'RJ, SP e AM terão massacre', diz cientista sobre relaxar distanciamento
Um grupo de cientistas de universidades de São Paulo estima que as cidades brasileiras que reduziram o distanciamento social nesta semana podem ter um aumento de 150% no número de infectados e mortos pelo novo coronavírus em dez dias.
Em entrevista ao jornal O Globo, Domingos Alves, especialista em modelagem computacional, integrante do portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas e estudantes de universidades brasileiras, explicou que as projeções são baseadas em números oficiais e nas taxas de crescimento de casos registradas em cidades que afrouxaram o distanciamento como Blumenau (SC), cujos registros aumentaram com a reabertura de shoppings.
Os pesquisadores calculam que, em São Paulo, se o percentual atual de distanciamento social, hoje em 50%, cair para 25%, haverá dentro de dez dias mais 11 mil casos novos e 56 mil internações. O estado se prepara para uma abertura parcial das atividades econômicas, mesmo com os casos crescentes — até ontem, foram registrados mais de 118 mil diagnósticos da covid-19 e 7.994 óbitos, os maiores números entre os estados do país. A capital paulista registrou recorde de mortes na primeira semana de flexibilização.
"Isso esgotará os leitos disponíveis e levará ao caos. O único distanciamento que vemos neste momento é aquele entre o que falam governadores e prefeitos e o que dizem os comitês científicos que os assessoram. O relaxamento social só tem motivação política. Não existe ciência nisso. Os estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e Amazonas terão um massacre", diz Alves.
Análises feitas pelo grupo mostram que a curva de crescimento do Brasil é a que mais acelera no mundo e a única que a partir do 50° dia após o surgimento de casos a manter essa tendência. Em quase todos os estados o crescimento da covid-19 continua a acelerar.
Ontem, o Brasil registrou recorde de mortes nas últimas 24 horas, com 1,262 óbitos, segundo dados do Ministério da Saúde. O total de mortos no país pela covid-19 é de 31.199, quarta maior marca do mundo.
"Não estamos falando do que vai ocorrer dentro de um ou dois meses, mas de uma semana a dez dias. Até agora, temos acertado nossas projeções e, por isso, estamos tão preocupados. É nosso dever alertar a população de que ela foi liberada para ir ao abatedouro", afirma Alves.
Segundo o cientista, o relaxamento do distanciamento social adotado no Brasil "não tem qualquer base científica". Para o grupo, cidades como Manaus, Belém, Rio e São Paulo deveriam adotar o lockdown, e não afrouxar as restrições.
Alves vê a situação do estado do Rio como particularmente preocupante devido à alta taxa de ocupação dos leitos do SUS -- 83%.
"A palavra é dura, mas será um genocídio. Nenhum governo estadual teve coragem de falar em fila única de saúde, e esses pacientes, em sua maioria pobres, não terão assistência. Vão morrer em casa. É fácil botar a culpa na população, mas a responsabilidade de estabelecer regras e de dar segurança é dos governantes."
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