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Trabalho 12 h com pacientes de covid, não ligo para fake news, diz Monica

Do UOL, em São Paulo

21/01/2021 18h26Atualizada em 22/01/2021 12h54

Para a enfermeira Monica Calazans, a primeira pessoa vacina contra a covid-19 no Brasil, pouco importam as fake news a seu respeito, seu foco é no trabalho como instensivista no Hospital Emílio Ribas, referência em infectologia. A declaração foi feita durante o UOL Entrevista de hoje, conduzido pelo colunista Diogo Schelp e pela repórter Carolina Marins.

Após a vacinação, perfis fakes com seu nome foram criados nas redes sociais e fotos antigas suas foram utilizadas como suposta denúncia de que participasse de aglomerações em meio à pandemia.

Eles estão surfando na minha onda. Antes de falar de mim, têm que saber minha história, saber de onde vim, como eu vim. São 12 horas de trabalho cuidando de pacientes de covid."

Monica relatou que, enquanto recebia a vacina, mais de 300 perfis no Twitter foram criados com o seu nome. Ela afirmou que era de se esperar que virasse alvo das notícias falsas, mas lamentou o ocorrido e mencionou que "pessoas inescrupulosas" recorreram até a imagens de seu marido, morto em 2017, para atacá-la.

Não vou ficar falando dessas notícias que são inverdades. Não vou dar ibope para fake news. Sou uma pessoa séria, com trajetória. Quando você está em evidência, você incomoda. Levanto cedo, sou comum, trabalhadora, como todo brasileiro. É simples falar de mim sem me conhecer."

Uma foto sua na praia no fim do ano passado também foi revivida por militantes bolsonaristas para acusá-la de supostamente promover fake news.

Aquela foto da praia eu não vi como aglomeração porque tinham 3 pessoas. Na água não se usa máscara."

Grupos antivacina

Uma das inverdades que circulou nas redes sociais a respeito da enfermeira apontava Monica como "cobaia" do governo na vacinação. A profissional de saúde foi uma das voluntárias da CoronaVac em São Paulo, mas como recebeu o placebo, acabou escolhida para receber o imunizante no último domingo.

Os ataques, disse ela, se resumiram às redes sociais. Desde o início da campanha de vacinação no país, Monica relatou não ter sido abordada por nenhuma pessoa contrária à vacinação.

Eu ainda não encontrei com essas pessoas, elas estão nas redes sociais. Até minha pessoa, ninguém chegou. Muito pelo contrário: quem eu encontro fica feliz em saber que fui a primeira. Existe uma luz no fim do túnel."

"Quando você está em evidência, você incomoda", lamentou a enfermeira. No entanto, Monica disse que não vai dar atenção ao que circula nas redes sociais.

Solidariedade com os pacientes

Embora seja hipertensa, diabética e obesa, a enfermeira escolheu trabalhar no hospital Emílio Ribas porque queria atuar "no epicentro da covid".

Em momento algum as comorbidades foram empecilho, porque no Emilio Ribas estou protegida por conta dos EPIs e lá sei que só tenho pacientes de covid."

Durante os mais de dez meses trabalhando na linha de frente contra o coronavírus, ela disse que o maior aprendizado foi o de ser solidária com os pacientes.

Cada paciente apresenta um sintoma, você não pode engessar. Não tem um 'é assim para todo mundo'. Neste momento da doença, o que podemos fazer, que alcança a todos, é ser solidário, ser humano, ter o respeito ao próximo e entender o momento que ele está passando."

"Carinho, humanização e solidariedade, isso é essencial, junto com o tratamento médico", acrescentou ela.

"Não me envolvo em briga política"

Monica se disse surpresa com a repercussão em torno da escolha dela como a primeira vacinada, mas não enxergou o uso de sua identidade para fins políticos. "Tudo bem que foi um grande evento, mas o que entendi é que eu ia tomar a vacina, seria fotografada e acabar ali", declarou.

A enfermeira evitou falar sobre a politização em torno da vacina e da logística de imunização no país. "Não me envolvo na briga política", observou. Mas deixou claro que espera ver toda a população vacinada e que exista um plano ao menos até o final do ano.

Não vou falar de governo, de ministério. O que eu sei, e que acredito, é que se a gente deu início a tudo isso, alguma coisa vai ser feita até o final do ano. Não entendo como será distribuído, se tem insumo. Mas, acredito que até o final do ano a população será imunizada, essa é minha esperança."

Questionada a respeito da falta de vacinas o suficiente para imunizar a população-alvo da primeira fase do PNI (Plano Nacional de Imunização), Monica relatou que a maioria das pessoas com quem trabalha já foram vacinadas e que acredita na imunização completa da população até o fim do ano.

Mas mesmo sem se envolver no contexto político em torno da vacinação, Monica diz que aceitaria ser o rosto de uma campanha de imunização em massa.

Eu aceitaria [fazer uma campanha de vacinação]. Se fosse para sair de casa para ir vacinar o povo, com certeza seria um prazer."

Pacientes isolados: a maior dificuldade

Monica se tornou enfermeira aos 47 anos e começou a trabalhar no hospital Emílio Ribas em maio, no auge da primeira onda da pandemia no Brasil. Em todo esse período, o que mais a marcou foi o isolamento dos pacientes e seus familiares.

O que me marca é a internação. Essa questão do distanciamento familiar, isso é muito triste, a gente não sabe da evolução da doença, não sabe se é o último dia que vai ver a família, isso é muito desgastante neste sentido."

Infelizmente boa parte de seus pacientes não sabe que ela foi a primeira pessoa vacinada contra o coronavírus no Brasil. A maioria, contou, está intubado e sedado. Mas aqueles que sabem, veem ali uma esperança.

No outro hospital que trabalho, os pacientes ficaram muito felizes que fui a primeira. É a esperança de todo mundo."

Ajuda do filho

Monica disse que não foi preparada para lidar com a popularidade nas redes sociais. Quem a ajuda a administrar mensagens e interações na internet é o único filho, Felipe Augusto, de 30 anos.

"Para não passar vergonha, ele que me assessora", contou ela, que disse nunca ter dominado muito bem o universo das redes sociais.

O filho foi a primeira pessoa da família que a enfermeira encontrou após ser vacinada e conta que recebeu uma recepção calorosa de Felipe.

Quando o encontrei, ele me deu um abraço e disse que tinha muito orgulho de mim e estava comigo."

Ela própria tem muito orgulho de ter sido a primeira vacinada e se sentiu representando toda a sua classe de enfermagem. "Essa coisa de ser negra, eu tenho muito orgulho da minha raça, mas o que valeu mesmo é ser enfermeira. A enfermagem está sendo representada."

Ser enfermeira, inclusive, não foi uma decisão natural, conta. Depois de trabalhar no setor administrativo de um hospital aos 19 anos, ela começou a se interessar pela área.

Com incentivo, fiz o curso de auxiliar e a graduação em enfermagem, assim que minha trajetória começou."

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