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Regulamentação, discurso de ódio: o que mais Zuckerberg respondeu ao Senado

Jim Watson/AFP
Imagem: Jim Watson/AFP

Do UOL, em São Paulo

11/04/2018 11h01

Mark Zuckerberg não se limitou a falar sobre o escândalo de dados da Cambridge Analytica, em depoimento nesta terça-feira (10) ao Senado americano. O foco principal da conversa, é claro, foi a polêmica do mau uso dos dados obtidos do Facebook, mas o chefão da rede social teve que abordar assuntos que iam além dos termos de serviço e da política de dados da empresa.

No papo com os senadores, ele abordou temas diversos, como maior regulamentação, vícios em redes sociais, discurso de ódio, terrorismo e até uma suposta atuação tendenciosa da plataforma contra vozes conservadoras, após acusações de republicanos.

Confira a seguir alguns dos tópicos abordados pelo fundador da rede social no escrutínio que durou quase cinco horas em Washington, DC.

  • Mais regulamentação

    Questionado se era favorável a maiores regulamentações legais sobre o Facebook, Zuckerberg se mostrou aberto às mudanças, mas ressaltou que elas precisam ser pensadas. "Quando você adiciona mais regras, empresas como a minha tem recursos para ir e fazer. As menores têm dificuldades", afirmou.

    Outro ponto abordado foi a lei aprovada na União Europeia, a General Data Protection Regulation (GDPR), que entrará em voga no final de maio e regula o uso de dados. Perguntado sobre mudanças semelhantes nos EUA, Zuckerberg mostrou uma propensão para dizer que concordaria, mas não chegou a dizer categoricamente que gostaria que isso ocorresse: "Seria um pouco diferente", disse, ressaltando que seu país é mais sensível a uma regulação.

  • Racismo e propagandas direcionadas a grupos étnicos

    Os senadores debateram uma notícia da organização ProPublica, que apurou que o Facebook permitia excluir grupos étnicos e raciais em propagandas direcionadas. Zuckerberg admitiu que a ferramenta existia e disse que a empresa trabalha para mudar a situação

    "É contra nossas políticas ter qualquer propaganda discriminatória. Removemos a habilidade de excluir grupos étnicos de propagandas direcionadas. Para alguns desses casos, em que faça sentido mirar um grupo, nós analisamos as propagandas e a maioria da checagem é de coisas que nossa comunidade denuncia para gente. Nosso time deve derrubar. Vai cometer erros, mas queremos limitá-los", explicou.

  • Republicanos partem para o ataque

    O senador Ted Cruz, que perdeu a disputa entre os republicanos para Donald Trump, adotou um tom acusatório ao questionar a derrubada de páginas e conteúdos conservadores no Facebook. Em resposta, Zuckerberg reiterou o compromisso a coibir discurso de ódio e afirmou que a plataforma quer estar aberta ao debate de ideias.

    "Quero garantir que nosso trabalho não seja tendencioso", declarou. "Você [Ted Cruz] vai concordar que deveríamos remover propaganda terrorista do serviço. Temos orgulho sobre como lidamos com isso. Estou comprometido que o Facebook seja uma plataforma para todas as ideias"

    Cruz acusou o Facebook de ser uma empresa com viés liberal, o que Zuckerberg admitiu ao citar a localização geográfica e o perfil do morador do Vale do Silício. Ele negou, no entanto, que as preferências políticas de seus funcionários influenciem na atuação da companhia.

    Outro senador, Thom Tillis, citou que a Cambridge Analytica não deve ser apontada como única usuária de dados do Facebook em campanhas eleitorais, já que a campanha do democrata Barack Obama na eleição de 2012 também usou um app de Facebook para obter dados de usuários e seus contatos.

  • Uso infantil e vícios em redes sociais

    O uso das plataformas do Facebook por crianças foi outro ponto abordado pelos senadores. O executivo-chefe explicou que o aplicativo Messenger Kids, criado para usuários entre seis e 13 anos, não coleta nenhum dado para compartilhar com terceiros, apenas o mínimo de informações "necessárias para manter o serviço".

    Ao completar os 13 anos, se o usuário quiser mudar para o Facebook, o histórico no Messenger Kids é apagado. "As pessoas começam de novo quando criam uma conta no Facebook", informou.

    Zuckerberg também falou sobre vício em redes sociais: "Minha esperança é ser idealista e ter uma visão ampla. Vício é uma preocupação. No Facebook, me preocupo em fazer uma ferramenta que as pessoas gostam e que faça bem. Se você está usando redes sociais para formar relações, isso é associado a coisas positivas. Se você está usando passivamente consumindo conteúdo, pode ser negativo", afirmou.

  • Fragilidade no combate ao discurso de ódio

    Criticado recentemente pelo papel do Facebook na limpeza étnica em Mianmar, onde a população da etnia rohingya tem sofrido massacres por parte dos budistas, Zuckerberg afirmou que medidas estão sendo tomadas para coibir discurso de ódio dentro da rede social.

    Ele destacou que nuances linguísticas complicam o controle desse tipo de mensagem, o que motivou a contratação de dezenas de falantes de birmanês para melhorar o filtro.

    Sobre o caso de Mianmar especificamente, Zuckerberg declarou que a empresa está fazendo "mudanças de produto" específicas a fim de solucionar os problemas do país asiático.