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Pasternak critica constelação familiar no Judiciário: 'Revitimiza mulheres'

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/09/2024 11h47

A presidente do Instituto Questão de Ciência criticou o uso da constelação familiar para solucionar casos na Justiça brasileira. Ao Alt Tabet, do Canal UOL, a especialista afirmou que essa prática, além de reforçar preconceitos arraigados na sociedade, "revitimiza mulheres" que sofrem violência doméstica.

Natália afirmou que a constelação familiar se enquadra entre as práticas consideradas como pseudociência pela falta de evidências científicas de sua eficácia. "A constelação familiar é uma pseudociência preconceituosa, machista, racista, que revitimiza pessoas, principalmente mulheres vítimas de violência doméstica e de agressão".

Para Pasternak, recorrer a essa prática para solucionar casos judiciários "é algo muito sério". "[Isso] se infiltrou no nosso Judiciário na área de resolução de conflitos. Tem relatos de diversas mulheres que se viram submetidas a essas sessões de constelação familiar, onde a gente vê absurdos de mulheres induzidas a pedirem desculpas ao seus agressores em nome da 'harmonia da família'".

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É algo muito sério dentro do Judiciário brasileiro que precisa ser combatido e ser debatido publicamente, porque isso não pode continuar. Uma prática que força mulheres a se desculparem para os seus agressores é algo que você realmente precisa levar a sério.

Natália Pasternak é coautora do livro "Que bobagem!: pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério". Na obra, ela apresenta práticas populares no Brasil, mas que para Pasternak não têm evidências científicas que corroborem sua eficácia para solucionar problemas.

Pasternak diz que psicanálise é pseudociência

Ela reforçou sua tese de que a psicanálise é uma pseudociência com grande número de adeptos. "A psicanálise, dentro da ciência, é considerada uma pseudociência porque não apresenta evidências empíricas, científicas, de funcionar como uma prática clínica para tratar pessoas da mesma maneira que outras vertentes de psicologia comportamental. Então, nesse aspecto, a psicanálise, para a ciência, não é considerada científica. Agora, dizer que as pessoas gostam, que veem um valor literário, cultural, são outros aspectos que não entram na seara da ciência".

Natália admitiu que estudos clínicos na área de psicologia são complicados, porque é "difícil isolar todas as variáveis do mesmo jeito que você isola quando está testando um medicamento", sobretudo pelos "fatores de confusão". "Agora o interessante é que quando você pega todos os estudos clínicos que foram feitos com a psicanálise e que identificaram esses fatores de confusão, tem alguns fatores de confusão que trazem justamente esse elemento humano, e que daí confundem a própria eficácia da psicanálise como método para tratar pessoas".

Nesse sentido, Pasternak reforçou sua crença de que não é a psicanálise, mas sim a relação do paciente com o terapeuta que traz resultado ao tratamento. "Tem um estudo fala que a presença, a empatia, a relação com o terapeuta é muito mais importante para o desfecho [do tratamento] do que a técnica que o terapeuta usa. Então, se tem boa relação de troca [entre paciente e o profissional], quando bate o santo, isso é muito mais importante para o desenvolvimento do caso clínico da pessoa do que a técnica que o terapeuta está usando, se é psicanálise, psicologia comportamental ou outra coisa.

Pasternak diz que pandemia seria 'menos desastrosa em outro governo'

Microbiologista destacou a postura "explicitamente negacionista" do governo Bolsonaro que se opôs ao histórico em defesa da ciência de outras gestões. "Foi uma combinação muito ruim você ter um governo explicitamente negacionista, que negava ciência, vacinas. Ter essa situação no meio da maior emergência sanitária que a gente enfrentou nesse século foi uma combinação extremamente infeliz".

Ela disse haver estudos científicos que comprovam que muitas mortes ocorridas no país poderiam ter sido evitadas. "A gente tem números disso, trabalhos científicos que mostraram que o excesso de mortes causadas pela pandemia no Brasil poderia ter sido evitado com políticas públicas baseadas em ciência, com mais campanhas de vacinação, se a gente não tivesse tido um governo tão negacionista na época. Acho que dificilmente qualquer outro governo conseguiria ser tão ruim".

Alt Tabet no UOL

Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Natália Pasternak:

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