
  • Andar mais a pé ou de bicicleta;
  • Melhorar a qualidade do sono: com ambientes confortáveis, escuros e com menor ruído constante;
  • Tentar acessar menos vezes o celular, principalmente próximo do horário de dormir;
  • Melhorar a qualidade da alimentação;
  • Tomar as vacinas disponíveis;
  • Evitar acúmulo de sujeira nas ruas
  • Manter locais fechados com boa iluminação e ventilação.