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Com filas por UTI, Rio tem mais de 1.800 leitos ociosos em unidade federais

Para o Conselho Regional de Enfermagem, há "foco político" em leitos de campanha; na foto, o hospital de campanha Lagoa-Barra - Divulgação
Para o Conselho Regional de Enfermagem, há "foco político" em leitos de campanha; na foto, o hospital de campanha Lagoa-Barra Imagem: Divulgação

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

05/05/2020 13h36

Levantamento feito pelo Cremerj (Conselho Regional de Medicina) em parceria com o Coren-RJ (Conselho Regional de Enfermagem) mostra que o estado do Rio de Janeiro tem ao menos 1.800 leitos de internação e UTI sem uso em unidades federais de saúde. Enquanto isso, já não há vagas para internação em UTIs nos hospitais estaduais da capital fluminense, e a fila por uma vaga já supera 360 pacientes no estado.

Para o cálculo dos leitos ociosos, foram levadas em consideração as vagas não utilizadas nos seis hospitais federais do estado, nos hospitais das Forças Armadas e em institutos da União no território fluminense. De acordo com o Coren e o Cremerj, a inatividade desses leitos se deve à falta de profissionais de saúde e insumos básicos, como respiradores e EPIs (equipamentos de proteção individual).

A Comissão Externa da Câmara dos Deputados responsável pelo combate ao coronavírus pretende apresentar esses números ao ministro da Saúde, Nelson Theich, em reunião que deve ser realizada amanhã no Rio. No encontro, parlamentares e entidades de classe pedirão para que profissionais de saúde sejam convocados e que novos aportes financeiros cheguem ao estado.

Segundo a presidente do Coren-RJ, Ana Lúcia Fonseca, o sistema de saúde do Rio tem hoje um déficit de 2.000 profissionais.

Neste momento, percebemos um foco político nos leitos de campanha, na inauguração de novas vagas, menosprezando esses leitos já existentes. Caso tivéssemos um efetivo de médicos e enfermagem atendendo nessas vagas, não precisaríamos esperar a construção de hospitais de campanha. Pediremos a convocação do banco de concursos do estado

Ana Lúcia Fonseca, presidente do Coren-RJ

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que integra a comissão da Câmara que trata da covid-19, reitera a necessidade de investimentos do governo federal no combate à doença no Rio.

Os hospitais têm leitos, mas falta pessoal. Ao invés de abrir hospitais de campanha, seria mais barato colocar médicos nas unidades que já existem. O Hospital de Bonsucesso, por exemplo, tem 250 leitos, mas não há pessoal para atender. Enquanto isso, o Hospital Cardoso Fontes tem uma emergência entupida, com 890 pacientes na fila de regulação

Jandira Feghali, deputada federal (PCdoB-RJ)

De acordo com ela, um estudo sobre o número de profissionais necessários para ocupar esses postos e uma nova solicitação de verba serão encaminhadas ao ministro da Saúde.

"Até o momento, o governo federal repassou R$ 380 milhões ao Rio. Desse valor, R$ 103 milhões foram destinados à Secretaria de Saúde, enquanto o restante foi partilhado por todos os 92 municípios. Desde então, não há dinheiro novo, não há convocação de pessoal. Apresentaremos [ao ministro] uma projeção do número de profissionais necessários, levando em consideração que cada médico pode atender três leitos, numa escala de 12 horas por 36. Além disso, precisamos de enfermeiros, técnicos e fisioterapeutas", afirma a deputada.

O UOL entrou em contato com o Ministério da Saúde para confirmar a presença do ministro Nelson Teich na reunião e submeteu à pasta os números de leitos ociosos divulgados pelo Cremerj e Coren. A assessoria do ministro informou apenas que a ida dele ao Rio "é possível, mas ainda não está confirmada".

Rio já tem mais de mil mortos

Até a noite de ontem, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio informava 11.721 casos confirmados e 1.065 óbitos por coronavírus no estado. Outros 356 óbitos seguiam em investigação.

Epicentro da crise, a capital fluminense concentra 7.283 casos da doença. No momento, só há vagas para internação em UTI no Hospital Zilda Arns, em Volta Redonda, a mais de 130 km de distância da capital.