Vacinação de crianças contra febre amarela exige cuidados especiais?
A vacina contra a febre amarela pode provocar reações mais fortes do que outras vacinas que crianças pequenas costumam tomar. Cerca de 4% delas tem reações adversas como febre, vômito, dores no corpo e no local da aplicação da dose. No geral, as contraindicações são as mesmas que valem para os adultos de até 59 anos. Contudo, a vacinação de crianças exige alguns cuidados especiais.
Por exemplo, a vacina não deve ser dada simultaneamente com a tríplice ou tetra viral. Crianças com menos de seis meses não podem tomar a vacina em qualquer situação. Para crianças entre 6 e 9 meses, em casos especiais, como quando a criança mora em área de grande risco de transmissão de febre amarela, um pediatra poderá avaliar se ela pode tomar a vacina. O ideal, contudo, é que a dose seja administrada a partir dos 9 meses.
Seguidos os cuidados especiais e observadas as contraindicações, a criança fica protegida após pelo menos 10 dias da data da aplicação da vacina. Crianças que já tenham recebido uma dose da vacina, desde que com mais de 9 meses de idade, já estão protegidas pela vida toda. Quem recebe a dose fracionada fica protegido por pelo menos 8 anos.
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Confira abaixo as principais recomendações para a vacinação de crianças pequenas e para mulheres gestantes ou que estão amamentando.
Fontes consultadas: Sociedade Brasileira de Pediatria / Alfredo Gilio, pediatra e coordenador da clínica de imunização do Hospital Israelita Albert Einstein / Celso Granato, infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Fleury Medicina e Saúde.
1 – Não vacinar menores de seis meses e só vacinar menores de 9 meses em extrema necessidade
Os bebês de menos de 6 meses não podem tomar a vacina por não terem o sistema imunológico desenvolvido. Isso porque a vacina é feita com um vírus vivo atenuado. Para fazer efeito, a dose desperta o sistema imunológico, que cria defesas contra a doença. A criança precisa ter esse sistema já bem formado para que a vacina tenha eficácia e não cause reações graves.
Já as crianças que têm entre seis e nove meses, o ideal é não vacinar. O sistema imunológico ainda está se desenvolvendo nessa fase. Mas quando o bebê vive em região onde há grande chance de transmissão da febre amarela, é possível aplicar a dose após avaliação da relação entre risco e benefício da vacina.
“Se a criança mora no 20º andar de um prédio na região da avenida Paulista, é muito remota a chance de pegar febre amarela. Então, não deve ser exposta ao risco vacinal. Mas se mora em frente a um parque com um monte de macacos onde teve caso da doença, apesar do risco da vacina, o da doença é muito alto", diz Celso Granato, infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Fleury Medicina e Saúde, explicando quando a vacinação pode ser indicada nessa faixa etária.
O Ministério da Saúde recomenda que apenas crianças com mais de 9 meses sejam vacinadas nas campanhas de vacinação em curso
2 – Esperar 30 dias entre a vacinação contra febre amarela e outras de vírus atenuado
Crianças pequenas precisam tomar uma série de vacinas, o que exige uma atenção especial. Além da vacina contra a febre amarela, existem outras feitas com vírus vivo. No calendário de vacinação, são elas a tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) e a tetra viral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela). Se administradas ao mesmo tempo, uma vacina pode cortar a eficácia da outra.
Crianças com menos de 2 anos não devem tomar a vacina da febre amarela simultaneamente com essas vacinas. Para os pequenos que ainda não tomaram nenhuma, a orientação da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) é que recebam a dose da vacina de febre amarela e agendem a vacina tríplice viral ou tetra viral para pelo menos 30 dias depois. Já as demais vacinas do calendário podem ser administradas no mesmo dia que a vacina de febre amarela.
3 – Criança com gripe e febre deve esperar melhora para tomar a vacina
Crianças (assim como adultos) quem estejam com gripe ou febre precisam esperar o organismo se recuperar para tomar a vacina. São dois os motivos. O primeiro é que a febre causada pela gripe pode ser confundida com uma reação à vacina. O segundo é que gripe faz com que o organismo produza substâncias que podem cortar o efeito da vacina e inviabilizar a imunização. Ou seja, a vacina pode falhar e não garantir a proteção.
4 – Vacina pode ser postergada em casos de cólica e resfriado para evitar desconfortos
Sintomas leves de resfriado, comuns em crianças, como coriza, tosse ou nariz escorrendo, não são contraindicações para tomar a vacina. O mesmo vale para crianças que estão com cólicas leves. Contudo, a vacinação poderia ser postergada em casos assim para evitar um duplo desconforto em crianças pequenas.
5 – Dor, febre, vômito e diarreia após a vacinação: pode dar remédio e levar ao médico
Cerca de 4% das pessoas que tomam a vacina tem reações locais, como vermelhidão e inchaço no braço. Isso pode ocorrer entre 24 e 48 horas após a vacinação. Nesses casos, é recomendado fazer compressa de água fria no local da aplicação da vacina.
A partir do 3º ou 4º dia após a vacinação, podem surgir reações como febre, dor de cabeça, dores musculares, náuseas, vômitos e diarreia. Esses sintomas também acometem cerca de 4% dos vacinados. Em crianças pequenas, é possível perceber que há dor quando se queixam ao levantar os braços ou dobrar as pernas.
Nesses casos, a criança pode tomar analgésicos e antitérmicos, como paracetamol ou a dipirona, para aliviar a dor e baixar a temperatura do corpo. A febre causada por reação à vacina não costuma ser muito alta.
Se dor e febre persistem por mais de três dias, é preciso procurar um médico ou pediatra. Até porque qualquer outro problema pode estar causando a febre, e a criança precisa ser avaliada. Não adianta ir a um posto de saúde que esteja apenas aplicando a vacina: procure um pediatra que possa realizar uma consulta com a criança.
Não existe um tratamento específico para reações à vacina. Contudo, a criança que apresenta sintomas que podem exigir maior cuidado poderá ser melhor observada e acompanhada quando recebe atendimento médico.
Em geral, a vacina contra a febre amarela é considerada segura. Reações adversas são bastante raras. Uma delas é a doença viscerotrópica, quando o vírus atenuado da vacina começa a se replicar no organismo. Ela ocorre na proporção de 1 a cada 400 mil pessoas vacinadas. Comparando com outra causa de morte, há 32 vezes mais chances de morrer vítima de acidente de trânsito na cidade de São Paulo.
6 – Gestantes e quem está amamentando menores de 6 meses devem tomar cuidados
É recomendável que gestantes, em qualquer idade gestacional, e mulheres que estejam amamentando crianças menores de 6 meses de idade só tomem a vacina se morarem ou forem se deslocar para local onde foram registrados casos de febre amarela em macacos ou humanos. Ou seja, apenas se estiverem onde está confirmada a circulação do vírus.
Para quem está amamentando crianças com menos de 6 meses, caso tenha que tomar a vacina, deve suspender o aleitamento materno por 10 dias após a vacinação. De acordo com a SBP, não há relatos de que a vacinação de mulheres grávidas provoque efeitos adversos no feto. "Contudo, é recomendável que a mulher aguarde um mês após a vacinação para ficar grávida", diz a entidade.
7 – Dose fracionada não causa reações diferentes, mas só deve ser tomada a partir de 2 anos
A vacina fracionada, composta por 1/5 da dose integral, não pode ser dada para quem tem menos de 2 anos de idade. Isso porque não existem pesquisas que indiquem se ela seria eficaz nessa faixa etária. Para quem tem mais de 2 anos e pode tomar a dose fracionada, ela tem o mesmo efeito da dose integral, com a única diferença de que protege por ao menos 8 anos, e não pela vida toda.
8 – Crianças que não podem tomar a vacina e vivem em áreas de risco devem usar repelentes
Nos casos em que a criança não pode tomar a vacina, a principal recomendação é evitar o deslocamento para as áreas de risco. Caso isso seja inevitável, é necessário se proteger contra as picadas dos mosquitos transmissores da febre amarela. Vale para isso vestir os pequenos com roupas de mangas compridas, meias e usar repelentes de mosquitos.
Apesar do maior risco de picadas de mosquitos ocorrer no crepúsculo ou ao amanhecer, as picadas podem ocorrer em qualquer momento do dia.
Segundo a SBP, produtos contendo DEET, Icaridina, óleo de eucalipto ou IR3535 oferecem proteção contra picadas de mosquito. "Os produtos à base de DEET têm duração de ação de aproximadamente 2 a 5 horas, dependendo da sua concentração. Produtos à base de IR3535 duram cerca de 4 horas após a sua aplicação. E os à base de Icaridina têm duração de ação de 5 a 10 horas, dependendo da concentração utilizada", diz a entidade.
9 – Uso de repelentes por crianças exige cuidados
De acordo com a SBP, os repelentes devem ser aplicados apenas nas superfícies expostas e nas roupas, evitando-se utilizar os produtos por baixo da sua roupa. Eles também não podem ser aplicados em ferimentos ou sobre a pele irritada, sobre os olhos ou na boca. "Quando utilizar sprays, aplique nas suas mãos primeiro e depois esfregue com cuidado no rosto", afirma a sociedade de pediatria.
A entidade recomenda ainda que crianças não manipulem e apliquem os produtos sozinhas. Quanto à formulação dos repelentes, crianças acima de 6 meses podem utilizar o IR3535 e a Icaridina. Já os repelentes com DEET (presente na maioria das marcas) devem ser usados apenas em crianças acima de 2 anos de idade, podendo também ser usado em gestantes. Quem for utilizar protetores solares e repelentes, deve aplicar primeiro o protetor solar e em seguida o repelente.
10 – Veja quem não pode tomar a vacina ou precisa passar por consulta antes de ser vacinado
Não podem tomar a vacina quem vive com HIV e tem contagem de células CD4 menor que 350, quem está em tratamento com quimioterapia ou radioterapia, quem é portador de doença autoimune e quem está em tratamento com imunossupressores. Também não podem tomar a vacina mulheres amamentando crianças menores de 6 meses (exceto nos casos especiais citados acima).
Idosos a partir de 60 anos, gestantes, quem terminou tratamento com quimioterapia ou radioterapia, quem é portador de doença renal, hepática ou no sangue e quem faz uso de corticoide precisam passar por consulta médica antes de tomar a vacina.
Pessoas que possuem o chamado traço falciforme, que é a presença de apenas um dos genes que causam a anemia falciforme, não desenvolvem a doença e podem ser vacinadas normalmente. Quem possui a anemia falciforme, doença grave que provoca deformação nas moléculas de hemoglobina do sangue, não pode ser vacinado.
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