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Represália? Mais um canadense é detido na China em meio a caso Huawei

Michael Kovrig, funcionário do International Crisis Group e ex-diplomata canadense - Reuters
Michael Kovrig, funcionário do International Crisis Group e ex-diplomata canadense Imagem: Reuters

Da AFP, em Pequim

13/12/2018 09h43

O governo chinês confirmou, nesta quinta-feira (13), que considera dois canadenses suspeitos de "atividades que ameaçam a segurança nacional" e que tomou "medidas coercitivas" contra eles, duas semanas depois da detenção no Canadá de uma diretora do gigante chinês das telecomunicações Huawei.

O ex-diplomata canadense Michael Kovrig, que estava de passagem por Pequim, e seu compatriota, Michael Spavor, um consultor que vive em Liaoning, uma província do nordeste da China, "realizaram atividades que ameaçam a segurança nacional da China".

Por estes casos, abriu-se uma "investigação", disse o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Lu Kang.

Esse anúncio surge em um momento de grande tensão entre Ottawa e Pequim. A China ameaçou o Canadá com represálias, depois da detenção, em 1º de dezembro em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, à espera de um processo de extradição para os Estados Unidos.

Meng, que foi solta sob fiança na terça-feira, em Vancouver, é acusada pela Justiça americana de cumplicidade de fraude para burlar as sanções de Washington contra o Irã.

Na terça, Ottawa confirmou a detenção de Michael Kovrig na China. O Ministério canadense das Relações Exteriores disse, porém, ignorar o paradeiro do segundo canadense, Michael Spavor.

"Estamos trabalhando duro para averiguar seu paradeiro", afirmou um porta-voz do Ministério, referindo-se a Spavor.

Fotos com o líder norte-coreano

"Sabemos que um canadense nos contatou porque foi interrogado pelas autoridades chinesas", disse ontem a ministra canadense das Relações Exteriores, Chrystia Freeland, em entrevista coletiva em Ottawa.

"Não conseguimos entrar em contato com ele desde que nos avisou. Trabalhamos intensamente para determinar onde está e também levamos essa questão às autoridades chinesas", acrescentou.

Kovrig, cuja detenção foi confirmada às autoridades canadenses, é um ex-diplomata que trabalha em Hong Kong para o think tank International Crisis Group (ICG). Ele é um especialista em temas de política externa e de segurança no Oriente Médio, assim como na península coreana.

O ICG fechou seu escritório em Pequim, após a adoção, na China, de uma lei sobre ONGs. A norma entrou em vigor em 2017, com o objetivo de controlar melhor a atividade das organizações estrangeiras.

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Entenda

Já Michael Spavor administra uma agência de viagens especializada na Coreia do Norte. Ganhou visibilidade ao ajudar o jogador de basquete aemricano Dennis Rodman a conhecer o dirigente norte-coreano, Kim Jong-un, em 2013 e 2014.

O próprio Spavor já se encontrou com Kim, como mostram fotos da imprensa oficial de Pyongyang.

Represália?

Pessoas próximas a Kovrig relacionaram sua detenção com o caso de Meng Wanzhou. "Está claro que o governo chinês quer pôr o máximo de pressão sobre o governo canadense", disse Guy Saint-Jacques, ex-embaixador do Canadá na China.

Já Ottawa insiste em que a decisão de extraditar Meng, ou não, cabe ao ministro da Justiça, e será tomada segundo considerações jurídicas, e não políticas.