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Taxa de testes de covid em São Paulo equivale a 9% dos feitos em Nova York

Multidão se aglomera no metrô em São Paulo durante pandemia - NurPhoto/Colaborador Getty Images
Multidão se aglomera no metrô em São Paulo durante pandemia Imagem: NurPhoto/Colaborador Getty Images

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

26/02/2021 04h00

Um ano após o Brasil registrar seu primeiro caso do novo coronavírus, a Prefeitura de São Paulo continua realizando poucos testes de covid-19 em sua população em comparação com outras grandes cidades do mundo. Pesquisa feita a pedido do UOL indica que a taxa de testes da capital paulista é menor do que as de cidades como Paris, Nova York, Madri, Lima e Buenos Aires.

O baixo índice de testagem é apontado como a principal razão para que 770 mil moradores da cidade estejam neste momento sendo monitorados pela prefeitura como casos suspeitos —são pessoas que recorreram a hospitais e postos de saúde, mas voltaram para casa sem realizar o teste.

Ao todo, 19.559 pessoas morreram de covid-19 na capital paulista desde o início da pandemia segundo balanço da quarta-feira (24). Outros 7.024 casos de falecimento são considerados suspeitos.

A Secretaria Municipal de Saúde diz que a testagem está disponível em todas as unidades, "desde que o paciente atenda às recomendações do Ministério da Saúde", que exige encaminhamento médico para o teste (leia abaixo).

De acordo com a pasta, a rede pública de São Paulo aplicou até o dia 14 de fevereiro cerca de 2 milhões de testes:

  • 1,3 milhão de exames de RT- PCR, considerados os melhores;
  • 500 mil testes rápidos;
  • 232 mil sorológicos, que indica se a pessoa já teve a doença;

Esse total significa que São Paulo fez 17.030 exames para cada 100 mil habitantes. De um ranking com 12 cidades e centros urbanos pelo mundo, ela ficou em penúltimo lugar, segundo levantamento feito a pedido do UOL pela Info Tracker, uma plataforma criada pela USP e Unesp para monitorar a pandemia, que colheu dos boletins dos governos locais a quantidade de testes públicos aplicados por lá.

A maior diferença proporcional é em relação a Nova York, que aplicou 10,7 vezes mais testes —ou 182.408 para cada 100 mil habitantes, equivalente a 9,3% da taxa paulistana. Mas os paulistanos também foram menos testados do que grandes cidades em desenvolvimento, como Nova Déli, capital da Índia, Buenos Aires e Lima.

"Isso explica por que a pandemia é grande em São Paulo", afirmou ao UOL o coordenador do Info Tracker e professor da Unesp, Wallace Casaca. "Comparada com outras cidades, São Paulo parece não testar o suficiente de forma que a cadeia de transmissão da doença nunca é quebrada."

São Paulo só perde para Tóquio porque o banco de dados do site local só informa sobre a aplicação de testes do tipo RT-PCR. "Não há informações sobre testes rápidos. Se somado, possivelmente ultrapassa a capital paulista", diz o professor.

770 mil não sabem se estão doentes

Uma das consequências foi a disparada da quantidade de "casos suspeitos monitorados" pela prefeitura. Em 21 de fevereiro, 770 mil pessoas eram acompanhadas à distância pelas equipes de saúde depois de visitarem uma unidade pública com sintomas respiratórios e voltarem para casa sem o teste de covid-19.

Dos municípios da Grande São Paulo que tornam pública essa informação, os casos suspeitos passaram de 104 mil para 185 mil entre 1º de novembro do ano passado e 23 de fevereiro, salto de 77%.

"Não conheço os detalhes de cada caso, mas incomoda que tenha um número tão grande de pessoas sem acesso ao teste, condição fundamental para implementar medidas de isolamento social", afirmou ao UOL o infectologista Marco Aurélio Sáfadi, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Uma vez que chega o resultado do teste positivo, o paciente se sente motivado a se isolar e avisa as pessoas que tiveram contato com ele. Se ele não for submetido ao teste, vai assumir uma postura de risco: não se isola e não avisa ninguém"
Marco Aurélio Sáfadi, infectologista

Procurados, a prefeitura, o governo estadual e a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) não souberam informar quantos testes a iniciativa privada aplicou na cidade.

A associação estima apenas o total de testes em todo o Brasil: 7 milhões até dezembro, mas sem detalhes sobre quantos são do tipo RT-PCR ou rápido. O custo de um exame PCR nos principais laboratórios privados da cidade de São Paulo gira em torno de R$ 270.

O que diz a prefeitura

A Secretaria Municipal de Saúde afirma que "segue todos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde", que pede aos municípios que priorizem a testagem de quem apresenta sintomas de covid-19, "desde que classificados como casos suspeitos após avaliação médica".

Segundo o protocolo ministerial, o paciente que apresentar sintomas de gripe deve permanecer em casa por 14 dias. Se os sintomas persistirem, o teste deverá ser realizado a partir do oitavo dia. Para isso, contudo, o médico precisa classificar o caso como suspeito e pedir o exame.

"O protocolo aconselha a não testagem de indivíduos assintomáticos", afirma a prefeitura em nota. Por um período de 14 dias, a prefeitura diz monitorar diariamente os pacientes com sintomas respiratórios leves.

"Eles recebem orientação de isolamento domiciliar com atestado médico", afirma. "A testagem está disponível em todas as unidades de saúde, desde que o paciente atenda às recomendações do Ministério da Saúde."

Casaca diverge da metodologia da secretaria por "se resguardar com o protocolo do ministério" e só testar os casos graves. "O problema é que os assintomáticos continuam nas ruas contaminando outras pessoas", diz.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que amplia o diagnóstico da covid-19 "com protocolos para diagnóstico clínico, radiológico, além da ampliação da capacidade laboratorial". "Com isso, mais pessoas são diagnosticadas precocemente e atendidas, favorecendo a adoção de medidas de isolamento de casos e o monitoramento de contatos".