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Exercício ocular ajuda a melhorar visão de idosos, mostra pesquisa

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Imagem: UOL

Jan Hoffman

09/04/2015 17h12

À medida que os adultos envelhecem, a visão se deteriora. Um tipo comum de perda é a da sensibilidade ao contraste, ou seja, a capacidade de distinguir a gradação de tons claros e escuros, o que torna impossível saber ao certo onde os objetos começam e onde terminam.

Quando uma idosa desce um lance de escadas, por exemplo, ela pode ter dificuldades em distinguir o fim de um degrau, do início do outro, e acabar tropeçando. À noite, um motorista mais velho precisa apertar os olhos para discernir o início da faixa de pedestres. Confundido pelo brilho do semáforo, ele pode acabar errando.

Contudo, novas pesquisas sugerem que a sensibilidade ao contraste pode ser desenvolvida com exercícios de treinamento mental. Em um estudo publicado no mês passado na revista Psychological Science, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Riverside, e da Universidade Brown demonstraram que após apenas cinco sessões de exercícios comportamentais, a visão de pessoas na casa dos 60 e 70 anos de idade melhorou consideravelmente.

Depois do treinamento, os adultos conseguiam distinguir o limite dos objetos com muito mais precisão. E ao serem submetidos a um exame de visão comum – uma tarefa diferente daquela para a qual foram treinados – eles conseguiram identificar com precisão um número maior de letras e números.

"Muita gente acha que tudo piora quando ficamos mais velhos, mas mesmo os cérebros dos idosos criam células novas todos os dias", afirmou Allison B. Sekuler, professora de Psicologia, Neurociência e Comportamento na Universidade McMaster, em Ontário, que não faz parte do estudo. "Cérebros velhos também aprendem truques novos".

O treinamento aumentou a sensibilidade ao contraste em 16 jovens adultos que também participaram do estudo, embora os participantes mais velhos tenham apresentado ganhos mais sensíveis. Isso se deve em parte ao fato de que os mais jovens, que eram estudantes universitários, já gozavam de uma visão razoavelmente saudável e não havia muito o que melhorar.

Antes do treinamento, a visão de cada adulto – jovem ou idoso – foi avaliada. Os exercícios foram adequados para cada indivíduo, de forma que os pesquisadores fossem capazes de avaliar as melhoras, afirmou o Dr. G. John Andersen, orientador do projeto e professor de Psicologia na Universidade da Califórnia, em Riverside.

Durante cada sessão, os participantes observaram 750 imagens listradas que apareciam rapidamente na tela de um computador, com mudanças sutis de "ruído" visual ao redor de cada uma delas – como o chuvisco da TV. O participante devia indicar se a imagem estaria rodando em sentido horário ou anti-horário, ouvindo um bip a cada resposta correta.

As sessões duravam uma hora e meia. Os exercícios eram bastante cansativos, mesmo que os participantes fizessem pausas frequentes. Porém, depois de cinco sessões, eles haviam aprendido a distinguir com mais precisão a forma das imagens, filtrando o "ruído" que os confundia. Após os treinamentos, os idosos passaram a apresentar resultados tão bons quanto o de pessoas 40 anos mais jovens.

Os idosos também foram capazes de reconhecer com muito mais tranquilidade as letras do exame de visão a distâncias mais curtas, embora os resultados se mantivessem os mesmos quando a distância aumentava para três metros. Os participantes mais jovens obtiveram melhores resultados a três metros de distância, mas resultados idênticos no teste de curta distância.

"Acreditamos que uma intervenção comportamental que envolve aprendizado ajuda a mudar a estrutura das células cerebrais dos idosos", afirmou Andersen.

Quando não há doenças como o glaucoma, ou mudanças físicas na retina e no nervo ótico, a sensibilidade ao contraste é processada no córtex visual do cérebro. O estudo sugere que certas áreas do cérebro podem ser reforçadas. "Isso significa que o sistema visual conta com um alto nível de plasticidade, mesmo quando a pessoa é idosa", afirmou Andersen.

Andersen e seus colegas, incluindo Denton DeLoss, estudante de pós-graduação e o principal autor do estudo, afirmaram que não sabem por quanto tempo os efeitos dessa intervenção modesta podem durar, mas, um estudo anterior no qual os idosos receberam um treinamento para melhorar a capacidade de distinguir texturas mostrou que a nova habilidade durou ao menos três meses.

Andersen afirmou que à medida que as pessoas envelhecem, o estímulo aleatório de neurônios no sistema visual do cérebro aumenta, criando uma espécie de ruído interno. Ao mesmo tempo, o cérebro do idoso tem mais dificuldades de lidar com os ruídos visuais externos, tais como as gotas de chuva de uma tempestade, que atrapalham a visão das palavras em uma placa de trânsito, por exemplo.

Os exercícios do estudo mais recente foram criados para treinar os idosos a filtrarem esses ruídos visuais externos, determinando com mais precisão os limites do contraste. "É possível que, simultaneamente, o cérebro também tenha sido treinado para reduzir o ruído internalizado", afirmou Andersen.

Cada vez mais, os pesquisadores se concentram no ensino e aprendizagem da percepção, da capacidade do cérebro de distinguir diferentes estímulos – treinando o ouvindo, por exemplo, para diferenciar Shostakovich e Bartok, ou o palato para distinguir um cabernet sauvignon de um pinot noir. Também existe muita pesquisa a respeito do envelhecimento do cérebro. Mas até o momento, poucos cientistas pensaram em examinar as possibilidades de melhoria do aprendizado da percepção nos idosos.

"Esses pesquisadores estão na vanguarda", afirmou Sekuler.