Supervisor vê cubano resolver mais que recém-formado brasileiro em rincões
O médico Rodrigo Lima, diretor de exercício profissional da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade) e supervisor do programa federal Mais Médicos, afirma que os cubanos têm formação específica em medicina da família, o que faz com que eles sejam mais capacitados do que recém-formados brasileiros para a atuação em pequenas cidades e povoados.
Não é um juízo sobre quem tem a melhor formação, enfatiza. "O que falo é que esses médicos [cubanos] receberam formação específica para trabalhar em medicina da família. Isso faz com que sejam bem mais aptos do que um médico brasileiro recém-formado --que é quem costuma aceitar esses postos de trabalho mais distantes."
Ele ressalta que os cubanos, que tiveram de deixar o Mais Médicos após rompimento de seu governo com o Brasil, aceitavam as vagas em locais de menor povoamento, não desistiam dos postos, nem tentavam barganhar redução de carga horária, como ocorre com alguns profissionais brasileiros. "Acompanho vários médicos mensalmente, entre eles cubanos, e eles são qualificados, são bons."
Lima também rebate as críticas feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), sobre a falta de aptidão dos profissionais: "Eles recebem uma qualificação de medicina de família lá em Cuba, que é um pouco diferente da que a gente recebeu aqui, mas que os deixa extremamente aptos a trabalhar".
Faltam profissionais e anos de estudo no Brasil
O Brasil possui hoje 5.486 médicos com especialização em saúde da família, segundo dados do levantamento "Demografia Médica Brasileira de 2018", do CFM (Conselho Federal de Medicina).
"A gente estima que precisaria de 70 mil pelo menos, para ter a saúde de como porta de entrada da medicina, como é preconizado na legislação, e ocorre em vários países", diz Lima, citando ainda que a formação complementar necessitaria de pelo menos mais dois anos de estudos, "assim como ocorre com as demais especializações".
Para Rodrigo Lima, a saída em bloco dos cubanos terá um impacto grande mesmo com a chegada de novos profissionais imediatamente, antes da data limite de 14 de dezembro, que os inscritos têm para se apresentar em seus postos de trabalho.
Segundo ele, a assistência em cidades de população menor e mais longínquas serão as mais afetadas.
"Acho que deve reduzir a qualidade do serviço e vai ter uma desassistência. Porque, embora tenha se anunciado que quase todas as vagas estão preenchidas, sabemos que muitos vão desistir --como nos editais anteriores."
Experiência é fundamental em rincões
De acordo com o supervisor, o principal problema é a falta de serviços complementares em muitas localidades. O enviado precisa resolver sozinho suas dúvidas e os problemas do paciente.
"Se o médico trabalha em uma grande cidade e tem um paciente que ele não consegue manejar, ou tem uma dúvida e não sabe o que fazer, está a 1 km, 2 km de um hospital. Mas no interior só tem aquele médico lá, e o serviço mais próximo está a 200 km, 300 km. Ele tem de resolver tudo", explica.
Na opinião do diretor, o Mais Médicos deveria ter criado remunerações melhores e outros incentivos para atrair profissionais a áreas mais remotas. "Em vez de mandarmos os que têm mais experiência, estamos estabelecendo uma política de mandar recém-formados, sem a mesma bagagem clínica e que, por isso, vão uma resolutividade menor", finaliza.
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