Topo

Com Copa do Mundo, especialistas alertam para doenças vindas da Rússia

Antes de viajar, é importante checar se todas as vacinas estão em dia - iStock
Antes de viajar, é importante checar se todas as vacinas estão em dia Imagem: iStock

Fabrizio Glória

Colaboração para o UOL

07/07/2018 04h00

A Copa do Mundo da Rússia atraiu mais de 65 mil turistas brasileiros ao país, misturados a outros torcedores de todos os cantos. Com a grande movimentação de pessoas nas cidades que sediam o evento, especialistas em saúde no Brasil alertam para o risco da proliferação de doenças infecciosas.

Segundo o Itamaraty, apesar de não haver registros de doenças endêmicas na Rússia, casos de difteria, hepatite A, febre tifoide e cólera podem ser comuns. Além disso, desde o começo do ano, a Europa passa por surtos de sarampo, doença altamente contagiosa. 

Outro alerta fica para a AIDS, que permanece como um grande problema da saúde pública na região. Cerca de 1,5 milhão de russos são soropositivos, de acordo com dados do Centro de Aids do país.

Abaixo, veja dicas de especialistas e do Ministério da Saúde sobre prevenção, transmissão e tratamento.

Sarampo

Em meio a surtos em território europeu, foram identificados na Rússia 1.149 casos de sarampo entre janeiro a abril deste ano. Segundo o Ministério da Saúde, a única forma de prevenção indicada é tomar vacina tríplice viral, caso a imunização já não tenha sido feita. Em casos de viagem internacional, especialmente, se está de visita em países de alto risco, recomenda-se a atualização da vacina. Entretanto, gestantes e pessoas com o sistema imunológico comprometido, como infectados pelo vírus HIV e pacientes em quimioterapia, não podem ser vacinados.

Lavar as mãos é extremamente importante para evitar doenças transmitidas por vias respiratórias. Cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir, não compartilhar copos, talheres e alimentos e evitar passar as mãos na boca ou nos olhos também pode ajudar na prevenção, explica Marta Heloísa Lopes, infectologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias de Universidade de São Paulo.

Os principais sintomas são febre alta, conjuntivite com olho lacrimejando, que deixa o rosto com aspecto de choro, manchas vermelhas pelo corpo e pele áspera. O ciclo da doença dura cerca de uma semana ou dez dias e o tratamento consiste em repouso, hidratação e antitérmico para controlar a febre, além de isolamento. A doença pode resultar em complicações como diarreia, pneumonia e alterações de coagulação do sangue.

"Em caso de suspeita de sarampo, os pacientes devem procurar imediatamente um serviço de saúde e evitar lugares públicos, onde circulam muitas pessoas, alerta a especialista. Ao retornar de países com ocorrência de endemias, quaisquer sintomas devem ser imediatamente comunicados às autoridades de saúde brasileiras", explica Lopes.

Hepatite A

A hepatite A é transmitida durante relação sexual desprotegida e por meio do consumo de água e alimentos contaminados. No Brasil, a vacina contra a doença é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde para crianças entre 15 meses e 5 anos de idade. 

Em geral, a doença é assintomática. Porém, os sintomas mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

Leia mais:

O diagnóstico da doença é realizado por exame de sangue. Após a confirmação, o profissional de saúde indicará o tratamento mais adequado, de acordo com a saúde do paciente, segundo o Ministério da saúde.

A hepatite A é totalmente curável quando o portador segue corretamente todas as recomendações médicas. Na maioria dos casos, tem caráter benigno, mas pode causar insuficiência hepática aguda grave e levar à morte em menos de 1% dos casos.

Hepatite B

A hepatite B pode ser contraída durante sexual, por meio do contato com agulhas contaminadas e hemoderivados. As três doses da vacina estão disponíveis no SUS para todas as pessoas.

A maioria dos casos da doença não apresenta sintomas. Entretanto, os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

"É importante que o turista esteja sempre protegido nas relações sexuais e evite qualquer tipo de contato com objetos cortantes", afirma o coordenador do Comitê de Medicina dos Viajantes da Sociedade Brasileira de Infectologia, Jessé Alves.

Febre tifoide

A febre tifoide é uma doença bacteriana aguda, adquirida por meio do consumo de água e alimentos contaminados. Por isso, o viajante deve estar sempre atento e não beber água da torneira, além de sempre se preocupar com a procedência dos alimentos que consome quanto está fora do país, explica Jessé Alves.

Os sintomas são febre alta, dores de cabeça, mal-estar geral, falta de apetite, retardamento do ritmo cardíaco, aumento do volume do baço, manchas rosadas no tronco, prisão de ventre ou diarreia e tosse seca.

Difteria

A difteria é uma doença transmissível aguda, que frequentemente se aloja nas amídalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. A vacina tríplice bacteriana clássica é indicada para crianças com até sete anos de idade. Após essa idade é utilizada a tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa).

"Há também a vacina pentavalente, indicada para imunização ativa de crianças a partir de dois meses de idade contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e doenças causadas por Haemophilus influenzae tipo b", explica a infectologista Marta Heloísa Lopes.

Apesar dos altos níveis de cobertura vacinal contra a difteria, um surto afetou partes da Rússia nos anos noventa e a doença ainda não foi totalmente erradicada no país.

A presença de placas pseudomembranosasbranco-acinzentadas, aderentes, que se instalam nas amígdalas e invadem estruturas vizinhas, é a manifestação clínica típica.
O tratamento da difteria é com o soro antidiftérico (SAD), que deve ser feito em unidade hospitalar, segundo o Ministério da Saúde.

Aids

A Aids é um dos maiores problemas da saúde pública ao redor do mundo. De acordo com Ministério da Saúde da Federação Russa, o país passa pela maior epidemia de HIV na Europa Oriental e na Ásia Central, com mais de 98.000 novas infecções registradas em 2015 e uma taxa que cresce entre 10 e 15% anualmente.

Um relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a AIDS (UNAIDS), revela que 1,1% da população russa pode estar contaminada com o vírus HIV. O Ministério da Saúde reafirma aos cidadãos brasileiros a importância da adoção de medidas de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis.

"Sexo sempre deve ser feito com segurança, tanto aqui no país quando durante as viagens. A proteção com o uso de preservativos é a forma de se prevenir contra a AIDS e qualquer outra doença sexualmente transmissível", diz a infectologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias de Universidade de São Paulo.

Cólera

A cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda, transmitida por contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados.

Em geral, não há sintomas ou apenas uma diarreia leve. No entanto, o paciente pode também se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras. Quando não tratada prontamente, pode ocorrer desidratação intensa, com graves complicações que podem levar à morte.