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Com promessa de anonimato, bitcoin ganha espaço em atividades criminosas

Modelo representa 1 bitcoin em formato físico; por contar com certo anonimato, moeda é usada para crimes - Jim Urquhart/Reuters
Modelo representa 1 bitcoin em formato físico; por contar com certo anonimato, moeda é usada para crimes Imagem: Jim Urquhart/Reuters

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

18/03/2014 06h00

Os entusiastas do bitcoin citam como vantagens dessa moeda virtual o fato de ela não ser controlada por bancos e permitir o anonimato dos usuários. Mas justamente esses pontos positivos, se usados por pessoas mal-intencionadas, podem fazer do bitcoin uma ferramenta útil para atividades criminosas – do comércio de drogas à venda ilegal de armas, chegando ao pagamento de matadores de aluguel. 

“Um dos problemas da moeda é que ela facilita a lavagem de dinheiro. Quando alguém usa moedas ‘reais’ para comprar bitcoin e depois transfere essa quantia, por exemplo, fica difícil rastrear a cadeia de troca”, afirma Renato Opice Blum, advogado especializado em direito eletrônico.

Todos os usuários precisam de uma carteira virtual (um “endereço” formado por cerca de 30 caracteres), mas para cria-lo é preciso apenas uma conta de e-mail. Ainda assim, como acontece em casos de falsidade ideológica na internet, autoridades têm ferramentas para localizar um internauta “anônimo”.

Pessoas que trabalham com a moeda afirmam ser possível fazer essa identificação. “Se algum dia a Justiça pedir informações de quebra de sigilo de operação, a empresa deve fornecer os dados”, explica Flavio Prippas, sócio da Bitinvest (empresa brasileira que comercializa bitcoins).

Rodrigo Batista, sócio da Mercado Bitcoin (empresa que comercializa a moeda), reconhece haver ferramentas para quem não quer ser identificado. No entanto, é muito difícil não deixar rastros. “Ao comprar [o bitcoin] em uma empresa de câmbio, por exemplo, essa instituição terá alguns dados da pessoa”, afirma.

Conheça a seguir alguns crimes envolvendo esta moeda virtual, criada em 2009.

Ataques virtuais

Há muito tempo, golpistas da internet utilizam o ransoware. A técnica consiste no uso de um programa que “sequestra” o computador de um usuário (impedindo o acesso a arquivos, por exemplo), liberando a máquina somente mediante pagamento de resgate. Para facilitar o rastreamento, alguns criminosos já exigem que  esse valor seja pago em bitcoin.

Também tem ficado mais comum o uso de botnets para faturar com as moedas virtuais. Os cibercriminosos instalam softwares maliciosos no computador de várias pessoas e, sem que elas saibam, criam uma rede de zumbis (estações controladas remotamente). A partir daí, usam a capacidade de processamento das máquinas para minerar bitcoins e ganhar novas moedas.

“Esses ataques ocorrem de forma convencional, por meio de engenharia social [e-mails com links chamativos, por exemplo], abrindo arquivos desconhecidos em anexo de e-mail ou por algum ataque que explora um programa desatualizado durante a navegação”, explica Fabio Assolini, analista de segurança da Kaspersky. O que muda é o objetivo: ganhar bitcoins, e não mais dinheiro “real”.$escape.getH()uolbr_geraModulos($escape.getQ()embed-lista$escape.getQ(),$escape.getQ()/2014/mais-sobre-bitcoin-1394667402125.vm$escape.getQ())

Comércio ilícito

Com o apelo do anonimato, o bitcoin deu origem a sites de comércio ilícito pagos com essa moeda. Um dos mais famosos é o Silk Road, que rodava no navegador Tor, oferecendo drogas como metanfetamina e heroína. A cada compra efetuada com a moeda virtual, o site ganhava uma comissão também em bitcoins.

Em 2013, o FBI (polícia federal norte-americana) prendeu Ross William Ulbricht, 29, sob suspeita de gerenciar a página. Além de fechá-la, a polícia apreendeu mais de 150 mil BTC (bitcoins) – o equivalente a US$ 100 milhões na cotação de março de 2013.

De acordo com Assolini, da Kaspersky, a polícia chegou até Ulbricht por meio de uma falha no Tor. “O FBI usou uma brecha do navegador Firefox, que serve como base para o Tor, e conseguiu identificar o operador”, afirmou.

O caso ainda voltou a ganhar fôlego no início de 2014. Na ocasião, o empresário Charlie Shrem, 24, foi acusado de lavar dinheiro ao comprar bitcoins e vender a moeda virtual para usuários do Silk Road.$escape.getH()uolbr_geraModulos($escape.getQ()embed-foto$escape.getQ(),$escape.getQ()/2014/17mar2014---empresario-americano-charlie-shrem-deixa-corte-de-manhattan-em-nova-york-nos-estados-unidos-shrem-e-acusado-de-lavar-dinheiro-com-bitcoins-e-de-vender-a-moeda-para-consumidores-do-site-1395075221928.vm$escape.getQ())

Assassinato pago por bitcoin

Outra iniciativa criminosa, segundo o site “DailyBest”, é o site “Hitman Network”. Acessível apenas pelo navegador Tor, a página oferece serviços de assassinos de aluguel pagos apenas com bitcoin. De acordo com a página, a única condição para os executores realizarem os serviços é que as vítimas sejam maiores de 16 anos e que não sejam políticos famosos.$escape.getH()uolbr_geraModulos($escape.getQ()embed-foto$escape.getQ(),$escape.getQ()/2014/site-hitman-network-aceita-apenas-bitcoins-e-promete-assassinar-pessoas-sob-encomenda-1395074607992.vm$escape.getQ())

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