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'Mark Zuckerberg não sabe o que é amizade', diz ex-colega do dono da rede social em Harvard

Aaron Greenspan foi colega de Mark Zuckerberg em Harvard - AARON GREENSPAN
Aaron Greenspan foi colega de Mark Zuckerberg em Harvard Imagem: AARON GREENSPAN

Lucía Blasco

BBC News Mundo

06/02/2019 13h41

Já faz 15 anos que Mark Zuckerberg fundou o Facebook, a rede social mais influente do mundo.

À época, ele tinha 19 anos e vivia na residência estudantil na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Foi lá onde lançou a primeira versão do Facebook, uma "rede simples para entrar em contato com quem realmente importa: as pessoas", explicou em seu post mais recente.

Aaron Greenspan o conheceu quando ambos estudavam em Harvard.

Presidente e CEO da Think Computer, Greenspan é agora um crítico público do Facebook. Sua última acusação veio à tona no fim de janeiro: um relatório de 75 páginas no qual ele afirma que metade das contas da rede social são falsas.

Em nota, o Facebook, que tem cerca de 2,1 bilhões de usuários, negou a acusação com veemência: "É inequivocamente falso e irresponsável".

Mas Greenspan reiteira o relatório e afirma que seu ex-colega de universidade o traiu.

De amigos a rivais

"Mark e eu nos tornamos amigos enquanto estudávamos em Harvard. Ele era uma das poucas pessoas do campus que se interessavam por tecnologia e negócios, algo bastante atípico em Harvard naquela época", relata Greenspan à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

"Nos conhecemos em um jantar em 8 de janeiro de 2004", lembra. "Ele parecia um pouco estranho para mim, mas nos demos bem, ficamos em contato por um tempo, então ele me disse que ele me considerava seu amigo."

Mas o motivo que o separou de Zuckerberg foi o mesmo que os uniu: criar uma rede social.

"Que ironia. Mark, que definiu a amizade para praticamente uma geração inteira, nem sequer sabe o que significa essa palavra", afirma Greenspan.

O outro Facebook

"Eu criei meu próprio Facebook, 'The Facebook', em 2003. Mark copiou diversas coisas e as colocou em seu Facebook (que também se chamava 'The Facebook'). Por um breve período de tempo, de fevereiro de 2004 a maio ou junho de 2005, havia dois 'facebooks' gerenciados por estudantes de Harvard", afirma o engenheiro de computação.

O de Greenspan se tratava de um sistema, originalmente chamado houseSYSTEM, para entrar com outros estudantes universitários e transformar a vida social universitária em digital.

"A ideia de criar um portal de estudantes integrado que tivesse biografia, calendário de eventos, álbum de fotos, grupos... Foi minha", diz Greenspan, que afirma ter enviado um email aos estudantes de Harvard anunciando sua plataforma quatro meses antes de Zuckerberg lançar a sua.

Para Greenspan, o ex-colega o traiu e o usou em benefício próprio.

"Subestimei sua capacidade de atuar de maneira tão interesseira. Mas eu pensava que Mark era meu amigo, porque assim ele me disse. Eu estava chateado com ele em nível pessoal, mas não fui capaz de entender realmente o que ele fez e o porquê", afirma.

"Muitos anos se passaram desde então. E não tenho nenhuma ilusão de que Mark continue sendo meu amigo. E agora o vejo da mesma maneira que muita gente: como uma pessoa que eu não conheço bem, como alguém que tem um impacto enorme na vida de muita gente. E eu diria que esse impacto, em grande parte, é negativo."

Greenspan fechou um acordo confidencial com Zuckerberg em 2009, quando o CEO da rede social registrou a palavra "facebook" como marca.

Mas a disputa não terminou aí.

As supostas contas falsas

Em seu relatório publicado em 24 de janeiro deste ano, Greenspan afirma que o Facebook é "o maior golpe da história" e que metade das contas são falsas.

Segundo o CEO da Think Computer, a rede social nunca quis reconhecer o alcance do problema de contas falsas que veio à tona com o escândalo da Cambridge Analytica e as eleições presidenciais americanas de 2016. Para Greenspan, esse problema, em tese, não tem solução.

"O Facebook é tão grande e sua equipe, proporcionalmente, é tão pequena, que não sabem o que está acontecendo", afirma à BBC News Mundo.

"Criaram uma estrutura que, de uma perspectiva computacional, não é possível fazer o que dizem que pode ser feito, como distinguir uma conta real de uma falsa. Em alguns casos sim, é possível. Mas se alguém diz que seu nome é José Pérez, como saber quem realmente ele é?"

Greenspan cita o Teste de Turing, desenvolvido pelo matemático Alan Turing, que estabelece, basicamente, que para um computador ser considerado inteligente precisa ser capaz de interagir com um humano e não ser identificado como máquina.

"O assunto se complica porque haveriam que determinar se essa entidade é um humano e, mais ainda, dizer de que humano se trata. Não acredito que o Facebook seja capaz de fazer isso. E não acredito jamais vá ser capaz de fazê-lo."

Segundo Greenspan, Zuckerberg mentiu ao Congresso americano ao afirmar que essa questão seria resolvida com inteligência artificial.

"Não é verdade. E ele sabe que não é verdade", afirma, aos risos. Greenspan afirma ter alertado Zuckerberg sobre isso em 2005.

"Mark sabe desse problema há anos. E eu disse a ele por escrito e tivemos uma conversa porque um amigo de um amigo tinha um problema ligado a essa questão. Mark negou e disse que estávamos exagerando as coisas. Ele sabia exatamente o que poderia acontecer. Mas nunca admitiu."

Para Greenspan, Zuckerberg não apenas deveria se demitir como também ser processado pelos danos causados por sua rede social.

"Muita gente subestima até onde Zuckerberg pode chegar para conquistar mais poder. Eu também fiz isso, foi o meu erro. Mas acredito que ele sempre foi assim. Não tem empatia pelos outros. É capaz de quebrar leis e promessas e arruinar relações para seguir adiante", afirma.

Defensores de Zuckergberg afirmam na internet que os ataques de Greenspan são feitos por ressentimento e oportunismo, já que o criador do Facebook está em um momento delicado.

"O contexto de minha relação com Mark é importante e entendo por que me questionam. Muitos dizem que estou amargurado, que tenho inveja, ciúmes e outras coisas. Mas venho dizendo a mesma coisa há 15 anos. Mas antes me ignoravam e pensavam que eu estava louco. Agora, a situação é diferente."

"De qualquer maneira, isso vai além da minha história pessoal com Zuckerberg e além do Facebook, é um sintoma do que acontece quando as pessoas não são responsabilizadas pelas coisas." Se Mark tivesse sido responsabilizado na faculdade, nós não teríamos chegado aqui."

A BBC News Mundo entrou em contato com o Facebook, mas não obteve resposta da rede social até a publicação da reportagem.