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Especialistas defendem testagem em massa, mas alertam para falso negativo

24.abr.2020 - Profissionais coletam amostras para teste de coronavírus em Capri, ilha ao sudoeste de Nápoles, na Itália - Emmanuele Ciancaglini/NurPhoto via Getty Images
24.abr.2020 - Profissionais coletam amostras para teste de coronavírus em Capri, ilha ao sudoeste de Nápoles, na Itália Imagem: Emmanuele Ciancaglini/NurPhoto via Getty Images

Do UOL, em São Paulo

06/05/2020 16h37

Especialistas ouvidos pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha ações de combate ao coronavírus foram unânimes em defender a testagem em massa da população. Em reunião realizada hoje por videoconferência, eles alertaram, porém, sobre a possibilidade de falso negativo dos chamados testes rápidos.

Os testes moleculares (ou RT-PCR), feitos a partir da coleta de mucosa do nariz e da garganta, possibilitam a detecção do vírus já nos primeiros dias da doença. Já os testes rápidos (ou sorológicos), feitos a partir da coleta de sangue, detectam anticorpos —ou seja, se a pessoa já teve contato com o vírus—, mas apenas cerca de dez dias após o contato.

Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), informou que a capacidade de produção de testes moleculares pela fundação foi ampliada de 58 mil, em março, para 1,2 milhão de testes em abril. Para maio, a expectativa é a produção de 2,4 milhões de testes moleculares.

Porém, superada a dificuldade de ampliar a capacidade de produção —com a possibilidade de realizar 10 mil testes por dia no Brasil—, ele afirmou que há outros gargalos.

Em primeiro lugar, segundo Krieger, é preciso formular estratégia para a testagem da população, apontando grupos prioritários. Em segundo lugar, é necessário desenvolver sistemas de coleta e logística para que as amostras cheguem às centrais da Fiocruz de análise dos testes. No Rio de Janeiro, por exemplo, há cinco unidades de análise.

O processamento dessas amostras, tanto em laboratórios públicos quanto privados, também é um problema, como apontado pelo coordenador de Vigilância em Saúde da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha. O processo, segundo ele, é muito delicado, com risco de infecção dos trabalhadores, o que exige a contratação de mão de obra especializada, além de espaço físico.

Outra questão, segundo Cunha, é a exigência legal de que a amostra venha acompanhada do CPF do paciente. Ele alertou que a maior parte da população não tem carteira de motorista com CPF, e não acessa o número quando está passando mal. "Corremos o risco de criar gargalo adicional", opinou.

Marco Krieger estima que, resolvidos todos os problemas apontados, 40 mil testes poderiam ser realizados por dia.

Testes rápidos

Teste rápido de covid -  Lucas Ninno/Getty Images -  Lucas Ninno/Getty Images
Imagem: Lucas Ninno/Getty Images

Wilson Shcolnik, presidente da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), destacou que cerca de 15 laboratórios privados também já realizam testes moleculares. Ele estima que de 20 a 25 mil exames estejam sendo feitos por dia nesses laboratórios.

Entretanto, Shcolnik chamou atenção para o problema do compartilhamento de informações com as secretarias de Saúde. Segundo ele, os laboratórios entraram em contato com o DataSUS para enviar dados às redes de saúde, mas o processo não está finalizado, o que deixa muitos dos dados dos laboratórios privados de fora das estatísticas oficiais.

O presidente da Abramed foi um dos que chamaram a atenção para os possíveis problemas dos testes rápidos. Os falsos negativos, apontou, podem levar pessoas a voltar a circular normalmente, podendo infectar outras.

Supervisor médico do Laboratório de Biologia Molecular da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Alessandro Pasqualotto salientou que colher o sangue muito cedo é o problema no caso desses testes. Ele considera a coleta segura apenas depois de duas semanas,

Rivaldo Venâncio, da Fiocruz, acredita que falta uma orientação adequada sobre o melhor dia para uso do teste a partir do início dos sintomas. "A partir do 10 dia, por exemplo, a possibilidade de detecção de anticorpos será muito maior", avaliou.

O que pensam os parlamentares

Relatora da comissão externa, a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC) ressaltou a importância de descentralização das unidades de análise dos testes e sugeriu o aproveitamento da capacidade de universidades e hemocentros para isso.

Já a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) acredita que a testagem deve ser prioritária em áreas de alta concentração demográfica, como favelas e áreas periféricas das cidades, onde, segundo ela, "oito pessoas dividem o mesmo cômodo".

Jorge Solla (PT-BA), por sua vez, alertou que os profissionais de enfermagem não estão sendo testados no Brasil e que mais trabalhadores da área já morreram no País do que na Espanha e na Itália juntas, somando 73 ao todo.

*Com Agência Câmara de Notícias