Topo

Navegação web gratuita nas ruas de Nova York esbarra na pornografia

Sem teto usa um terminal LinkNYC em Nova York, EUA; quiosques Wi-Fi oferecem navegação na web de graça, chamadas telefônicas e uma estação de carregamento de celular - Spencer Platt/Getty Images/AFP
Sem teto usa um terminal LinkNYC em Nova York, EUA; quiosques Wi-Fi oferecem navegação na web de graça, chamadas telefônicas e uma estação de carregamento de celular Imagem: Spencer Platt/Getty Images/AFP

Joshua Brustein

15/09/2016 14h19

A experiência de Nova York para que as pessoas possam navegar na internet em terminais públicos nas ruas da cidade chegou ao fim, pelo menos por enquanto. Na quarta-feira, a operadora dos terminais anunciou que removerá os recursos de navegação online porque as pessoas estavam monopolizando os quiosques e usando-os para acessar conteúdos inadequados para exibição pública.

Esse revés ilustra o quanto é difícil criar uma nova forma de infraestrutura digital de administração privada na maior cidade dos EUA.

O projeto, conhecido como LinkNYC, foi iniciado há quatro anos, quando a prefeitura da cidade solicitou propostas para recriar seus telefones públicos. Como a demanda caiu, muitos dos telefones foram removidos. As estruturas restantes serviam principalmente como lugares para urinar com certa discrição.

As cabines telefônicas ainda tinham suas virtudes. De vez em quando, por exemplo, elas serviam como pontos para a troca de livros. Mais precisamente, elas forneciam quase US$ 20 milhões em receita anual à cidade, principalmente pela exibição de propagandas publicitárias. As autoridades queriam substitui-las com algo que prestasse um serviço mais relevante e um fluxo de receita constante. Após uma competição aberta, a prefeitura assinou um contrato de longo prazo com a CityBridge, um consórcio de empresas encabeçado pela Sidewalk Labs, startup pertencente à Alphabet e dirigida por Dan Doctoroff, ex-CEO da Bloomberg LP.

A CityBridge começou a construir estruturas altas e finas que emitiriam sinais gratuitos de wi-fi, para que mesmo quem não tivesse um tostão pudesse fazer ligações e carregar aparelhos móveis e, além disso, elas conteriam tablets embutidos para navegar pela internet. As cabines Link também exibiriam propagandas, e a CityBridge prometeu dividir pelo menos US$ 500 milhões em receita com a prefeitura durante os 12 anos seguintes.

Os primeiros quiosques começaram a funcionar em janeiro. Existem cerca de 400 terminais LinkNYC na cidade, e a CityBridge informou que mais de 475.00 pessoas se inscreveram para utilizá-los. Mas ficou evidente que a CityBridge não estava completamente preparada para os possíveis obstáculos. Sem-teto começaram a passar tempo perto das cabines, às vezes horas, às vezes munidos de suas próprias cadeiras. Esse comportamento não viola nenhuma lei municipal, então não havia muito a fazer. As pessoas também começaram a escutar música a todo volume à noite nas cabines e a incomodar quem mora nas redondezas. A CityBridge tentou combater esses problemas limitando o volume dos quiosques e reduzindo a luminosidade das telas à noite.

E também havia a questão da obscenidade. Não demorou para que as pessoas percebessem que podiam usar os tablets para ver pornografia, para a alegria do New York Post. "Homens sem-teto excitados usam wi-fi na Times Square para ver pornografia" foi uma das manchetes de junho.

Nas próximas 48 horas, a CityBridge desativará os navegadores em todas as cabines. Os recursos para ligação telefônica, wi-fi e mapas não serão afetados. Jen Hensley, gerente-geral do LinkNYC, disse que o projeto pretende reativar a navegação web quando descobrir como instalar limites de tempo eficazes para o uso. Ela disse que também será necessário fazer algo para filtrar os conteúdos, mas não há um caminho claro para chegar a uma solução. "A internet é um lugar enorme que está sempre mudando e, francamente, é difícil, senão impossível, ter o controle sobre todos os conteúdos inadequados", disse ela.