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Bolsonaro devia enviar caderneta criticada pelo WhatsApp, diz especialista

Na web, Jair Bolsonaro criticou imagens de caderneta de vacinação - Redes sociais / Reprodução
Na web, Jair Bolsonaro criticou imagens de caderneta de vacinação Imagem: Redes sociais / Reprodução

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

09/03/2019 04h00

A recente decisão do presidente Jair Bolsonaro de cancelar a distribuição da Caderneta de Saúde do Adolescente, com conteúdo que inclui prevenção a doenças sexualmente transmissíveis, gera curiosidade na população alvo e frustra a tentativa do governo de evitar o acesso de menores de idade ao conteúdo da caderneta.

A análise é de Marta Mcbritton, presidente do Instituto Cultural Barong, uma organização pioneira no combate à Aids no Brasil. Fundado em 1996, o grupo ganhou notoriedade por ser o primeiro a usar uma van para distribuir gratuitamente teste rápido de gravidez, HIV, sífilis e hepatite B e C a adolescentes brasileiros. O carro vai a casas noturnas, blocos de Carnaval e onde quer que tenha aglomeração de jovens.

Projeto usa van para levar teste gratuito de gravidez e IST a adolescentes - Divulgação - Divulgação
Projeto usa van para levar teste gratuito de gravidez e IST a adolescentes
Imagem: Divulgação
Para a especialista, a medida anunciada ontem por Bolsonaro não apenas assanha a curiosidade adolescente sobre a caderneta como rompe com a tradição brasileira no assunto. "O Brasil, que era exemplo mundial, agora está na contramão da história", afirmou em entrevista ao UOL.

Para Mcbritton, o governo deveria fazer o oposto: produzir uma caderneta virtual para que os jovens acessassem seu conteúdo do celular. "Agora, o que eu gostaria de ouvir do governo é o que ele propõe no lugar da caderneta", diz. Leia os principais trechos da entrevista.

UOL - Por que os jovens são o público mais vulnerável à gravidez indesejada e IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis)?

Marta Mcbritton - O jovem é mais vulnerável porque a sexualidade, como tudo na vida, é uma questão de maturidade. Como na adolescência estamos experimentando, nessa fase precisamos de muito mais informação.

O que a senhora achou da decisão do governo de cancelar a distribuição da caderneta?

Eu acho lamentável. A gente deveria aperfeiçoar a comunicação com o jovem. O que eu esperava de um novo governo é o uso massivo das redes sociais. Que a caderneta pudesse ser repassada pelo WhatsApp, pelo Instagram. O Brasil, que era exemplo mundial no assunto, agora está na contramão da história. Os outros países estão tão adiante do Brasil na questão de gênero, sexualidade...

As imagens da caderneta não eram inapropriadas para jovens entre 9 e 19 anos?

De forma alguma. Eu acompanhei seu lançamento. Ela não é distribuída no metrô ou na rua como panfleto do McDonald's. A ideia é que ela vá acompanhando o desenvolvimento da adolescência. Ela é distribuída nos serviços de saúde, são jovens falando com outros jovens. Havia um critério.

A caderneta não pode incentivar a sexualidade precoce?

Não. O que me surpreende nessa discussão é que todos os índices apontam o contrário: quanto mais informação tem o jovem, mais responsável ele é. Todos os projetos de educação continuada indicam que esse tipo de orientação retarda a vida sexual dos jovens.

A proibição pode gerar efeito contrário?

Sim. Hoje as pessoas têm o Google. Essa proibição gera curiosidade nas pessoas, que vão pesquisar a respeito. Eu até espero que isso aconteça! Que as pessoas comecem a procurar e ler a caderneta. Quando um professor se depara com uma menina grávida de 13 anos, ele precisa de ferramentas para trabalhar na escola.

A medida vai atrapalhar o trabalho do instituto?

Não. No sábado (9) vamos levar nossa van a um bloco de Carnaval no largo do Arouche. No domingo, vamos a Santana em uma festa de Carnaval universitária. É um teste de fluido oral cujo resultado sai em até 20 minutos. Enquanto acontece a testagem, nossos voluntários conversam com os jovens sobre outras estratégias de prevenção. A gente também distribui material informativo, inclusive governamental, e camisinhas de todo o tipo: colorida, de chocolate, de café e caipirinha, porque isso tudo atrai a moçada.

Bolsonaro critica caderneta de saúde

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