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Após venda bilionária, onde estão os fundadores da 99?

Renato Freitas e Ariel Lambrecht (os dois na direita), cofundadores da 99 - Divulgação
Renato Freitas e Ariel Lambrecht (os dois na direita), cofundadores da 99 Imagem: Divulgação

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

11/04/2018 04h00

A 99 agitou o mercado de tecnologia nacional nos primeiros dias de 2018, com a notícia de que havia se tornado o primeiro “unicórnio” brasileiro. Vendida à chinesa Didi Chuxing, a startup nacional alcançou valor de mercado de US$ 1 bilhão, um evento inédito para o país até então. A venda, no entanto, significou a saída dos três cofundadores da empresa, Ariel Lambrecht, Paulo Veras e Renato Freitas.

O trio trabalhou junto por quase seis anos, superando eventos complicados como a concorrência da Uber e a recessão da economia brasileira, liderando uma empresa que se manteve competitiva a ponto de atrair o investimento bilionário da Didi, que, antes de adquirir a 99, injetou US$ 100 milhões na startup no começo de 2017.

Durante esses cinco anos, a gente teve muitos altos e baixos. Se tem um motivo para ter conseguido virar unicórnio foi que nos momentos de baixa a gente precisava se virar mesmo sem dinheiro e conseguimos sair desse período mais fortes

Renato Freitas, cofundador da 99

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“Em 2016 a Uber tinha entrado no Brasil, estava indo muito bem, com grande parte das corridas de carro, e a gente estava tentando um aporte, sem consegui-lo, sem que investissem na gente. A gente se adaptou, mudou, juntou o que tinha e falou ‘vamos fazer o necessário para seguir adiante’. Saímos mais fortes, lançamos o 99 pop e conseguimos virar o jogo, a ponto da Didi investir na gente e depois de novo a Didi decidir comprar toda operação”, completou.

Pouco mais de três meses depois da venda, os “pais” do unicórnio começam a mostrar seus próximos passos. Mais veterano do grupo, Paulo Veras mostra orgulho de sua passagem e conquistas como cofundador e ex-executivo-chefe da 99, o que fica claro em seu perfil no LinkedIn. Membro independente do conselho da B2W, empresa de ecommerce proprietária do Submarino e Americanas.com, Veras preferiu não divulgar seus rumos pós-99 em contato com o UOL.

Ariel e Renato, por sua vez, já se aventuram em um novo desafio no cenário nacional de startups. Ao lado de Eduardo Musa, antigo dono da Caloi, os engenheiros fundaram a Yellow, empresa de compartilhamento de bicicletas que se diferencia daquelas que ficam em estações fixas nas ruas. No caso da Yellow, o sistema adotado é o de “redistribuição livre”, dispensando locais de devolução das bikes, que podem ser deixadas no ponto final de viagem – seja onde ele for.

O desejo de buscar novos ares, entretanto, já vinha nos últimos meses de 99, antes mesmo da aquisição da Didi Chuxing. “A gente estava em um processo meio se afastando antes da venda. A 99 cresceu bastante e a empresa estava se ‘profissionalizando’, as diretorias estavam bastante grandes”, explicou Renato. “Fica difícil de encaixar gente como eu e o Ariel, mais empreendedor, que não tem tanta experiência de gestão e gosta mais de tirar o negócio do zero. A gente já estava meio sem uma área de expertise. Estávamos cuidando mais de cultura, coisas que fundador consegue cuidar melhor que gestor.”

Interface do aplicativo da Yellow, com valor fictício - Divulgação - Divulgação
Interface do aplicativo da Yellow, com valor fictício
Imagem: Divulgação

Os próximos passos

Apresentados ao projeto da Yellow pela Monashees, empresa de investimentos brasileira, Ariel e Renato gostaram muito da ideia, afinal presenciaram como a bicicleta servia para escapar do trânsito em locais como a Vila Olímpia, região empresarial de São Paulo próxima a uma das sedes da 99. O interesse surgiu por uma das paixões da dupla: solução de problemas grandes.

“A gente é apaixonado por problemas grandes e difíceis. Mobilidade é um dos maiores problemas de cidades grandes como São Paulo, Rio de Janeiro, então é um assunto que interessa bastante para gente, não por ser mobilidade, por ser um grande problema difícil que impacta na vida das pessoas”, analisou Renato.

Sem ter a intenção em mexer exatamente com mobilidade urbana, os cofundadores da 99 apostam agora em outra solução para deslocamentos dentro das grandes cidades, em um modelo inédito no Brasil. O compartilhamento de bicicletas com redistribuição livre já é adotado em países europeus e na China, onde houve casos de sucesso e fracasso. Ariel garante que a Yellow estudou os exemplos do exterior para a criação de um bom serviço.

A primeira coisa que falam é ‘vocês são loucos, vão desaparecer todas essas bicicletas’. A gente estuda bastante o que conheceu lá fora, em outros mercados. Se prestarmos um bom serviço à sociedade, ninguém vai depredar a bicicleta

Freitas

Para isso, Ariel, Renato e Eduardo Musa juntam seus históricos de carreira a fim de desenvolver um produto redondo em todos os sentidos. Ariel destaca que a tecnologia vem em primeiro lugar, seguido da infraestrutura das bicicletas, que terão GPS embutido, pneu sólido, rodas proprietárias (que não encaixam em outras bikes e prometem inibir roubos), selim que que não dá para arrancar e uma estrutura de aço, sem valor de revenda no ferro-velho.

Bicicleta da Yellow em uso - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

“Vamos trazer muito conhecimento da nossa experiência da 99 para Yellow. O Musa traz conhecimento da indústria, é um apaixonado por bicicleta. Um conjunto de habilidade e experiências na Yellow que é bastante legal. Se tem um time para fazer esse negócio dar certo em São Paulo, nós temos bastante confiança que é a gente”, concluiu Renato.

A Yellow começará a operar em São Paulo a partir de julho, com plano de introduzir 20 mil bicicletas na cidade inicialmente. O projeto é aumentar a frota para 100 mil e servir toda a capital, inclusive a periferia.

Valores das viagens ainda não foram definidos, porém a empresa planeja oferecer um preço inferior ao de uma passagem de transporte público, que em São Paulo é atualmente de R$ 4,00 para ônibus e metrô. Formas de pagamento também não estão certas, mas a Yellow quer ser o mais inclusiva possível em acessibilidade de pagamento, desde cartões como o Bilhete Único, cartões de crédito e até parcerias com operadoras de telefonias.

A expectativa é de sucesso, dado o retrospecto do trio que está no comando da Yellow, mas será ela capaz de chegar perto do feito da 99, ou seja, se aproximar de um valor de mercado de US$ 1 bilhão? Vem um novo unicórnio por aí? A meta parece distante, mas a chinesa Mobike mostra que é possível - e em pouco tempo. Fundada em janeiro de 2015, a empresa foi comprada no último dia 4 de abril por US$ 2,7 bilhões pela também chinesa Meituan-Dianping.