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Covid: Pesquisadores citados em plano de vacinação negam aval a documento

Enfermeira aplica vacina em mulher  - iStock
Enfermeira aplica vacina em mulher Imagem: iStock

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

12/12/2020 21h43Atualizada em 22/03/2021 16h22

Um grupo de pesquisadores citados como colaboradores do plano nacional de vacinação contra covid-19 do governo federal diz não ter tido acesso ao documento. O plano foi entregue neste sábado pela AGU (Advocacia Geral da União) ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Em nota assinada por 36 pessoas, o grupo técnico do "Eixo Epidemiológico do Plano Operacional Vacinação Covid-19" se disse surpreendido com o documento e afirma que o texto "não lhe foi apresentado" nem teve sua anuência.

"Importante destacar que o grupo técnico havia solicitado reunião e manifestado preocupação pela retirada de grupos prioritários e pela não inclusão de todas as vacinas disponíveis que se mostrarem seguras e eficazes", diz o texto divulgado pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

O grupo questiona ainda as prioridades estabelecidas pelo plano. "Reiteramos nossa recomendação técnica para que todas populações vulneráveis sejam incluídas na prioridade de vacinação, como indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas, privados de liberdade e pessoas com deficiência", diz o texto.

Mais cedo, a enfermeira e epidemiologista Ethel Maciel, professora da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), informou em seu Twitter que soube pela imprensa sobre o envio do plano.

Em entrevista à GloboNews na noite do sábado, Maciel disse o governo não deu explicações sobre a divulgação do documento e reafirmou que nenhum deles teve acesso ao relatório final.

"A gente nunca viu nenhuma versão desse documento. Tivemos várias apresentações reuniões junto com o PNI [Plano Nacional de Imunização]. Se ele fosse um interno, já seria problemático ter os nomes sem nossa anuência", protestou Maciel. "Nossa mais alta corte [STF] tem um documento que consta o nome de diversas pessoas que elaboraram e você nem teve acesso a esse documento."

Ela criticou também as prioridades publicadas, com a retirada de pessoas do sistema prisional e profissionais da educação. O problema, diz ela, é que o plano publicado se adapta "ao número de doses que o governo tem".

Não estamos falando nem de vacina pra todos, que é nossa plataforma, mas nesse grupo a gente entende a dificuldade do momento, mas tem de garantir vacina para a população privada de liberdade, que, misteriosamente, foi tirada do documento"

"Tem vários colegas analisando o plano e o fato de o nosso nome estar lá sem você ter concordado com isso é constrangedor", concluiu Maciel. "Não estamos trabalhando para esse governo, estamos trabalhando para a sociedade", disse.

Procurado no sábado à noite, o Ministério da Saúde não respondeu. Neste domingo, o governo afirmou que os pesquisadores citados como colaboradores do plano foram consultados como convidados para participarem de debates, mas "sem qualquer poder de decisão" na formalização do documento.

O grupo de pesquisadores solicitou uma reunião com o ministério, que deve ocorrer amanhã (14).

Plano nacional

O plano foi divulgado ontem após determinação do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, e prevê a necessidade de 108 milhões de doses de vacina para os grupos prioritários. Esta primeira etapa está prevista para o primeiro semestre de 2021.

O programa é divido em dez eixos, passando pela definição de população-alvo, vacinas que serão aplicadas, operacionalização das campanhas, orçamento e comunicação que será adotada.

As diretrizes no plano buscam apoiar as Unidades Federativas e os municípios no planejamento e na operacionalização da vacinação contra a covid-19.

Segundo o documento, também serão avaliados o cenário epidemiológico da covid-19 e a compra dos imunizantes após aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para alterações.

"O êxito dessa ação será possível mediante o envolvimento das três esferas de gestão em esforços coordenados no SUS (Sistema Único de Saúde), mobilização e adesão da população à vacinação", informa o plano.

O plano ressalta que, atualmente, as vacinas contra a covid-19 encontram-se em estudos de fase 3 e ainda não há um medicamento registrado e licenciado pelo país.

(Com Reuters)