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'Médicos estão todos adoecidos', diz sindicato sobre paralisação em SP

Movimentação na UBS Humaitá, região central de São Paulo, em janeiro; casos de covid voltam a subir Imagem: Lucas Borges Teixeira /UOL

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

18/01/2022 04h00

Exaustão, carência de profissionais e falta de insumo e de infraestrutura nas UBSs (unidades básicas de saúde) em São Paulo. Essas são as reclamações do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo) ao anunciar a paralisação da classe na atenção básica da cidade para a próxima quarta-feira (19).

Ao UOL, uma representante da entidade declarou que profissionais têm pedido demissão por causa do aumento das demandas e diz que não há ampliação no quadro de profissionais. A SMS (Secretaria Municipal de Saúde) rebate. Diz já ter realizado 280 contratações desde dezembro e autorizado outras 700.

Ontem (17), o sindicato e outros representantes da classe se reuniram com o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, mas não chegaram a um consenso. A SMS afirma que vai estender o horário de atendimento nas UBSs para desafogar o fluxo e criar tendas de gripários, uma das demandas da categoria.

A proposta fechada pela classe médica é de paralisação de 24h nas UBSs a partir da manhã de quarta (19). O sindicato diz que a paralisação é permitida sem um contingente mínimo porque unidade básica não é considerada atendimento emergencial —diferente de prontos-socorros. A entidade estima que a paralisação envolva de 300 a 400 profissionais. Está marcado um ato em frente à Prefeitura para as 15h de quarta.

Aparecido lamenta a situação, diz que tem atendido às demandas da classe, mas garante que o sistema seguirá funcionando na cidade mesmo com a paralisação.

Covid e burnout

UBSs cheias, filas que batem 4h de espera e falta de profissionais. De acordo com a médica Vanessa Araújo, da rede municipal de São Paulo e representante do Simesp, este é um cenário cada vez mais comum nas 469 unidades básicas da capital.

Desde o início da pandemia, em março de 2020, as UBSs têm concentrado não só as funções básicas de atendimento à população, como funcionam como porta de entrada para os sintomáticos respiratórios.

"As equipes tão tendo de dar conta das demandas que já eram delas, como prevenção a doenças ou acompanhamento de gestantes, doença crônicas e crianças em desenvolvimento, junto aos sintomáticos respiratórios, que explodiram agora. Só que essas unidades não receberam nenhuma contratação de profissionais extras", afirma Araújo.

Chegamos num ponto que não dá mais. Todo mundo adoecido, quem não está afastado por covid ou burnout, está pedindo demissão. Não tem como não estimar colapso.
Vanessa Araújo, médica e representante do Simesp

Na reivindicação, o sindicato pede o aumento de 1.300 a 1.500 médicos no atendimento básico para suprir duas vias:

  • De 500 a 600 para suprir os profissionais afastados por quadros respiratórios ou burnout;
  • De 800 a 900 médicos (um a dois por UBS, a depender do tamanho) para atenderem exclusivamente sintomáticos respiratórios.

Ao UOL, Aparecido afirmou, após a reunião, que já contratou, junto às OSSs (Organizações Sociais de Saúde), 280 profissionais desde dezembro e já autorizou a contratação de mais 700, o que daria pelo menos mais 980 profissionais de saúde, de diferentes categorias, para ajudar no aumento da demanda.

O quadro de profissionais afastados é atualizado toda quinta-feira no boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde. O mais recente é do dia 13, havia 3.193 funcionários do setor de licença, 1.403 com covid-19 e 1.683 com síndrome gripal.

A SMS destaca que o número é pequeno se considerados os 94.526 profissionais da administração direta e de OSSs. O número, no entanto, duplicou em uma semana. Até o dia 6, eram 1.585 profissionais afastados, quase a metade da atualização seguinte.

Além da contratação de mais profissionais, o Simesp faz duas outras exigências principais:

  • Reposição imediata de insumos, medicamentos e materiais básicos, como luvas e máscaras;
  • Criação de gripários em parte das UBSs.

"Falta tudo. Não há materiais para os profissionais de saúde realizarem as tarefas mais básicas, como uma luva. Alguns medicamentos básicos também. Você quer passar uma dipirona, não tem", afirma Araújo.

"Sobre os gripários, sugerimos tendas para atendimento separado. A gente vê a contaminação cruzada, as pessoas vão à unidade para uma consulta comum ou vacinação e acabam se contaminando. É uma estrutura muito deficitária", denuncia.

É uma pauta que vai muito além dos interesses dos trabalhadores, é o interesse de fazer uma assistência digna à população. A gente não está pedindo nada de outro mundo, fazendo reivindicações fantasiosas. São reivindicações justas. É um pedido de socorro.
Vanessa Araújo, médica e representante do Simesp

Houve contratações e há diálogo, diz SMS

Ao UOL, a SMS afirmou ver o anúncio de paralisação "com estranheza", pois diz manter reuniões semanais de uma mesa técnica com participação da Simesp e afirma que há diálogo. Após a reunião de ontem, a pasta diz ter atendido aos seguinte pedidos:

  • Contratação de 280 médicos e profissionais de enfermagem desde dezembro e autorização de mais 700;
  • Pagamento de 100% do banco de horas acumuladas até 31 de dezembro do ano passado, efetuado ainda neste mês, com os salários de janeiro;
  • Pagamento de todas as horas extras e plantões extras na folha de pagamento do respectivo mês;
  • Autorização para OSSs comprarem medicamentos e insumos de forma emergencial;
  • Abertura de 165 "unidades-polo", que concentrem alta demanda de pacientes, aos finais de semana;
  • Aplicação de funcionamento de 33 AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais) e UBSs, das 19h para as 22h, e de outras seis unidades de 12h para 24h, a fim de desafogar a procura;
  • Montagem de 23 tendas para acolher sintomáticos respiratórios.

Quer dizer, fizemos praticamente tudo, estamos fazendo, para manter as unidades abertas. É que o sindicato não tem jeito. Eles querem de qualquer jeito decretar a greve. Mas estamos contratando mais 700 profissionais.
Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde de São Paulo

Em entrevista ao UOL ontem, Aparecido já havia afirmado que é possível garantir o atendimento na rede municipal de saúde, mesmo com greve. "Quando houve movimentos dessa natureza, sempre conseguimos fazer um remanejamento de profissionais e nunca faltaram médicos para atendimento", disse.

"Não é a primeira vez que o sindicato toma essa atitude [convocar paralisação]. Já anunciou greve em outros momentos de difícil enfrentamento da pandemia. Vale ressaltar que os médicos e profissionais da saúde foram responsáveis e ficaram ao lado da população", concluiu a SMS, em resposta.

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