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Mulher que caiu em trilho do trem espera 96 h por transferência hospitalar

A auxiliar de enfermagem Sônia Morgado - Arquivo pessoal
A auxiliar de enfermagem Sônia Morgado Imagem: Arquivo pessoal

Leonardo Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/08/2019 11h00

Eram 6h da última sexta-feira (23). Sônia Morgado, 57, estava a caminho de mais um dia de tratamento no hospital das Clínicas, localizado na região central de São Paulo, dentro de um vagão lotado na linha-7 rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Auxiliar de enfermagem, ela está afastada do trabalho para tratar esclerose múltipla e uma doença inflamatória no intestino.

Na estação Vila Aurora, Sônia passou mal, desceu do vagão, desmaiou e caiu de cabeça no trilho do trem. Encaminhada até o hospital geral de Taipas, na zona norte, ela levou cerca de 30 pontos em um corte na cabeça, foi diagnosticada com fraturas no nariz e em vértebras e com um esmagamento de medula óssea.

O quadro era emergencial e requeria exames neurológicos e cirurgia ainda na sexta, mas o hospital não tinha médico neurologista nem estrutura para realizar a operação.

Sônia só veio a ser transferida para outro hospital e ter seu quadro estabilizado na segunda-feira (26), 96 horas depois que deu entrada na rede pública de saúde do estado de São Paulo.

Mesmo com quadro extremamente delicado, segundo relato de familiares, Sônia virou mais um nome na longa lista de pedidos de transferência do Cross (Central de Regulação e Ofertas de Serviços de Saúde), sistema do governo estadual paulista responsável, entre outras coisas, por transferir pacientes de hospitais.

"Ela foi colocada para transferência no sábado, às 13h, mais de 24 horas depois do acidente, que aconteceu na sexta de manhã, sendo que o caso era emergencial", conta Henrique Morgado, filho de Sônia, ao UOL.

Morgado também relatou falta de medicamentos e até de fraldas no hospital estadual. "Muitos medicamentos que os médicos prescreviam, o hospital falava que não tinha. Falaram que não tinham fraldas e a gente foi comprar", afirma.

No domingo (25), conta seu filho, Sônia foi reavaliada por um médico de plantão, que alertou o risco de vida que ela passava por conta de sua medula esmagada. Ela ainda não havia feito a cirurgia e que, ainda de acordo com o médico, deve ser feita em no máximo 72 horas após o acidente.

"A gente lutou pela transferência. Mesmo após o diagnóstico do segundo médico, diversas vezes que entramos com o pedido, as transferências foram negadas por falta de leito, por falta de material".

Morgado conta que a família, então, compareceu ao hospital com um advogado e equipes de reportagens de emissoras de TV. "Esperamos das 11h da manhã às 16h30 para falar com o diretor do hospital. Aí, eles falaram que em até uma hora fariam a transferência, e fizeram".

Transferida e internada no hospital Santa Casa de São Paulo, Sônia repetiu a bateria de exames e teve seu quadro estabilizado. "Ela fará a cirurgia entre segunda e quarta que vem. O novo médico disse que 72 horas é um padrão adotado para fraturas graves desse tipo. Mas os resultados dos exames permitiram que ela fique em observação e faça a cirurgia semana que vem", contou o filho.

Morgado ressalta o desfecho positivo da história até o momento, mas lamenta o atendimento do hospital de Taipas.

"O hospital sem condições. Entendo que não é culpa dos funcionários, mas não é culpa nossa também nós termos uma necessidade dessa e o Estado não dar importância. Uma avaliação muito ruim que não deu nenhuma emergência ao caso".

Hospital nega falta de medicamentos

Procurado pela reportagem, por meio da Secretaria Estadual da Saúde, sob administração do governador João Doria (PSDB), o hospital geral de Taipas afirmou que Sônia foi atendida e teve avaliação clínica e ortopedista, além de ter feito exames de imagem e laboratoriais.

"O município cadastrou o pedido às 15h desta segunda-feira (26) na Central de Regulação e Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) e o caso foi regulado em menos de duas horas para serviço de referência, com transferência à Santa Casa de São Paulo para avaliação em Neurologia, visando a definição da conduta terapêutica adequada", diz em nota o hospital.

O hospital nega que houve falta de medicamentos. "Não procede que havia falta de medicamentos. Quanto às fraldas, houve aumento da demanda devido ao volume de pacientes idosos, mas a empresa agilizou a entrega e o hospital já está abastecido".

O hospital não comentou a demora de 96 horas e as negativas para transferência de Sônia para o hospital Santa Casa de São Paulo.

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O verbo ser apareceu duplicado no início da reportagem. O texto foi corrigido