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Pergunta pro Jokura

Como é feita a pesquisa nos arquivos da #VazaJato?

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Imagem: Getty Images

22/07/2019 04h00

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Pergunta enviada por Fabricio Miranda, de Munique (Alemanha)

Deixe Moro e Deltan pra lá, Mirandinha... pra quê você precisa desse tipo de informação enquanto desfruta do verão, das cervejas, das linguiças e das mostardas da Bavária?

Para responder sua pergunta bati uma hora de papo, por telefone, com um grande editor do The Intercept Brasil, cujo nome vou preservar a fim de manter a identidade das fontes, tchê - não é o Glenn nem o Demori. E não é que o cara tirou suas dúvidas? Nem precisei fazer pacto de sangue, jurar a bandeira ou entrar num chat privado do Telegram - e ele ainda revelou uma informação exclusiva.

O gaúcho (ops!) me contou que, internamente, são menos de 10 pessoas com acesso ao arquivo, que é gigantesco, com centenas de pastas com textos, áudios, vídeos e outros documentos anexados. O próprio The Intercept já havia mencionado que apenas um dos chats, com procuradores da Lava Jato em Curitiba, gerou 1.700 páginas de pesquisa, e que a equipe não tinha vasculhado nem 1% do material.

Diante desse volume colossal de dados, é humanamente inviável e improdutivo que esse time dê conta de ler todos os arquivos de cabo a rabo para extrair as histórias relevantes, de interesse público. O método, então, é pesquisar por palavras-chave (como o nome de personagens ou de eventos) e por datas, a fim de procurar conversas que revelem como os atores da Lava Jato interagiram em situações específicas da história recente do Brasil.

Com publicações parceiras do The Intercept, o método de vasculhar as informações é o mesmo, mas o acesso a elas é diferente. Via de regra, o jornalista aqui do UOL, da Folha ou de outro veículo, despenca para o Rio de Janeiro e desembarca na Lapa para sambar em cima dos gigantes arquivos da #VazaJato. Chegando à redação, o cara acessa um computador sem acesso à internet e fica o tempo todo de pesquisa acompanhado por um jornalista do The Intercept.

Antes que você imagine uma salinha escura, com um computador isolado em que moram todos os pecados e recados dos envolvidos nos julgamentos da Lava Jato, a realidade é mais sem graça - também me decepcionei, confesso. Para começar, os dados estão todos preservados em servidores de outro país, conforme o próprio The Intercept revelou no início da série de reportagens, em junho. Ou seja, há acesso remoto, sim, aos arquivos, com vários protocolos de segurança para evitar acessos indevidos. Na hora de liberar o material para um colaborador externo, porém, um especialista em segurança de informação do The Intercept configura uma das máquinas da redação para ficar sem qualquer conexão à internet enquanto roda os arquivos da #VazaJato. Alexandre, o grande editor, que me contou.

Quando o repórter externo decide o enfoque do que pretende publicar, solicita ao The Intercept os arquivos específicos que precisa para tocar o trabalho. E assim seguem os vazamentos.

Um detalhe muito legal, e que você nem perguntou, Fabricio, é como o trabalho de profissionais que não são nem repórteres, nem editores, constrói o resultado final dos capítulos da #VazaJato:

  • Os designers João Brizzi e Rodrigo Bento desenvolveram uma estética funcional para reproduzir as conversas dos chats: conseguiram manter o conteúdo em formato de texto - deixando as palavras disponíveis para mecanismos de busca e mais leves para o leitor baixar. Com essa solução, não precisaram usar arquivos de imagem, que dariam a impressão de que o The Intercept estava publicando prints de telas capturadas do Telegram - evitando um ruído de interpretação, uma vez que os arquivos de conversas escritas da #VazaJato são exclusivamente de texto.
  • Um time de advogados trabalha em parceria com o The Intercept para orientar os limites legais de cada publicação, a fim de que nenhuma lei seja descumprida tanto na divulgação de informações como no manejo delas;
  • Pelo menos quatro pessoas, aqui no Brasil, ficam de olho na segurança da #VazaJato. Isso sem contar os especialistas em TI da sede do The Intercept, nos EUA, que estabelecem todo o protocolo para garantir a integridade das informações.

E pra finalizar, Fabricio, vamos revelar dois dos três emojis que Sergio Moro enviou para Deltan Dallagnol ao longo de dois anos de conversa. Dois sinais de positivo (sim, dois joinhas) - além de um emoji de sorriso, este revelado pela Veja, que Moro enviou a Deltan quando foi informado que a denúncia contra Lula seria protocolada em breve. Que formal o então juiz, não?

Por ora, é isso - mas o The Intercept garante que vem muito mais. Obrigado pelos vazamentos controlados, Santi.

Tem uma pergunta? Deixe nos comentários!

P.S.: O Alexandre de Santi, cujo nome vazei ao longo do post, é um baita responsável por este espaço existir. Ele comandava, lá no Rio Grande do Sul, um time de repórteres que respondia as perguntas mais inusitadas que chegavam à redação da Superinteressante. Como editor da Super, eu tinha a deliciosa tarefa de temperar os textos que o Santi enviava e publicar na seção Oráculo, que mais tarde virou blog e cujo espírito eu trouxe para este espaço aqui no UOL. Valeu pela parceria de sempre, Santi.