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A crescente ameaça ao poder de Mark Zuckerberg, dono do Facebook

Zuckerberg durante evento para desenvolvedores em que anunciou novidades para o futuro do Facebook, Instagram e Messenger - Justin Sullivan/Getty Images/AFP
Zuckerberg durante evento para desenvolvedores em que anunciou novidades para o futuro do Facebook, Instagram e Messenger Imagem: Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Dave Lee

05/05/2019 10h20

O co-fundador, presidente-executivo e presidente da rede social com mais usuários do mundo está sob pressão dos acionistas para abrir mão de parte do seu controle.

Ninguém mais no Vale do Silício tem tanto poder sobre um gigante da tecnologia quanto Mark Zuckerberg, 34, o cofundador, presidente-executivo, presidente do conselho de administração e acionista majoritário do Facebook, a rede social com mais usuários no mundo (cerca de 2,4 bilhões).

Durante anos, poucos consideraram tal controle um problema. Até que as coisas começaram a ir mal para a companhia.

Eu sei que não temos hoje exatamente a melhor reputação em termos de privacidade [dos usuários], para dizer o mínimo
Mark Zuckerberg

Em discurso nesta semana na conferência anual de desenvolvedores da empresa em San Jose, no Vale do Silício, ele sorriu, desconfortável, mas a plateia não estava retribuindo - porque essa reputação deixou usuários chateados, políticos fervilhando, reguladores planejando e investidores nervosos.

Há uma pressão crescente para Zuckerberg rever se deve manter, de fato, todas as posições em seu nome.

E, enquanto os EUA entram em seu próximo ciclo eleitoral, o desejo de demonstrar firmeza no Vale do Silício tem levado candidatos à Presidência do país a apelarem para que o poder de Zuckerberg seja fortemente diluído, quer ele queira ou não.

Multa recorde

A portas fechadas, o Facebook e a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) estão profundamente envolvidos em negociações. O órgão estaria planejando aplicar uma multa recorde à empresa, e o Facebook disse a investidores na semana passada ter reservado ao menos US$ 3 bilhões (R$ 11,8 bilhões) para pagá-la.

A questão é: o que mais o órgão regulador pode exigir?

O Facebook violou de forma consistente e agressiva a privacidade do consumidor
Ashkan Soltani, ex-chefe de tecnologia da FTC, à agência de notícias Reuters

Ele avalia que "o Facebook viu isso como um risco necessário e suportável para desenvolver os negócios tão rapidamente quanto fez". Para ele, a empresa priorizou o crescimento "a qualquer custo".

A FTC está sob forte pressão para aplicar uma punição que financeiramente não pareça muito branda. Ainda que a multa chegue a US$ 5 bilhões (R$ 19,6 bilhões), como o Facebook acredita que chegaria, ela seria equivalente a apenas um terço do que a empresa ganhou nos primeiros três meses deste ano.

2018, o ano que a casa caiu para o Facebook

Relembre os escândalos

De acordo com reportagens publicadas pelos veículos americanos Washington Post e Politico, é possível que a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos determine uma supervisão adicional na empresa.

Segundo o Politico, a FTC avalia exigir que o Facebook nomeie na empresa um responsável pelas questões de privacidade que seja aprovado pelo governo e promova executivos mais atentos a essa questão aos postos mais altos da companhia. Ainda de acordo com a reportagem, Zuckerberg seria encarregado de aplicar essas mudanças, uma medida pensada para torná-lo pessoalmente responsável por qualquer falha nesse processo.

'Rebelião' dos investidores

O Facebook está sob fogo também de investidores. Embora o preço da ação tenha subido desde as quedas significativas no escândalo da Cambridge Analytica - consultoria que usou indevidamente informações de 87 milhões de usuários do Facebook, 443 mil deles brasileiros -, há pedidos para que Mark Zuckerberg analise se deve se manter como diretor executivo e presidente - especialmente em uma empresa em crise.

Um grupo de investidores cobra a nomeação de um presidente independente. Uma votação não teria chance, já que Zuckerberg detém pessoalmente a maioria dos votos - mas seus apoiadores afirmam que esse cenário só reforça o argumento.

Uma votação está sendo vista como uma oportunidade para forçar Zuckerberg a refletir sobre os papeis que desempenha na companhia, disse Jonas Kron, da empresa de gstão de investimentos Trillium Asset Management.

Acho que ele deveria estar pensando seriamente em [deixar o cargo]
Jonas Kron

"Ele tem Larry Page, na Alphabet, e Bill Gates, na Microsoft, como exemplos de como pode ser para um fundador não ser o presidente do conselho. Eu entendo que pode não ser um passo fácil, mas é um passo importante para o bem dele, para o bem dos acionistas, para os funcionários ... e para os usuários e as comunidades em todo o mundo que usam o Facebook todos os dias."

O Facebook foi procurado pela BBC News, mas se limitou a indicar à BBC sua resposta oficial aos acionistas que propuseram a mudança.

Em um trecho desse documento, a companhia dizia acreditar que a atual estrutura do conselho é do interesse dos acionistas. "Portanto, nosso conselho de administração recomenda que nossos acionistas votem contra essa proposta".

Em 2015, Mark Zuckerberg tinha acabado de ter seu primeiro filho com Priscilla Chan quando anunciou sua intenção de se afastar aos poucos do dia a dia da empresa.

Com toda essa agitação na empresa, essa transição pode precisar acontecer antes do que esperava Zuckerberg, que hoje detém uma fortuna estimada em US$ 71,5 bilhões e 15% do total de ações do Facebook, segundo a revista Forbes.