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Países podem aumentar imposto de carne para controlar doenças e aquecimento

Vinicius Boreki/UOL
Imagem: Vinicius Boreki/UOL

Do UOL, em São Paulo

28/12/2017 09h28

A carne vermelha é o futuro cigarro. Assim como ocorreu com a indústria do tabaco, que sofreu sobretaxações em quase todo o mundo devido aos altos custos causados à saúde pública, o aumento do consumo de carne precisará ser freado com o uso de instrumentos fiscais. Isso porque o consumo elevado de carne vermelha está associado a diferentes doenças, e a pecuária é responsável por grande parte das emissões de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global.

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Um relatório feito pela Farm Animal Investment Risk and Return (Fairr), um grupo de investimento voltado ao mercado sustentável de proteínas animais, mostra que impostos sobre a carne vermelha devem começar a ser adotados nos próximos de 5 a 10 anos.

O setor pecuário é responsável por 15% das emissões globais de gases de efeito estufa. Estudos têm associado o aumento do consumo de carne a alguns tipos de câncer. Países como Alemanha, Dinamarca e Suécia já discutem a adoção de impostos. E o governo da China reduziu sua sugestão de consumo máximo de carne.

No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda ingerir no máximo entre 300 g e 500 g de carne vermelha por semana – o equivalente a um bife pequeno por dia (71 g por dia).

"Se os formuladores de políticas públicas querem cobrir o custo de epidemias como obesidade, diabetes e câncer, ao mesmo tempo em que combatem as mudanças climáticas, parece inevitável que deixem de conceder subsídios e implementem tributação da indústria de carne", disse Jeremy Coller, fundador da Fairr, ao jornal britânico "The Guardian".

Dessa forma, ocorreria com a carne algo já visto com outros produtos considerados nocivos à saúde ou ao meio ambiente. Segundo o relatório, mais de 180 países sobretaxam o tabaco, cerca de 60 taxam as emissões de carbono e ao menos 25 sobretaxam o açúcar.

Aumento que salva vidas

Um estudo da Universidade de Oxford feito em 2016 mostrou que a implementação de impostos equivalentes a 40% do valor da carne bovina, 20% do valor de produtos lácteos e 8,5% do valor da carne de frango salvaria meio milhão de vidas por ano e derrubaria as emissões de gases de efeito estufa.

O maior desafio para a taxação da carne está na impopularidade da medida. Segundo os analistas, impostos sobre a carne sofreriam grande resistência por parte dos consumidores, elevando o custo político da adoção da medida. Para alguns especialistas, o uso da receita obtida com impostos sobre a carne para subsidiar alimentos saudáveis pode ser uma forma de reduzir a oposição.

"É difícil imaginar a taxação da carne hoje. A situação da saúde pública provavelmente fortalecerá a decisão de governos [em taxar a carne], como já vimos com o carvão e o diesel", disse ao Guardian Rob Bailey, da consultoria Chatham House.

Segundo Coller, a necessidade de impostos sobre a carne poderia ser reduzida se surgirem tecnologias que minimizassem os efeitos ambientais e na saúde pública da produção do alimento. Possibilidades no horizonte incluem a substituição da proteína da carne por proteínas à base de vegetais que tenham o mesmo aspecto e sabor. Contudo, tais substitutos ainda estão longe de chegarem aos fogões das casas e restaurantes.