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Áreas nobres do Rio concentram 70% dos casos; covid-19 avança para favelas

Pessoas usam máscaras para evitar contaminação pelo coronavírus nas ruas de Copacabana, zona sul do Rio - Herculano Barreto Filho/UOL
Pessoas usam máscaras para evitar contaminação pelo coronavírus nas ruas de Copacabana, zona sul do Rio Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/03/2020 08h00

Resumo da notícia

  • Prefeitura do Rio indica que 37,4% dos infectados viajou para o exterior
  • Dois em cada três infectados têm idade entre 30 e 49 anos
  • Barra da Tijuca, Ipanema, Leblon e Copacabana são bairros com mais casos
  • Segundo especialistas, covid-19 irá avançar para as favelas cariocas

As áreas nobres concentram 70% dos casos do novo coronavírus no Rio de Janeiro. Mas especialistas alertam para o avanço da pandemia nas favelas cariocas.

O levantamento foi feito pelo UOL com base no balanço divulgado ontem à noite pela Prefeitura do Rio, que confirmou 278 infectados e 166 casos suspeitos na capital fluminense. Ainda segundo o boletim, 28 pessoas estão hospitalizadas e outras 15 seguem internadas em UTIs.

A Barra da Tijuca, na zona oeste carioca, encabeça a lista por bairros, com 42 registros. Ipanema e Leblon, na zona sul, têm 30 casos cada. Copacabana, também na zona sul, aparece em quarto lugar no ranking, com 17 infectados.

O boletim da Prefeitura do Rio indica que 37,4% dos pacientes que testaram positivo para a covid-19 possui histórico de deslocamento internacional. Dois em cada três infectados têm idade entre 30 e 49 anos anos.

Avanço para as favelas

Especialistas apontam que a tendência é de que esse ranking sofra uma alteração nos próximos dias, com o avanço do vírus para as favelas cariocas ou áreas carentes.

O UOL noticiou que profissionais da área de saúde denunciaram que casos suspeitos de covid-19 estão sendo registrados como gripe na Cidade de Deus, favela da zona oeste do Rio, confirmando a estimativa dos infectologistas ouvidos pela reportagem.

"Esse levantamento reflete o que aconteceu há duas semanas. É natural que a zona sul e a Barra tenham mais casos, porque foi exatamente onde começou a pandemia, com pessoas que vieram do exterior trazendo o vírus. Agora, a tendência é que a covid-19 se espalhe para as comunidades carentes", avalia Marcos Lago, coordenador da Comissão de Infecção Hospitalar do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o infectologista Edimilson Migowski também prevê um cenário caótico, com o possível aumento de casos em áreas carentes e populosas.

Se esse vírus entrar nas comunidades carentes, vai ser devastador. Porque as pessoas vivem muito próximas umas das outras, aumentando as chances de contágio."

"Quem mora na zona sul tem colaboradores que moram em áreas carentes", completa Migowski.

Aliás, um dos casos mais emblemáticos, que ilustra essa tendência, foi o de uma empregada doméstica de 63 anos, que morreu no dia 17 em decorrência da doença — ela foi a primeira infectada que faleceu no Estado do Rio.

Moradora de Miguel Pereira, no sul fluminense, ela contraiu a doença da patroa, uma moradora do Leblon que se contaminou em uma viagem para a Itália. Na mesma casa onde morava, vivem outras sete pessoas. Todos estão isolados. E assustados.

O governo estadual do Rio registrou ontem 305 pessoas com o vírus e seis mortes em decorrência da doença. No país, o número de mortos subiu para 46, com 2.201 casos confirmados.

Avanço da doença preocupa líderes em favelas

O líder comunitário William de Oliveira, o William da Rocinha, distribuiu ontem kits com materiais de higiene na parte alta da favela, que tem mais de 120 mil moradores. "Muitos comerciantes fecharam as portas. Mas ainda tem muita gente na rua. Há muitos moradores na Rocinha em situação de vulnerabilidade social. A pandemia pode se proliferar rapidamente por aqui. O governo precisa priorizar as favelas", alerta.

Membro da CUFA (Central Única das Favelas) e morador da Cidade de Deus, o produtor Jefferson Gonzo, conhecido como Nino CDD, revela apreensão por causa do novo coronavírus na região. "Se tiver um foco aqui, acabou. A UPA não vai ser capaz de atender uma demanda dessas", argumenta.