Técnica pede demissão de hospital no RJ: 'Nunca vivenciei nada parecido'
O aumento de transferências de pacientes com covid-19 de unidades de saúde da cidade do Rio para municípios do interior fluminense vem causando dificuldades de atendimento adequado nesses hospitais. Uma técnica de enfermagem revelou ter pedido demissão após enfrentar condições de trabalho precárias no Hospital Estadual Zilda Arns, em Volta Redonda (RJ), a 130 km da capital fluminense.
A técnica de enfermagem, ouvida pelo UOL sob a condição de anonimato para não sofrer retaliações, foi contratada para trabalhar na UTI do hospital de Volta Redonda no começo deste mês. Depois de trabalhar em apenas quatro plantões, decidiu pedir demissão da unidade. Ela diz que há casos de ao menos outros cinco profissionais que tomaram a mesma decisão.
Muita gente está sendo contratada. Só que os profissionais entram, observam o que está acontecendo e pedem demissão porque ficam com medo de se contaminar. Decidi pedir demissão porque era muito perigoso [trabalhar no hospital]. Fiquei muito impactada com o que vi. Em mais de dez anos na profissão, nunca vivenciei nada parecido
Segundo ela, há poucos funcionários, muitos pacientes em estado grave e falta de EPIs (equipamentos de proteção individual), usados pelos profissionais de saúde para minimizar riscos de contágio.
"Com o crescimento da pandemia, começou a faltar material, como luva e capote impermeável. Em algumas vezes, precisamos usar capote de pano, que não é recomendável por não garantir a segurança para o profissional", relata.
A quantidade de mortes lá é muito grande. Chegamos a registrar 19 mortes em um só dia. Mas, como a maioria dos pacientes são da Baixada ou do Rio, talvez esses números não apareçam como deveriam
Ela também diz que havia muita dificuldade de comunicação de parentes de pacientes com covid-19 que vieram transferidos da capital ou de municípios da Baixada Fluminense.
"Como esses pacientes vieram de longe, muitos não estavam recebendo visitas. E os parentes não estavam recebendo as notícias de maneira correta", critica.
As denúncias foram encaminhadas ao Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), que analisa o caso.
O que diz o governo do RJ
Segundo a SES (Secretaria de Estado de Saúde), o hospital de Volta Redonda ainda tem vagas para novos pacientes na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ainda de acordo com a pasta, a ocupação em leitos de UTI é de 83% na rede estadual. Com 8.504 casos confirmados, o Rio já contabiliza 738 mortes por causa da doença.
A pasta disse também que as contratações no hospital de Volta Redonda estão sendo ampliadas por causa da pandemia e contesta a denúncia de que faltam EPIs para os profissionais da unidade.
Em nota, informa ter criado uma central de atendimento para facilitar o contato com os parentes, com informações diárias sobre os pacientes, das 14h às 18h.
"A SES esclarece que todo leito de UTI conta com respirador. Na última semana, 37 novos respiradores foram entregues às unidades estaduais. A secretaria reforça que aguarda a entrega de novos kits com respiradores e monitores pelo governo federal para a abertura de leitos no estado e apoio aos municípios na abertura de leitos próprios."
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