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Um em cada 20 bebês é afetado por mães que bebem na gravidez, diz estudo

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Imagem: iStock

Colaboração para o UOL

06/02/2018 17h46

Um estudo publicado nesta terça-feira (06) na revista científica Journal of the American Medical Association revela que o consumo de bebida alcoólica durante a gravidez tem mais efeitos sobre a criança que o imaginado. Um em cada 20 bebês norte-americanos acaba sofrendo com disfunções causadas pela ingestão de álcool no período de gestação, indicou a pesquisa.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, as desordens do espectro alcoólico fetal são um grupo de condições que podem incluir anomalias faciais e no crescimento, disfunções intelectuais e problemas de comportamento.

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“Nós refletimos muito e acreditamos que as estimativas prévias que tínhamos nos Estados Unidos eram bastante subestimadas. Não é uma disfunção fácil de reconhecer”, afirmou Christina Chambers, uma das autoras da pesquisa e professora de pediatria na Universidade da Califórnia em entrevista à "CNN". A maioria dos estudos aponta uma a cada 100 crianças é afetada por tal comportamento da mãe durante a gravidez.

O novo estudo, por sua vez, reúne visitas a escolas públicas e privadas nos Estados Unidos. Alunos com problemas cognitivos e de comportamento foram testados, suas mães foram entrevistadas sobre o consumo de álcool e o crescimento e desenvolvimento facial dos jovens foi analisado. Os pesquisadores acrescentaram que apesar de considerarem essas áreas de estudo bastante abrangentes, elas não representam o país como um todo.

222 crianças foram classificadas como portadoras de desordens do espectro alcoólico fetal dentre as milhares que participaram. Apenas duas delas tinham sido diagnosticadas anteriormente com essa disfunção.

Os pesquisadores dizem que os números podem estar mais próximos da realidade do que os dos estudos anteriores. Porém, outros especialistas criticaram o experimento. Entre eles, a diretora da Rede de Prevenção e Diagnóstico da Síndrome Alcóolica Fetal, Susan Astley. “Eu não levo muito em consideração esses números. Também fico muito decepcionada de vê-los em uma publicação como o Diário da Associação Médica Americana”, revelou.

Astley, que também é professora de epidemiologia e pediatria na Universidade de Washington, diz que o estudo superestima e subestima a predominância dos números de várias maneiras, principalmente pelo jeito que os dados foram coletados. Ela afirma que não sabe se as estimativas são maiores do que o previamente estabelecido, mas acredita que mais pesquisas são necessárias.

A professora também criticou os locais escolhidos para o experimento. “A triagem para essas desordens não é como a triagem para escoliose. É complicado começar a perguntar para os pais sobre seus hábitos de ingerir álcool”.

Os autores da pesquisa revelaram que apenas 60% das crianças tiveram permissão para participar do estudo. “Quem são esses 40%? Por que eles escolheram não participar? Ninguém contesta que são pessoas com maior risco de portar disfunções”, afirmou Astley.

Segundo ela, se um grande número de pessoas com alto risco não quiseram participar da pesquisa, significa que a prevalência pode ser ainda maior. Astley ainda criticou o critério “relaxado” adotado para identificar a disfunção, o que superestimaria os números.

Christina Chambers respondeu que diversos critérios foram utilizados para o diagnóstico, alguns mais rigorosos que outros. Porém, sem um exame de sangue ou um indicador biológico é impossível saber que proporção dessas deficiências foram causadas por exposição do feto ao álcool, informaram os autores.

O consumo de bebida alcoólica durante a gravidez ainda é um assunto polêmico que causa discórdia na comunidade científica. Enquanto as organizações de saúde dizem que nenhuma quantidade de álcool pode ser considerada segura durante a gestação, algumas pesquisas controversas apontam que o uso moderado pode não ter nenhuma interferência na saúde da criança.

Tanto Astley quanto Chambers dizem que a pesquisa dessas disfunções pode gerar novos esforços para educar futuras mães, prevenir novos casos, melhorar os tratamentos já disponíveis e mensurar o quanto essas iniciativas funcionam. “Nossa esperança é que esse estudo aumente a prioridade desse problema na agenda nacional, o que achamos que é o certo”, completa Chambers.