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Qual a dose certa de exercício físico para o cérebro de um idoso?

Lefteris Pitarakis/AP
Imagem: Lefteris Pitarakis/AP

Gretchen Reynolds

21/08/2015 08h59

Um pouco de exercício pode melhorar nossa capacidade de pensar à medida que envelhecemos. Entretanto, "mais" nem sempre é sinônimo de "melhor", de acordo com um novo estudo sobre exercícios físicos e cognição.

Todo mundo sabe que atividades físicas fazem bem à saúde. Mas qual é o mínimo e o máximo necessário para se obter esses benefícios? Além disso, ainda não se sabia se a mesma dose de exercícios que faz bem ao coração também é ideal para o cérebro, por exemplo.

Para o novo estudo, publicado no mês passado na revista científica PLOS One, cientistas do Centro de Estudos do Alzheimer da Universidade do Kansas e de outras instituições decidiram averiguar quanto exercício seria necessário para melhorar a capacidade de pensar.

Eles começaram recrutando 101 pessoas sedentárias, com ao menos 65 anos de idade, que estivessem saudáveis, sem sintomas de demência, nem de outras deficiências cognitivas.

Segundo o Dr. Jeffrey Burns, diretor do Centro de Estudos do Alzheimer da Universidade do Kansas e principal autor do estudo, eles escolheram essas pessoas porque os homens e mulheres do grupo haviam chegado à idade em que muitos começam a desenvolver os primeiros sintomas preocupantes de queda na capacidade de pensar e de recordar.

Os cientistas trouxeram os voluntários ao laboratório e exigiram que realizassem uma série de testes, incluindo medidas de capacidade aeróbica e das capacidades de raciocínio e memória.

Em seguida, os voluntários foram aleatoriamente divididos entre quatro grupos. As pessoas do grupo de controle seguiram com suas vidas normalmente.

As pessoas dos outros três grupos tiveram de realizar caminhadas em ritmo acelerado. Um dos grupos começou a praticar 75 minutos de exercícios físicos por semana, o que representa metade da recomendação mínima de 150 minutos de exercícios moderados. Outro grupo passou a praticar os 150 minutos semanais recomendados.

Enquanto o terceiro grupo passou a praticar 225 minutos de caminhadas aceleradas por semana, o que representa um volume 50 por cento superior ao recomendado.

Os voluntários foram à ACM mais próxima para praticar os exercícios, que consistiam basicamente em caminhadas aceleradas na esteira elétrica por períodos de 25 minutos a uma hora. (Alguns voluntários utilizaram aparelhos elípticos em parte de suas rotinas.)

Depois de 26 semanas, todos os participantes voltaram ao laboratório para refazer os testes originais.

Neste momento, os grupos apresentaram diferenças significativas, especialmente do ponto de vista físico. Quanto mais o indivíduo tivesse se exercitado, mais teria aumentado sua resistência, o que está longe de ser uma surpresa. Os voluntários do grupo de controle não tinham melhorado sua condição física; as pessoas do grupo que se exercitou por 75 minutos semanais estavam um pouco melhores; quem se exercitou por 150 minutos semanais estava ainda melhor; e o grupo que caminhava 225 minutos todas as semanas era o que estava em melhor forma física.

"Houve uma relação muito óbvia entre o volume de caminhada e o bem-estar físico dos voluntários", afirmou Burns.

Contudo, os cientistas descobriram que essa relação é menos óbvia quando se trata do pensamento.

No geral, os pesquisadores descobriram que a maior parte das pessoas que se exercitaram revelaram alguma melhora na capacidade de pensamento, sobretudo na capacidade de manter a concentração e de criar mapas visuais de espaços em suas mentes, dois aspectos da cognição que pioram com a idade.

Entretanto, esses ganhos eram basicamente os mesmos tanto para o grupo que se exercitou 75 minutos por semana, quanto para o grupo que praticou 225 minutos de exercícios semanais. Os voluntários que mais se exercitaram apresentaram resultados ligeiramente melhores que os demais em alguns testes cognitivos ao final do período de teste, embora a diferença seja praticamente insignificante.

No geral, "uma pequena dose de exercícios" pode ser o bastante para melhorar muitos aspectos da cognição, contudo mais suor não representa necessariamente um maior ganho nesse sentido", afirmou Burns.

Por outro lado, quanto mais exercício uma pessoa pratica, melhor fica sua condição aeróbica, de acordo com Burns, o que oferece outros benefícios para a saúde.

Essa dicotomia mostra a importância das pesquisas científicas que identifiquem de que maneira volumes diferentes de exercícios nos afetam, de acordo com Burns.

"Precisamos ser capazes de dizer que tipo de benefícios cada volume de exercício nos oferece", afirmou.

Essa precisão pode inspirar as pessoas a levantar da cadeira e continuar se exercitando, concluiu.

Com essa finalidade, ele e seus colegas estão desenvolvendo um novo e ambicioso estudo para determinar quanto e que tipo de exercício pode ajudar a retardar o surgimento da doença de Alzheimer e outras formas de demência, embora não esteja claro se exercícios físicos podem realmente ajudar a evitar a doença. Ainda vai demorar um bom tempo para que tenhamos acesso a esses resultados.

Contudo, enquanto isso, temos alguns indícios encorajadores de que caminhadas rápidas de 20 a 25 minutos diversas vezes por semana -- um volume de atividades físicas que praticamente qualquer pessoa é capaz de realizar -- pode nos ajudar a manter nossas mentes mais afiadas conforme os anos vão passando.