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AM: vítima de covid-19 ficou 6 dias em casa doente pensando estar resfriado

Geraldo Sávio, 49, morreu vítima de covid-19 no Amazonas. Ele confundiu os sintomas com os de um resfriado Imagem: Arquivo pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

28/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • O comerciante e pescador esportivo Geraldo Sávio, 49 foi a primeira e única vítima fatal do coronavírus na Amazônia
  • Com quem ele adquiriu o coronavírus é um mistério, e relatos mostram que o paciente confundiu os sintomas da covid-19 com os de um resfriado
  • Imaginando ser algo simples, ele só procurou ajuda médica seis dias após os primeiros sintomas surgirem

Na última terça-feira (24), o comerciante e pescador esportivo Geraldo Sávio, 49, morreu vítima de covid-19. Morador de Parintins (cidade a 366 km de Manaus), ele foi a primeira, e até agora única, vítima fatal do coronavírus na Amazônia.

O UOL falou com amigos e autoridades de saúde para refazer a história da contaminação. Com quem ele adquiriu o coronavírus é um mistério, e relatos mostram que o paciente confundiu os sintomas da covid-19 com os de um resfriado. Imaginando ser algo simples, ele só procurou ajuda médica seis dias após os primeiros sintomas surgirem.

Segundo um amigo próximo de Geraldo, que pediu para não ser identificado, assim que ele chegou de Manaus foi para o município de Nhamundá, onde participou de uma pescaria com um grupo no dia 12 de março.

"Lá ele pegou chuva. Chegou na sexta (13) já resfriado e ficou em casa sem sair. Passou todo o fim de semana em casa. Na segunda ele estava bem, apenas com muita tosse. Estava na sua rotina normal, mas sem sair de casa", conta o amigo.

No período em que esteve em sua residência, nos primeiros dias dos sintomas, Geraldo relatou a esse amigo que em nenhum momento imaginou estar com a covid-19.

"Ele sempre saía para pescar, e nessas pescarias é comum a gente pegar chuva, ainda mais nessa época do ano em nossa região. Por esse motivo, ele pensava que era apenas um resfriado mesmo", revela.

"Quando foi na quinta feira (19), ele teve uma piora e resolveu procurar ajuda; no sábado, já foi encaminhado para Manaus com suspeita desse tal vírus", acrescenta.

Geraldo era hipertenso, foi levado de avião a Manaus e ficou quatro dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) até não resistir e morrer na terça-feira no Hospital Delphina Aziz.

Contaminação questionada

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas informou à reportagem que a investigação epidemiológica aponta como "possível exposição do paciente ao vírus uma confraternização em Manaus, onde entre os participantes havia pessoas oriundas de São Paulo".

"Ao caso, é aplicado o conceito de transmissão local, não o de comunitária", diz o órgão. Transmissão comunitária ocorre quando não é possível saber onde a pessoa pegou o vírus, e conclui-se que ele circula naquela localidade.

Geraldo viajou de Parintins para Manaus no dia 6 de março, para um evento de aniversário do grupo de pesca chamado "Amazon top team." O encontro aconteceu no dia seguinte, em um restaurante em Manaus, e reuniu cerca de 120 pessoas — entre pescadores esportivos e familiares.

Em Parintins, apenas ele e a esposa — que não participou do evento em Manaus — tiveram o diagnóstico de covid-19 confirmado. Em isolamento social em Manaus, ela está bem e não apresenta sintomas da doença.

No grupo com Geraldo, havia pelo menos mais três pessoas de Parintins, e nenhuma delas teve contaminação atestada em exames.

Ninguém mais do grupo com sintomas

Uma das pessoas que participou do evento com Geraldo foi Aldson Leão, que também integra o grupo. Ele conta que nenhum dos participantes do evento apresentou sintomas e desconhece pessoas de fora do Amazonas que participaram do evento em Manaus.

"Nenhuma outra pessoa do grupo ou familiar apresentou sintomas, inclusive vários com idade acima de 60 anos e outros tantos com imunidade baixa. Eu sou diabético e minha imunidade é baixíssima, tive contato direto com ele no evento", revela.

"Na data do evento não havia nenhuma orientação sobre aglomeração, eu tive contato próximo com ele e com outros participantes", lembra.

Por conta da contaminação de Geraldo e da esposa, a prefeitura de Parintins apertou as regras de isolamento e decretou toque de recolher das 20h às 6h da manhã.

Para os amigos, Geraldo deixa saudades e a imagem de uma pessoa alegre. "Era um cara o tempo todo animado, alto astral. Um cara verdadeiro, que não se calava quando via que tinha razão. Era decidido nas suas coisas, apaixonado por pesca e queria sempre lutar pela preservação dos rios e lagos de nosso estado", completa Aldson.

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