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Hospital de campanha: RJ pagou por leito 90% mais do que rede privada

3.jun.2020 - Movimentação em frente ao hospital de Campanha do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro - Felipe Duest/Photopress/Estadão Conteúdo
3.jun.2020 - Movimentação em frente ao hospital de Campanha do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro Imagem: Felipe Duest/Photopress/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

27/07/2020 04h00

O governo do Rio de Janeiro pagou 90% a mais por leito do que a rede privada nos dois hospitais de campanha estaduais inaugurados e efetivamente usados no combate à covid-19 no estado.

Segundo levantamento do UOL, cada leito de campanha inaugurado pelo governo teve custo médio de R$ 581 mil. Já os dois hospitais de campanha financiados e construídos pela Rede D'Or em parceria com empresas tiveram custo médio de R$ 305 mil por leito.

No último dia 17, o governo de Wilson Witzel (PSC) anunciou o fim temporário das atividades dos hospitais de campanha do Maracanã (zona norte da capital fluminense) e de São Gonçalo, na região metropolitana —os únicos que chegaram a entrar em funcionamento dos sete planejados inicialmente.

Somadas, as duas unidades tinham capacidade para 440 leitos de UTI e internação, voltados exclusivamente a pacientes com covid-19.

O investimento do governo fluminense foi de R$ 256 milhões para construção e gestão de sete unidades de campanha —além dos dois hospitais que saíram do papel, três não têm previsão de inauguração e outros dois foram abandonados na fase de obras.

O governo escolheu o Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde) para construir e gerir os hospitais de campanha. O custo médio de R$ 581 mil por leito envolve equipamentos, insumos, profissionais de saúde e a própria construção da estrutura das unidades. A maior parte dos leitos prometidos não foram entregues, o que encarece o valor médio.

Os R$ 256 milhões repassados ao Iabas são uma parte do valor total do contrato firmado pela gestão Witzel com a organização social. Originalmente, os sete hospitais de campanha deveriam totalizar 1.300 leitos e o valor total pago chegaria a R$ 770 milhões. O governador, no entanto, rompeu o contrato no início do mês.

Com 400 leitos somados, os dois hospitais de campanha financiados e construídos pela Rede D'Or em parceria com empresas custaram R$ 122 milhões —o que leva a um custo médio de R$ 305 mil por leito. Os valores consideram a construção, compra de equipamentos e insumos, além da administração de toda a estrutura e das folhas de pagamento.

Esses leitos passaram a integrar o SISReg (Sistema de Regulação) do município e foram colocados à disposição dos pacientes com covid-19 por meio do SUS (Sistema Único de Saúde).

Hospital de campanha do Maracanã, na zona norte do Rio - Delmiro Junior/Agência O Dia/Estadão Conteúdo - Delmiro Junior/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Hospital de campanha do Maracanã, na zona norte do Rio
Imagem: Delmiro Junior/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Procurada, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) não esclareceu quais valores, desses R$ 256 milhões, foram destinados especificamente para os hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo. De acordo com dados do Portal Transparência do governo, os repasses ao Iabas são registrados de forma genérica, sem especificar em quais hospitais foram empregados.

Em paralelo aos atrasos na entrega dos hospitais, o Ministério Público (estadual e federal) deflagrou operações contra fraudes em contratos da Saúde e possível favorecimento de empresários durante a pandemia. Na quinta-feira (23), o Iabas foi alvo de operação do MP-RJ e da Polícia Civil por suspeita de fraudes na prestação de serviços na área da Saúde do município.

Outro lado

A reportagem procurou o governador Wilson Witzel e representantes da Secretaria Estadual de Saúde sobre os custos dos leitos de campanha. A assessoria de imprensa do governador indicou que a demanda fosse encaminhada à secretaria que, por sua vez, não se manifestou sobre os valores tampouco indicou um porta-voz para comentá-los.

Na semana passada, o Iabas se disse "vítima da falta de gestão e transparência das ações do Estado a respeito dos hospitais de campanha" ao dizer não ter sido comunicada sobre o fechamento dos hospitais do Maracanã e de São Gonçalo.

Por meio de nota, a OS atribuiu atrasos na entrega de equipamentos a decisões do governo e disse que, em 12 de junho, quatro das unidades ainda não abertas estavam prontas. "Por essa razão, o Iabas entrou com ação de antecipação de provas e obteve uma decisão judicial para que seja formada uma comissão multidisciplinar para analisar e avaliar todas as entregas já feitas pelo instituto e não reconhecidas pelo Governo."

Procurada pelo UOL, o Iabas não se manifestou sobre os custos dos leitos inaugurados. Em um comunicado, a OS informou que "ofereceu todos os serviços necessários aos hospitais de campanha e com preço inferior aos seus concorrentes, por isso deu-se sua contratação".