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Sem residência, mas com internet: o novo refúgio dos sem-teto em Nova York

Alguns sem-teto recorrem aos apps para encontrar asilo ou vender objetos de segunda mão - Shannon Stapleton/Reuters
Alguns sem-teto recorrem aos apps para encontrar asilo ou vender objetos de segunda mão Imagem: Shannon Stapleton/Reuters

Emili Serra

Da EFE, em Nova York

05/07/2016 11h15

Em meio aos ruídos urbanos típicos de uma metrópole, muitos sem-teto em Nova York encontraram na tecnologia uma nova aliada para enfrentar a precária situação de suas vidas por meio de aplicativos como Facebook, Tinder, Wallapop e Linkedin.

Em uma cidade onde mais de 60 mil pessoas não têm acesso a uma residência e cujo preço médio de aluguel supera US$ 3 mil por mês, alguns sem-teto da "Big Apple" recorrem a esses aplicativos para, com a ajuda dos contatos que a rede fornece, encontrar asilo para algumas noites ou vender objetos de segunda mão.

Um exemplo desse cenário é Thomas, de 35 anos e que está na cidade há sete. Já são seis meses como sem-teto, mas, após perder o emprego de comerciante em 2015, ele viu em aplicativos como Linkedin, Facebook e Tinder uma "fórmula bem-sucedida para ir atirando" enquanto busca algum tipo de ajuda social ou um novo trabalho.

"No Linkedin encontrei antigos colegas, aos quais expliquei minha situação e consegui algumas recomendações para enviar junto com minhas candidaturas de emprego", explicou Thomas perto do banco onde agora se aloja em Battery Park e pede esmola na maioria das manhãs.

Thomas, cujo nome verdadeiro ele preferiu não revelar, mantém o perfil do Linkedin atualizado com as fotos da época em que trabalhava e sempre deixa um conjunto de roupas dobradas na casa de conhecidos para caso surja uma nova entrevista de emprego.

O Facebook também é constantemente utilizado, com mais de 300 amigos no perfil, aos quais já pediu alojamento por algumas noites, "principalmente no inverno", segundo ele.

Por outro lado, lugares para passar uma noite são conseguidos "com certa facilidade", explicou Thomas, que conta que o aplicativo de encontros Tinder já o salvou muitas vezes de pernoitar na rua.

"Quando converso com uma garota, nunca digo que não tenho onde morar", admite.

O caso de Thomas é parecido com o de um amigo, Sean, de 41 anos, que passa as noites no centro de Manhattan: "O que mais me ajudou desde que perdi meu aluguel foi Wallapop e Facebook", confessa.

Sean conta que graças ao aplicativo de compra e venda de segunda mão (Wallapop) conseguiu se desfazer de vários móveis que tinha em seu apartamento no Upper West Side, com os quais pôde comprar comida e alugar um quarto pela plataforma Airbnb em noites pontuais.

Thomas e Sean se conheceram em um encontro organizado pela Coalizão para Pessoas Sem-teto de Nova York, que em abril calculou em 60.060 o número de pessoas que moram nas ruas da cidade, o dobro de 10 anos atrás.

Além de seus histórias, ambos afirmam que muitos outros utilizam a internet em busca da melhor fórmula para sobreviver às ruas de Nova York.

Outra das alternativas para encontrar um lugar para dormir, segundo Sean, é a plataforma de experiências de viagem Couchsurfing, que oferece aos usuários a possibilidade de serem convidados para dormir em um sofá ou uma cama, na maioria de vezes, em troca de nada.

Felizmente para eles, na maioria das ruas de Nova York a internet é uma ferramenta de livre acesso. Entre 2014 e 2015, a prefeitura de Bill de Blasio substituiu muitas das velhas cabines telefônicas da cidade por pontos de acesso gratuito através de Wi-Fi.