Cientistas da Unicamp confirmam circulação do vírus mayaro em humanos em RR
Colaboração para o UOL, em São Paulo
12/05/2024 12h18
Estudo realizado pelo Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) confirmou a circulação do vírus mayaro entre humanos residentes no estado de Roraima.
O que aconteceu
Doença pode ser confundida com outras arboviroses. Em seres humanos, a infecção pelo vírus mayaro causa sintomas associados a febre aguda, dores no corpo, fadiga, artralgia e inchaço nas articulações, o que pode ser confundido com infecções causadas pela dengue e a chikungunya, que também são transmitidas por um mosquito — nesse caso, o Aedes aegypti.
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Além de detectar a doença em humanos, o estudo também apontou a possibilidade de transmissão urbana do vírus. A pesquisa identificou moradores que residem em cidades e não relataram atividades em áreas de mata, mas que foram diagnosticados com a doença.
Pesquisa coletou 822 amostras de pacientes em estado febril de Roraima entre 2018 e 2021. Desse total, foram identificadas a presença do mayaro em 3,4% delas. Entretanto, em 60% dos casos analisados, as pessoas testaram negativo para os oito vírus analisados, indicativo da circulação de novos patógenos.
Descoberta foi feita pela bióloga Julia Forato, como parte de sua pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia da Unicamp. O resultado foi publicado recentemente pela revista Emerging Infectious Diseases, publicação do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês).
Como diferenciar? A principal diferença nos sintomas do mayaro em relação a outras arboviroses, como a dengue, é que as dores musculares e articulares, além da febre, são mais intensas. Há registros de complicações da doença, como hemorragia, problemas neurológicos e, em alguns casos, a morte. Até o momento, não há imunização ou tratamento específico para a doença.
O mayaro tem como vetor o Haemagogus janthinomys, uma espécie de mosquito silvestre, que também é responsável por disseminar a febre amarela. No Brasil, o mayaro tem histórico iniciado em 1955 em Belém (PA). O vírus também já foi registrado em outros estados do Norte e do Centro-Oeste, além do Sudeste no Rio de Janeiro e no interior de São Paulo em estudos publicados em 2019. Mamíferos, incluindo humanos, e aves já foram apontados como hospedeiros do vírus, ou seja, "reservatórios" que transmite o material infectado para o mosquito.
Disseminação do mayaro está relacionada ao desequilíbrio ambiental, provocado pelo desmatamento, queimadas e exploração ilegal. A descoberta feita por Julia Forato é fruto de uma parceria internacional, que soma esforços de outras universidades brasileiras, dos EUA e do Reino Unido, para avaliar os impactos do aquecimento global e da atividade humana em florestas tropicais na disseminação de vírus emergentes.