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Ianomâmis retêm aviões e 21 servidores em RR: 'Negociamos liberar hoje'

Júnior Yanomami/Arquivo Pessoal
Imagem: Júnior Yanomami/Arquivo Pessoal

Bruno Aragaki e Wanderley Preite Sobrinho

do UOL, em São Paulo

18/09/2018 12h32

Desde o último domingo (16), 21 servidores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), parte do Ministério da Saúde, estão impedidos de deixar a Terra Indígena Ianomâmi, em Roraima. 

"Mas estamos negociando para liberá-los hoje", disse ao UOL Junior Hekurari Yanomami, presidente da Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima. 

Um grupo de indígenas bloqueia três aviões do governo federal, em protesto após a morte de duas crianças da etnia.

Para a liberação, os indígenas exigem a saída de Rousicler de Jesus Oliveira do cargo de coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y).

Indígenas impedem que 21 servidores e três aviões decolem da Terra Indígena Yanomami  - Júnior Yanomami/Arquivo Pessoal - Júnior Yanomami/Arquivo Pessoal
Indígenas impedem que 21 servidores e três aviões decolem da Terra Indígena Yanomami
Imagem: Júnior Yanomami/Arquivo Pessoal
A falta de compromisso dos gestores passados e o atual foi o que levou ao aumento da malária em todo território Yanomami, os dados epidemiológicos mostram aumento assustador, a falta de insumos, medicamentos e materiais hospitalares

Carta aberta dos ianomâmis

Porta-voz dos ianomâmis, Davi Ianomami disse que os protestos começaram após a morte de dois bebês. 

“Duas crianças morreram de pneumonia nos últimos dias na região do Surucucu. As crianças são muito importantes para os ianomâmis”, disse.

Ao UOL, o Ministério da Saúde informou que “as equipes não foram sequestradas pelos indígenas, e seguem realizando suas atribuições diárias, estando em seus alojamentos. Nenhum profissional foi retido ou preso pelos indígenas e não há descontinuidade nos atendimentos.”

"O atendimento na região é realizado por duas Equipes Multidisciplinares, que contam com dois enfermeiros, 13 técnicos de enfermagem e dois médicos para 40 aldeias. A região também conta com um helicóptero para dar assistência aos deslocamentos das equipes", diz a pasta em nota.

Os indígenas dizem ter dificuldade para remoção de doentes nas aldeias.

Estabelecida em 1992, a Terra Indígena Yanomami tem mais de 9 milhões de hectares e ocupa o norte de Roraima. Estima-se que 25 mil indígenas vivam lá.

mapa Ianomâmi -  -

Íntegra da carta aberta dos Iaomamis

"Hoje dia 17 de setembro de 2018 nós Yanomami das comunidades das serras da região do Surucucu fizemos nossa reinvindicação pacífica sem danos morais ou estruturais para as empresas que prestam serviços para o povo da floresta, que vocês chamam de isolados no art. 231, especificamente Lei AROUCA 8080 temos todo o direito de ser ouvido pelos órgãos federais, nossa manifestação e pela vida do nosso povo, não estamos e não temos ligações políticas partidárias, já fomos muito atingidos por indicações que não são consultada pelo nosso povo, estamos morrendo por conta disso, agora queremos dar um basta nisso vamos lutar como nossos antepassados, somos novos e futuras lideranças, já conhecemos as leis que vocês mesmo criaram, mas não respeitam o que está lá escrito (consulta aos povos indígenas) como disse a convenção da OIT 169 consulta prévia aos povos indígenas em qualquer situação que afeta as comunidades. Então nós mesmos pesquisamos as denúncias e as faltas de estrutura, medicamentos, água potável, falta de profissionais e intervenção política dentro do nosso distrito Yaomami, tendo comprovado isso tudo, tentamos contato com o gestor que quase nunca nos atendeu e devido a óbitos em nossa região e a falta de helicóptero por meses que ocasionou a não entrada dos profissionais nas comunidades onde não temos acesso por caminhada e sim aéreo pelo helicóptero perdemos cinco crianças entre agosto e até este presente momento. De quem é a culpa? É nossa! Ou de quem gerencia a nossa saúde. A falta de compromisso pelos gestores passados e o atual foi o que levou o aumento da malária em todo o território Yanomami, os dados epidemiológicos mostram aumento assustador, a falta de insumos, medicamentos e materiais hospitalares.

As nossas solicitações de construção de poços artesianos na nossa região, até o momento não fomos atendidos, segundos as informações o próprio gestor construiu um poço artesiano na sua própria residência, segue algumas fotos em anexos: enquanto nossos povos estão necessitando com urgência.

Por todos esses motivos nós lideranças tradicionais pedimos aos representantes dos Yanomami e yekuana e peçam a exoneração do atual coordenador e nos juntos em uma consulta possamos indicar nosso futuro representante que realmente nos ouvirá e dar-nos uma saúde digna que eles merecem, segue um abaixo assinado dos Yanomami que pedem a saída dessa indicação política."