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20% dos brasileiros com mais de 40 anos não se vacinaram contra covid

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

15/07/2021 04h00

Aproximadamente 20% dos brasileiros com mais de 40 anos não se vacinaram contra a covid-19. Ou cerca de 17 milhões de pessoas não procuraram um posto de saúde para receber a primeira ou a dose única do imunizante, segundo cálculo da Info Tracker, plataforma de monitoramento de dados das universidades paulistas USP e Unesp.

Para chegar ao número, foi utilizada a base de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para cruzar o tamanho de cada faixa etária da população com o total de primeiras doses e doses únicas aplicadas por idade até agora, segundo registros do PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Em seu Painel de Vacinação da Covid-19, o Ministério da Saúde alerta que 5,1 milhões de primeiras doses aplicadas desde janeiro ainda não foram registradas em seu banco de dados.

"Para que não houvesse distorção, distribuímos esse número —na mesma proporção informada pelo painel— entre todas as faixas de idade que já receberam a primeira dose", diz o coordenador da Info Tracker, o professor da Unesp Wallace Casaca.

brasileiros acima de 40 anos não vacinaram -  -

Infectologista da Fundação de Medicina Tropical de Manaus, Noaldo Lucena explica que a concentração de pessoas não vacinadas na faixa dos 40 anos —41% de não vacinados— se deve ao fato de a população nessa idade ser maior do que as anteriormente vacinadas. Além disso, a vacinação desse grupo acabou apenas recentemente nas capitais, mas continua em algumas cidades do interior.

"Essa também é a faixa populacional de maior produtividade", diz o médico. "A perda em dias trabalhados após infecção e, em alguns casos, a perda de vidas, pode afetar a economia."

Vacinação em massa

Para a saúde pública, diz o infectologista, as consequências podem ser ainda maiores.

"Se o vírus continuar se replicando, ele vai gerar outras variantes que podem escapar da vacina ou serem mais contagiosas", diz o médico. A Delta, detectada primeiramente na Índia, por exemplo, se propaga tão rápido na Europa que em três meses será responsável por 90% dos casos de covid-19 na região.

Um estudo também indicou que essa variante pode driblar parcialmente anticorpos de curados e vacinados.

Por isso a necessidade de vacinação em massa, diz o médico. "Se fala muito em vacinação de rebanho, mas o que é isso? A epidemiologia fala em vacinação acima de 70%, mas o ideal é 90%, porque cria um cinturão ao redor de quem não foi vacinado, impedindo que o vírus se propague."

Ele cita os resultados da vacinação de toda a população adulta da cidade de Serrana (SP), a 315 km da capital paulista. O experimento com a CoronaVac, do Instituto Butantan, derrubou os casos sintomáticos de covid-19 em 80%. As internações caíram 86%, e as mortes, 95% após a segunda dose.

Lucena diz que o governo não deve abandonar a população que até agora não buscou um posto de saúde.

O poder público precisa procurar essas pessoas com campanhas publicitárias incisivas. As pessoas também precisam assumir sua responsabilidade e buscar a vacina. Por elas e pelos outros.
Noaldo Lucena, infectologista

Na França, por exemplo, houve uma corrida pela vacina depois que o presidente, Emmanuel Macron, anunciou a necessidade de apresentar a carteirinha de vacinação para frequentar espaços de cultura e lazer no país.