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Com óbitos em cidade da região serrana, mortes por covid atingem 100% do RJ

5.ago.2020 - Prefeitura espalhou álcool em gel em frente a comércio, agências bancárias e na praça de Trajano de Moraes (RJ) - Herculano Barreto Filho/UOL
5.ago.2020 - Prefeitura espalhou álcool em gel em frente a comércio, agências bancárias e na praça de Trajano de Moraes (RJ) Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

12/12/2020 17h27

Com a confirmação de dois óbitos em uma cidade da região serrana, as mortes por covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, já atingem 100% do estado do Rio de Janeiro. Os casos foram confirmados ao UOL pela prefeitura de Trajano de Moraes (RJ), município a 250 km da capital que conseguiu impedir a disseminação do vírus com distribuição de máscaras para a população, barreiras sanitárias e testes no auge da pandemia.

Entretanto, as confirmações das mortes não constam no boletim divulgado hoje à tarde pelo governo do estado devido a uma defasagem nos registros repassados pelos municípios. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, o Rio já contabiliza 23.718 mortes relacionadas à pandemia, com 388.431 casos confirmados. A capital fluminense concentra 13.918 óbitos, o equivalente a 58,7% dos casos no estado.

A primeira morte em Trajano de Moraes (RJ) foi de uma senhora com problemas respiratórios, internada em estado grave com sintomas compatíveis com covid-19 no começo de novembro no Hospital Municipal Francisco Limongi. Ela foi transferida às pressas um dia depois da internação, mas morreu a caminho de um hospital de referência para o vírus. O segundo caso ocorreu no fim de novembro após a morte de um homem de 60 anos.

"O nosso objetivo era não ter óbitos. Não foi possível. Agora, o objetivo é evitar ao máximo que ocorram novas mortes. A nossa maior dificuldade é manter a adesão às medidas de isolamento", explica o Saulo Pacheco, secretário de um gabinete de crise, que coordena ações de secretarias e Defesa Civil em relação às medidas de combate à covid-19.

O município adota regras rígidas, como a obrigatoriedade no uso de máscaras de proteção e a proibição de consumo no interior de bares e restaurantes, que só funcionam com base na entrega de comida sob encomenda. Trajano de Moraes também voltou a fazer o serviço de higienização de espaços públicos em áreas de maior circulação de pessoas.

Sistema de saúde à beira do colapso na capital

Com 90% das UTIs da rede pública voltadas para pacientes com covid-19 ocupadas, o sistema de saúde da capital fluminense está à beira de um colapso. Hoje, há cerca de 250 pessoas com sintomas graves da doença à espera de vaga. Na rede privada, a situação é ainda pior, com lotação de 97% dos leitos e pacientes em estado grave nas emergências à espera de UTI.

Em meio a esse cenário, 16 mil profissionais de saúde do município estão com os salários atrasados —entre eles, funcionários do Hospital Ronaldo Gazolla, unidade de referência para covid-19, e do Hospital de Campanha do Riocentro, voltado exclusivamente para a pandemia. Governo e prefeitura prometeram abrir 300 vagas nos próximos 15 dias. Mas se recusaram a impor novas medidas de restrição.

Festas de fim de ano agravam problema

Especialistas preveem um cenário nebuloso até a chegada da vacina, no próximo ano. Para o epidemiologista Diego Ricardo Xavier, pesquisador da Fiocruz, a tendência é que o cenário de colapso se agrave com o deslocamento das pessoas nas festas de fim de ano.

Ele ainda traça um paralelo entre as ações adotadas no começo da pandemia e o momento atual, com desrespeito às medidas de isolamento social e de controle do vírus.

Infelizmente, as pessoas estão abandonando as medidas de distanciamento e o uso de máscara. E, como devem se movimentar para fazer compras e viajar no fim do ano, a tendência é que o vírus se espalhe ainda mais
Diego Ricardo Xavier, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz]

Ele ainda enumera outros agravantes, como a falta de recursos extras para o sistema de saúde, o represamento de cirurgias eletivas e ainda a previsão de acidentes de trânsito em deslocamentos durante o Natal e Ano Novo. "O cenário é extremamente preocupante", avalia.